Região Metropolitana foi responsável por uma em cada 19 vagas geradas no Estado de São Paulo
O segmento de serviços liderou a geração de novos empregos na Região Metropolitana, com o saldo positivo de 2.670 vagas; setor teve participação de 71,43% no saldo geral (Alessandro Torres)
Abril foi o quarto mês seguido de saldo positivo na criação de empregos na Região Metropolitana de Campinas (RMC), com o saldo positivo de 3.738 postos gerados. O dado é do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego, com a região sendo responsável por uma em cada 19 vagas surgidas no Estado de São Paulo, que fechou o mês passado com 72.283 novos postos. O desempenho da Grande Campinas foi resultado das 57.443 contrações com carteira assinada ocorridas e 53.705 demissões.
Apesar do resultado positivo, a RMC registrou uma queda de 17,08% na abertura de novos postos em comparação aos 4.508 surgidos em abril de 2024. Para a economista Eliane Navarro Rosandiski, o desempenho ainda é positivo ao se levar em consideração um mercado de trabalho resiliente diante de um quadro macroeconômico hostil em 2025. “Nós estamos diante de um cenário econômico mais adverso. Você tem política protecionista dos Estados Unidos e os juros em alta, que prejudicam o consumo e o investimento”, explicou ela, que também é professora da PUC-Campinas.
O governo norte-americano sobretaxou em 10% os produtos brasileiros, enquanto o Conselho de Política Monetária (Copom) elevou a taxa básica de juros, a Selic, seis vezes desde setembro, passando de 10,5% para 14,75% em maio, a mais alta em 19 anos. Na avaliação da economista, a alta no emprego está sendo mantida pelo consumo interno. “Quando você constrói demanda interna, há um colchão amortecedor diante de uma possível crise. Do ponto de vista macro, a gente atravessa melhor por causa desse mercado”, afirmou Eliane Rosandiski.
NO AZUL
Campinas fechou abril com 2.104 novos empregos, puxando a alta na RMC, e teve o melhor desempenho no interior paulista. A cidade teve uma participação de 56,29% no saldo da Região Metropolitana. No Estado, foi a quarta cidade com o melhor resultado, atrás da Capital, com 17,2 mil vagas; Guarulhos, 3,2 mil; e Barueri, 2,3 mil, de acordo com os dados divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego. A lista dos cinco municípios do Estado foi completada por Sorocaba, com 2 mil.
Em Campinas, o setor de serviços liderou a abertura de vagas, com 1.393 contratações, com o comércio ficando em segundo lugar, 484. Depois apareceram a construção civil (205) e indústria (32). A agropecuária foi o único segmento local onde as demissões superaram as admissões, com o fechamento de 10 postos de trabalho. O resultado do comércio local foi o melhor para o mês desde 2020, ano criação do Novo Caged, segundo o Sindicato do Comércio Varejista de Campinas e Região (SindiVarejista).
Os supermercados lideraram a geração de empregos, 168 vagas, seguidos pelas lojas de produtos alimentícios em geral, 77. De acordo com a presidente do SindiVarejista, Sanae Murayama Saito, o bom desempenho do varejo reflete o comportamento do consumidor, que tem priorizado gastos com itens essenciais mesmo diante de juros altos e inflação persistente. “O aumento da renda familiar e a expansão do crédito, mesmo com custo elevado, sustentam a demanda, especialmente por produtos de consumo imediato.”
REGIÃO
Os serviços também lideraram a geração de novos empregos na RMC, com 2.670 vagas. O setor teve uma participação de 71,43% no saldo geral. É justamente nessa área que o técnico de logística Leonardo Mesquita dos Santos procurou ontem o Feirão de Emprego e Oportunidades, promovido pela Secretaria Municipal de Trabalho e Renda de Campinas, em busca de uma vaga. Ele se mudou de Francisco Morato para a cidade há dois meses e busca uma recolocação. “Minha mulher passou em um concurso e viemos para cá”, explicou.
