EM TEMPOS DE CARESTIA

Custo da cesta básica sobe 3,6% e passa para R$ 754 em Campinas

Garantir alimentação mínima vem sendo tarefa hercúlea para muitos brasileiros

Ronnie Romanini/ [email protected]
19/01/2023 às 08:48.
Atualizado em 19/01/2023 às 08:49
Mulher observa a variação de preços do tomate em banca: entre 17 capitais , a cesta básica em Campinas é a quarta mais cara, atrás apenas de São Paulo, Florianópolis e Porto Alegre (Rodrigo Zanotto)

Mulher observa a variação de preços do tomate em banca: entre 17 capitais , a cesta básica em Campinas é a quarta mais cara, atrás apenas de São Paulo, Florianópolis e Porto Alegre (Rodrigo Zanotto)

O tomate, mais uma vez, aparece como vilão e destaque negativo em relação à variação de preços dos alimentos. O custo da Cesta Básica em Campinas aumentou 3,6% em dezembro em relação a novembro de 2022, passando para R$ 754,00, de acordo com o levantamento realizado pelo Observatório PUC-Campinas. Garantir a alimentação para uma família com dois adultos e duas crianças vem sendo uma tarefa hercúlea para os brasileiros, porque, segundo cálculos do grupo de pesquisa econômica, seria necessário um salário mínimo de R$ 2.262,00. 

No entanto, a realidade é a de que o custo da cesta básica hoje responde por 62% do salário mínimo vigente em dezembro, de R$ 1.212,00.

Dos 13 itens considerados básicos para a alimentação, 10 registraram alta, sendo que o tomate em dezembro ficou 13% mais caro, a maior oscilação de um produto da cesta. Produtos como banana (0,6%), óleo (0,9%), batata (1%) e café (1,3%) subiram mais timidamente, mas os demais tiveram majoração acima de 3%: farinha (3,1%), arroz (3,4%), carne (3,6%), pão francês (4,6%) e feijão (5,7%).

Três produtos registraram queda no preço. Em dois, a oscilação foi mínima: o açúcar - queda de 0,1% - e a manteiga (0,4%). Apenas o custo do leite caiu de forma relevante, em 4,5%.

O preço do tomate, considerando-se os 9 quilos necessários para uma pessoa em um mês, atingiu R$ 89,27 em dezembro. A título de comparação, na análise do mês de setembro, a primeira realizada pelo Observatório PUC-Campinas, o valor dos nove quilos era de R$ 47,43, quase metade do registrado no mês passado.

Em setembro, o custo da Cesta Básica era de R$ 688,67 e o salário mínimo necessário deveria ser de R$ 2.066,01. Em outubro, a alta foi de 1,78% (R$ 712,12 e R$ 2.136,37) e em novembro, de 2,18% (R$ 727,66 e R$ 2.182,98). Dezembro, portanto, apresenta maior elevação percentual de um mês para outro. No acumulado de setembro a dezembro, o estudo apontou que a elevação total foi de 9,49%, o equivalente a uma variação média mensal de 3,07%.

Comparação com outras capitais

O Observatório PUC-Campinas divulgou a comparação com o custo da cesta básica em dezembro em 17 capitais. Atualmente, Campinas é a quarta colocada com o maior custo, atrás apenas das cidades de São Paulo-SP (R$ 791), Florianópolis-SC (R$ 769) e Porto Alegre-RS (R$ 766). Desde o início do levantamento, o município subiu duas posições e ultrapassou Campo Grande (MS) e Rio de Janeiro (RJ).

Em mais uma comparação com os mesmos municípios, apenas Fortaleza (CE) apresentou uma variação maior sobre o mês anterior, 3,7%. Campinas aparece logo atrás, ao lado de Salvador (BA), com 3,6% de oscilação. 

Nas capitais do Sul do país (Florianópolis-SC, Curitiba-PR e Porto Alegre-RS), houve variação negativa. Os preços foram coletados em 28 estabelecimentos de Campinas entre os dias 12 e 19 de dezembro de 2022.

Responsável pelo levantamento, o economista do Observatório PUC-Campinas, Pedro de Miranda Costa, explicou que a cidade está em uma posição esperada, considerando-se a renda per capita campineira, mas o ritmo de crescimento no custo está acelerado. "Nos primeiros levantamentos, Campinas se situava no bloco intermediário - o que avalio como bem coerente -, mas ela tem, na média, aumentado mais do que as demais. Continua um pouco inferior à cidade de São Paulo, que avalio como uma referência importante, porém, está crescendo em uma velocidade maior que São Paulo".

Mercadão

Patrimônio histórico e cultural da cidade de Campinas, o Mercado Municipal é uma tradicional alternativa aos que buscam por produtos com um preço mais em conta. Alguns dos consumidores relataram que busca até comparam os preços, mas que, invariavelmente, alguns produtos acabam sendo adquiridos em menor quantidade.

"A gente gosta muito de tomate, mas acabei comprando menos porque ele subiu muito. Aliás, vários produtos estão mais caros. O meu marido disse que o feijão também subiu de maneira absurda. Legumes, verduras, tudo. Antes, eu comprava bastante, mas agora diminuí", desabafou a diarista Teresa Gamero, de 62 anos.

Ela estava acompanhada da também diarista, Maria da Silva, de 66, que comprou apenas três tomates. "Compro apenas de vez em quando. Ontem, passei no mercado perto da minha casa e estava R$ 11,00 o quilo. Vim trabalhar aqui perto hoje, passei no Mercadão e vi que o preço está melhor e com diferença de banca para banca, então estou levando três. Agora, o alface... sem chance!".

Colaborador em um box do Mercadão para entrega, descarga e reposição dos produtos, Marcos de Castro, de 40 anos, lamentou a situação econômica pela qual o país passa. “Hoje em dia, você vai ao mercado e não compra mais o que gostaria. Tudo está caro e o que ganho é pouco. Creio que a solução é aumentar o salário, mas sem que isso provoque mais aumentos de preços."

Na análise do responsável pela pesquisa, o reajuste do salário mínimo para 2023, de cerca de 7,4%, passando de R$ 1.212,00 para R$ 1.302,00, perderia rapidamente o efeito esperado frente a o ritmo atual de crescimento no preço dos produtos. “Há um aumento para repor as perdas, mas a elevação dos preços, neste ritmo, é preocupante", finalizou o economista.

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