VERIFICAÇÃO DE IMUNIZANTES

CTNBio faz análise 'ágil, mas rigorosa', diz Barroso

Presidente do órgão, que é pesquisador da Embrapa em Campinas, diz que cuidado é com análise científica da segurança das vacinas

Erick Julio/ Correio Popular
19/04/2021 às 16:47.
Atualizado em 21/03/2022 às 22:06
Moradora de Valinhos toma a vacina contra a covid; cidade, em parceria com Vinhedo, quer comprar a Sputink V direto do fabricante russo (Ricardo Lima/ Correio Popular)

Moradora de Valinhos toma a vacina contra a covid; cidade, em parceria com Vinhedo, quer comprar a Sputink V direto do fabricante russo (Ricardo Lima/ Correio Popular)

Um ano após o início da pandemia de covid-19, a crise sanitária no Brasil dá sinais de estar longe do fim. Com os números de casos e mortes crescendo a cada dia, os brasileiros ainda não podem ter expectativa de voltar à mesma vida de antes do vírus se espalhar. Até ontem, o país registrava 353.293 óbitos, com uma média móvel de mortes acima de 3 mil por dia.

Neste trágico contexto, as vacinas contra a covid-19 constituem a melhor forma de evitar mais mortes e de reduzir o numero de pessoas infectadas pelo vírus. A vacinação no Brasil, no entanto, ainda está lenta. Segundo o consórcio de veículos de imprensa, 23 milhões de brasileiros receberam a primeira dose e pouco mais de 7 milhões tomaram as duas doses de um dos imunizantes, em um país cuja população é de 212 milhões, segundo projeção do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O Governo Federal atribui a vacinação lenta à falta de doses no país. Por isso, governos estaduais e municipais buscam de forma direta a compra de mais imunizantes. Valinhos e Vinhedo, por exemplo, se uniram para fazer a compra da vacina Sputinik V diretamente com o governo russo, por meio do Centro Nacional de Pesquisa em Epidemiologia e Microbiologia Gamaleya, conforme publicou o Correio Popular na sexta-feira (9).

O imunizante está em processo de análise na Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), instância colegiada vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). A comissão presta apoio técnico consultivo e de assessoramento ao Governo Federal na formulação, atualização e implementação da Política Nacional de Biossegurança relativa aos organismos geneticamente modificados, popularmente conhecidos como transgênicos.

O presidente da CTNBio, o pesquisador da Embrapa Territorial Paulo Augusto Vianna Barroso, revela que a empresa União Química, que pretende fabricar a vacina Sputinik V no Brasil, entrou com o pedido de aprovação na última sexta-feira. Barroso explica que a comissão faz uma "análise científica da segurança" das vacinas. "Temos 54 cientistas, todos doutores, que analisam os possíveis efeitos colaterais demonstrados e se pode ocorrer alguma alteração na pessoa que tomou o imunizante", explica.

O CTNBio, acrescenta, não avalia se a vacina é boa ou ruim ou se a fábrica é ou não capaz de produzir. "Isso é um trabalho da Anvisa", pontua Barroso. Segundo ele, algumas vacinas são desenvolvidas a partir de alterações no código genético da proteína presente no vírus. O presidente, que completará um ano à frente do CTNBio no próximo dia 19, revela ainda que o processo de análise da Sputinik V deve ser concluído até o início da próxima semana. De acordo com ele, o órgão "tem feito um enorme esforço" para agilizar as análises de vacinas contra a covid-19.

"Nós já recebemos todos os documentos necessários para a avaliação. Nesse processo, caso falte algo, a gente entra em contato com o solicitante para complementar as informações. Dentro da CTNBio nós nomeamos quatros cientistas que ficam responsáveis por fazer uma análise profunda de tudo que foi apresentado para elaborar um parecer. A gente debate esse parecer, opina e vota se é segura ou não", detalha o presidente.

Desde o início da pandemia, a CTNBio precisou analisar a segurança de outras duas vacinas, que envolveram um trabalho de modificação genética, a da AstraZeneca e a da Janssen, que foram aprovadas por unanimidade na comissão. Barroso conta que o processo de análise do imunizante da Janssen foi concluído em oito dias. "A vacina é algo muito importante para o povo brasileiro e, por isso, temos feito esse trabalho da maneira mais ágil possível. É importante ressaltar, no entanto, que apesar desse tempo reduzidíssimo, a gente não baixou o rigor da análise", esclarece.

Ao longo da pandemia no Brasil, a comissão foi responsável ainda por certificar 40 instalações de instituições de pesquisa e saúde para que fossem permitidas a realização de pesquisas e de testes de vacinas. De acordo com Barroso, em Campinas, a CTNBio credenciou, por exemplo, a Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que receberam testes clínicos de imunizantes.

Para o presidente da CTNBio, é fundamental que a população confie na segurança das vacinas. Barroso fez questão ainda de destacar a importância do trabalho da CTNBio. "Sempre houve um forte debate a respeito da transgenia e acredito que as vacinas vêm mostrar que a técnica não é ruim e que se pode ter confiança, seja na produção de medicamentos ou vacinas. Há muita segurança no processo de análise, pois há cientistas e instituições que se debruçam sobre esse tema para garantir que não haja nenhum problema", finaliza.

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