Tecnologia é inédita no Brasil e reuniu R$ 8 mi em investimentos
Apenas 5 empresas em todo mundo dominam a tecnologia de extrair ouro e metais preciosos do e-lixo (Patrícia Domingos/AAN)
Um laboratório montado dentro do Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI), em Campinas, desenvolve uma tecnologia que permite a remoção de metais preciosos do lixo eletrônico. Pouca gente imagina, mas aparelhos de uso diário — como o telefone celular, o computador e o televisor — possuem em suas placas ouro, prata, cobre e paládio. Quando o equipamento fica obsoleto, simplesmente se joga dinheiro fora. Somente cinco recicladoras gigantescas da Ásia e da Europa dominavam um know how , agora à disposição dos brasileiros. O projeto Rematronic nasceu há quatro anos, e recebeu desde então investimentos da ordem de R$ 8 milhões. Até julho, vai acontecer o lançamento oficial da metodologia, desenvolvida por pesquisadores os setores público e privado. O CTI hoje conta com uma estrutura que permite a moagem das placas, o tratamento químico e bioquímico dos resíduos, identificação e remoção dos metais preciosos. Todas as etapas do processo são executadas por equipamentos de última geração “Trata-se de um dos laboratórios mais modernos do continente”, afirma o engenheiro eletrônico Marcos Pimentel, do centro de tecnologia. E o Rematronic não garante apenas ganhos ambientais: “A remoção dos metais preciosos torna a reciclagem economicamente viável. O processo gera ganhos.” De uma tonelada de lixo industrial, a nova tecnologia pode extrair até 300 gramas de ouro. Parece pouco, mas não é. “Fato é que, do lixo eletrônico, é possível remover cinco vezes mais metais preciosos do que explorando o minério bruto”, resume o especialista. Para o químico José Rocha, outro membro do projeto, o domínio da tecnologia agrega valor aos resíduos eletrônicos. Ele explica que Campinas agora tem a “mineração urbana”: técnicas usadas na extração mineral são adaptadas ao laboratório. Sigilo O programa — que envolve um time respeitável de engenheiros, químicos, físicos e especialistas em hidrometalurgia e biometalurgia — era mantido em segredo. Apesar do CTI ser um órgão financiado basicamente por órgãos públicos, o sigilo industrial passou a ser regra porque envolve dinheiro privado. Uma empresa paulistana, a Gestora de Resíduos Industrial (GRI), investiu na pesquisa, contratando especialistas e bancando despesas. Logicamente, o conglomerado que investiu no programa vai lucrar futuramente com os procedimentos de reciclagem. Mas a parceria também permite que o CTI os compartilhe com órgãos públicos e privados do Brasil inteiro. Foi dada a largada de um processo que será expandido, com a purificação e reaproveitamento dos resíduos, em qualquer setor.