Cuidado com a boneca da morte!

O acesso de crianças e adolescentes à internet e as redes sociais está em alta. É cada vez mais difícil encontrar jovens que nunca tiveram acesso a um celular ou a um computador. Essa acessibilidade toda traz inúmeros benefícios, como a proximidade entre pessoas e a melhora no rendimento escolar. Entretanto, este imenso mundo digital também esconde perigos que podem levar muitas crianças e jovens a cometerem suicídio. Um desses perigos atuais é o jogo da “Boneca Momo”, uma febre entre crianças e adolescentes. O game possui um mecanismo semelhante ao jogo da “Baleia Azul”, que já fez diversos jovens se suicidarem em todo o mundo desde 2016. Os dois jogos funcionam de uma forma bem simples: as crianças, quase sempre com problemas emocionais, se conectam com organizadores nas redes sociais e pedem para participar do jogo. Os malfeitores se utilizam do anonimato e fazem uma grande pressão psicológica para obrigá-las a cumprir uma série de desafios — no último deles, elas são levadas ao suicídio. Os criminosos utilizam o Facebook e o WhatsApp para conversar com os indefesos, por meio de contas, muitas vezes indecifráveis. Pelas redes sociais, eles fazem uso de um perfil com uma imagem assustadora de uma escultura japonesa, a “Boneca Momo”. Além dos casos de suicídios, há relatos, em todo mundo, de crianças que foram pressionadas a passar uma série de dados pessoais aos criminosos, que também compartilham — sem nenhum pudor — inúmeras mensagens violentas e fotos de pessoas feridas e mortas com os menores de idade. Para Raíssa Serpa, psicóloga da empresa Hapvida, a facilidade com a qual os jovens acessam esses jogos perigosos, sem que os pais percebam, chama atenção. “O questionamento que temos que fazer sobre jogos como a Baleia Azul e a Boneca Momo não é sobre a existência do jogo em si. Mas sim, buscar entender o motivo que leva diversos jovens a se identificarem com esses jogos, ao ponto de buscarem o contato com esses games altamente nocivos”, Para ela, a resposta está na baixa autoestima. “Muitos jovens não se sentem pertencidos a nenhum grupo social. Não possuem amigos, se sentem inseguros para interagir com outras pessoas e acabam encontrando ali uma forma de se sentirem pertencidos, porque lá estão imunes a qualquer tipo de frustração”, avaliou especialista. Por conta da popularização deste game, diversas escolas e órgãos de segurança têm alertado os pais a estreitarem vínculos com seus filhos para que evitem esse nível de envolvimento nas redes. Segundo Raíssa, é essencial que a família e a escola estejam atentas aos sinais de sofrimento psíquico dos jovens. Para ela, os pais não podem deixar de acompanhar o conteúdo que seus filhos adolescentes acessam na web. “Essa fase da vida é marcada por muitos conflitos e angústias, pois as características de personalidade e sexualidade estão em construção. Nesse sentido, é importante que os pais fiquem de olho e conversem com seus filhos. Uma criança dificilmente vai contar seus sofrimentos internos para um pai ou para uma mãe, porque eles têm medo (inconsciente) de quebrar as expectativas que lhes são depositadas desde pequeno. Um jogo não pode ser acessado por nenhum tipo de crianças. Não é saudável”, explicou a psicóloga. Casos recentes Na última segunda-feira, dia 10 de setembro, uma adolescente de 13 anos quase cortou o próprio pulso, em Jaboatão dos Guararapes, em Pernambuco. De acordo com a Delegacia de Polícia de Crimes Contra a Criança e Adolescentes e Atos Infracionais, a vítima recebeu uma solicitação de amizade no Facebook, no início do mês de setembro, de um perfil com a foto da “Boneca Momo”. Nas conversas, o criminoso mandava a jovem se machucar, caso quisesse ver sua família viva. No momento em que a menina ia se ferir, sua mãe, que estava em casa, percebeu o ato e a impediu de se automutilar. Os investigadores não descartaram a hipótese de que o responsável pelas ameaças seja um conhecido da adolescente, já que a localidade indicada nesse perfil da Momo é do mesmo Estado, onde já foi registrado outro caso semelhante, em agosto deste ano. Na ocasião, um menino de 9 anos, foi encontrado morto depois de se enforcar no quintal de sua casa. O caso aconteceu em Recife e a mãe do menino disse acreditar que ele tenha feito isso por influência de desafios que circulam na internet. A Polícia Civil não descartou a hipótese de que o crime tenha sido motivado por jogos como a Baleia Azul e a Boneca Momo. No caso da adolescente de Jaboatão dos Guararapes, cidade que fica a 21km da capital pernambucana, o perfil com quem ela conversava tem na lista de amigos várias pessoas com idades próximas à dela e que moram em outras partes do Brasil.