A Pasta tem outros 25 eventos programados até dezembro, totalizando 37 no ano. A proposta é que eles sejam itinerantes, realizados em diferentes regiões da cidade. “Muitos dos empregos oferecidos ficam em bairros da região onde os feirões são realizados, resultando até em melhor qualidade de vida para as pessoas. Elas não precisam gastar tempo cruzando a cidade para trabalhar”, disse Paulo Andrade.
Estudantes de tecnologia de informação (TI), Nathália Elisa Marinho e João Vitor Honorato participaram do evento em busca do primeiro emprego. “Não está muito fácil, mas a gente tem que ir atrás”, destacou Nathália Marinho, que está no último ano do curso técnico. “Eu quero seguir carreira na área em que estou estudando”, justificou Vitor Honorato.
Uma empresa está com 12 vagas abertas nas áreas de suporte, TI e vendas. As contratações fazem parte do planejamento estratégico de expansão da companhia, que espera faturar R$ 200 milhões este ano.“Nosso crescimento contínuo e nossas perspectivas otimistas para 2025 exigem a ampliação do time para atender à crescente demanda por soluções eficientes. Buscamos profissionais qualificados que queiram crescer conosco e contribuir para a transformação digital dos nossos clientes”, detalhou um dos sócios da empresa, Thiago Spósito.
ACUMULADO
No mês passado, 18 das 20 cidades da Região Metropolitana tiveram alta na criação de vagas. Além de Campinas, as cidades com os maiores saldos foram Indaiatuba (453), Americana (333), Sumaré (327) e Monte Mor (266). Com isso, a RMC registrou o estoque de 1,12 milhão de empregos em abril.
O resultado regional não foi melhor porque Paulínia teve o fechamento de 1.213 postos de trabalho. O desempenho local foi prejudicado pelo setor de construção civil, que demitiu 1.529 trabalhadores. Para a economista Eliane Rosandiski, esse segmento é caracterizado pela sazonalidade, com o término de uma grande obra levando à dispensa dos funcionários.
Jaguariúna foi a outra cidade com o encerramento de vagas (-43). Na cidade, os serviços influenciaram o número, com a demissão de 138 trabalhadores do segmento.
A Grande Campinas teve no acumulado do primeiro quadrimestre a criação de 22.197 vagas de trabalho. O número representou uma queda de 10,63% em comparação às 24.838 de janeiro a abril de 2024. A professora da PUC-Campinas disse que o desempenho é reflexo da política de tentar frear o crescimento econômico, principalmente através da alta dos juros. “A indústria vinha, desde o final do ano passado, em uma alta na criação de emprego, mas agora vem desacelerando. O ano está atribulado desde o início, com o setor agora esperando quais são as estratégias que estão sendo delineadas. Vamos ter que guardar os próximos meses para ter um cenário mais definido.”
Mesmo diante das incertezas, o setor acumulou no primeiro trimestre o saldo positivo de 6.095 vagas criadas na Região Metropolitana, alta de 11% em comparação a igual período do ano passado. Na opinião de Eliane Rosandiski, a política do Banco Central de tentar frear o crescimento econômico através do aumento da Selic não faz sentido. “A gente sabe que tem segmentos que são extremamente afetados, as estratégias individuais, mas quando a gente olha o resultado geral percebe o quanto é significativo você ter esse colchão interno (aumento da demanda)”, argumentou.
“Acho que o nosso país está enfrentando um pouco isso. É claro que esses anúncios de investimentos e a manutenção da criação de empregos são sinais de um segmento da sociedade que continua confiando que a economia não está à beira do precipício. Ao contrário, tem cenários favoráveis”, avaliou Eliane Rosandiski. Entre os indicadores econômicos positivos, ela citou o aumento do Produto Interno Bruto (PIB), inflação sob controle e a queda no desemprego “Não precisa dar um cavalo de pau na economia do jeito que estão fazendo. Forçar esse contingenciamento nesse momento, com o Galípolo (Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central) apontando que não vai reduzir taxa de juros, é dar um cavalo de pau para a economia parar”, analisou.
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