Cansados de isolamento social e quarentena, população se aglomera em frente a loja no centro: especialista alerta para risco de contágio (Kamá Ribeiro/ Correio Popular)
Especialistas alertaram ontem para a necessidade de manutenção dos cuidados pessoais como forma de prevenir o corona vírus. O uso de máscaras e de produtos higienizadores não devem ser relegados. Embora ainda não tenha sido confirmada pelas autoridades sanitárias do município, a reinfecção é uma possibilidade e uma ameaça. Laboratórios da cidade estudam para saber o real impacto que podem causar sobre a taxa de transmissão da covid e controle da pandemia.
No momento em que o Estado e o município começam a flexibilizar as medidas de isolamento, com a abertura do comércio e a possibilidade das pessoas circularem e irem às compras, especialistas alertam para a chance da transmissão retomar patamares elevados como os observados no início do mês de março, considerado o mais devastador desde o início da pandemia.
O alerta quem faz é o pesquisador do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), José Luiz Proença Módena. Ele é autor de um estudo sobre a variante de Manaus (P.1) que repercutiu internacionalmente, e coordena também o Laboratório de Estudos de Vírus Emergentes, que pesquisa a confirmação dos primeiros casos de reinfecção pelo coronavírus registrados na cidade.
Segundo ele, diante de um cenário de desrespeito às medidas que visam conter a transmissão, e que em muitos casos ocorre por uma necessidade de subsistência, de alta densidade populacional e a grande diversidade de pessoas com antecedente genético e condições de vida diferentes, a circulação do vírus acaba favorecida.
"O momento ainda é muito delicado, e o ideal seria ao invés da flexibilização das medidas, uma manutenção das restrições de circulação. Diante do cenário que temos, o momento requer que todas as medidas, sejam elas farmacológicas ou não, sejam redobradas. Sou totalmente favorável que o lockdown seja adotado de imediato no país todo, além de uma aceleração do programa de vacinação em massa", disse.
O posicionamento do especialista se baseia no estudo, ainda com resultados preliminares, que apontam para a reinfecção pelo coronavírus por parte de pessoas que haviam se recuperado da doença.
A nova contaminação, segundo ele, pode ocorrer pela variante de Manaus ou por outras que acabam surgindo. Ele explica que a reinfecção é possível devido aos anticorpos presentes no plasma sanguíneo de pessoas que já tiveram covid-19 e se recuperaram, serem cerca de seis vezes menos eficientes para neutralizar a variante de Manaus, em comparação com a chamada linhagem B, que circulou pelo país nos primeiros meses da pandemia.
"Se essa reinfecção será capaz de desenvolver a doença grave nas pessoas, não é possível saber, mas é fato que pessoas reinfectadas voltam a transmitir esse vírus para quem nunca se infectou e isso é muito preocupante", disse. O primeiro caso de reinfecção confirmado no Estado ocorreu em dezembro, quando uma paciente mulher se reinfectou 145 dias após ter sido diagnosticada com a covid-19, em junho de 2020.
Segundo Módena, o estudo também relaciona a reinfecção pelo vírus em pessoas já imunizadas pelas vacinas usadas na campanha nacional. "O plasma de indivíduos que receberam a segunda dose da Coronavac, passados cerca de cinco meses, também apresenta baixa quantidade de anticorpos neutralizantes contra a variante P 1 e também contra a linhagem B. Esse fenômeno ocorre também com outras vacinas, fazendo com que alguns vírus continuem circulando mesmo após uma população ser imunizada", afirma.
O especialista faz questão de ressaltar que em hipótese alguma, o estudo sugere que a vacina não funciona. No entanto, para ele, acende o sinal de alerta para a condução das políticas de controle da pandemia e a possibilidade de adaptação das vacinas existentes, como por exemplo, para a P.1. Mas esse processo de reformulação depende de como a vacina é fabricada.