CAMPINAS

Cremação em Campinas é para quem pode pagar

Serviço funerário cobrado pela Setec teve reajuste de 136% em cinco anos

Guilherme Ferraz/ Correio Popular
08/03/2021 às 15:34.
Atualizado em 22/03/2022 às 03:05
Serviço funerário cobrado pela Setec teve reajuste de 136% em cinco anos (Ricardo Lima/ Correio Popular)

Serviço funerário cobrado pela Setec teve reajuste de 136% em cinco anos (Ricardo Lima/ Correio Popular)

Os custos dos serviços do crematório municipal estão pela hora da morte em Campinas. Nos últimos cinco anos, o valor cobrado pelo serviço mais do que dobrou. Os familiares que pretendem cremar um ente querido na cidade terão que desembolsar R$ 3.554 pelo serviço funerário no Crematório Municipal, localizado no Cemitério dos Amarais. Em 2016, o mesmo serviço custava R$ 1.500, ou seja, um aumento de 136,9% em cinco anos.

Com este forte reajuste, o campineiro paga bem mais caro para cumprir o desejo expresso por seus entes queridos de transformar em cinzas as lembranças de toda uma vida, após a morte. Em cidades próximas que também possuem um crematório municipal, seus habitantes sentem bem menos no bolso nesta hora difícil da vida. Em Itatiba, por exemplo, o preço do serviço de cremação é de R$ 2.500 e em Piracicaba R$ 2.340. Ou seja, diferenças de mais de R$ 1.000 por cremação em relação ao cobrado em Campinas.

O economista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Marcio Pochmann, analisou o preço das cremações em Campinas e chamou atenção para a diferença do reajuste em relação à inflação no mesmo período. "Se em 2016 o valor era de R$ 1.500 e agora em 2021 é de R$ 3.554, a diferença de R$ 2.054 representa que houve um aumento de 136,9% na cremação na cidade. Este percentual de reajuste foi de 103,5% acima da inflação do período, que foi de 16,4%", observou.

O especialista também comparou o valor com o crescimento do salário mínimo, da bolsa de valores, e do dólar dos últimos cinco anos. "De 2016 para cá, o salário mínimo subiu 18,17%, a bolsa de valores 91,1% e o dólar 68,9%. Quando comparamos esses valores com o crescimento do preço da cremação em Campinas temos as seguintes diferenças: 99,5% a mais do que o aumento do salário mínimo, 24% em cima da bolsa de valores e 40,3% em relação ao dólar. Isso mostra que nenhum dos aumentos nem chegou perto do reajuste percebido no preço da cremação na cidade", verificou.

Para Pochmann, a segunda metade do mandato do prefeito Jonas Donizette foi marcada pela alta nos tributos. "O Jonas elevou todas as taxas, justamente em um momento que a cidade não estava bem, com desemprego muito alto", declarou.

O cabeleireiro Massayuki Kase cremou o pai em 2016 e pagou os R$ 1.500. Para ele, o aumento percebido atualmente foi abusivo e o valor está se aproximando dos preços cobrados para cremação na capital do estado "Quando meu pai faleceu, eu cheguei a cotar preço nos crematórios de São Paulo, mas aqui era mais barato. Porém agora o valor da cremação já está próximo dos de lá. Aumentou demais em cinco anos. Penso que dois mil reais já estaria muito bem pago. Mesmo porque além da cremação, temos que pagar o caixão e todos os documentos também", afirmou.

Massayuki reclama dos preços dos procedimentos oferecidos pela Serviços Técnicos Gerais (Setec) de Campinas. "Todo serviço realizado pela Setec é uma fortuna. No geral tudo é muito caro. A pessoa de baixa renda não tem como pagar de forma alguma".

Outro lado

Em nota, a Setec informou que quando o Crematório Municipal foi inaugurado em março de 2015, a autarquia fez uma pesquisa de mercado junto aos poucos crematórios existentes na época, inclusive o Crematório da Vila Alpina, em São Paulo. Considerando essa pesquisa e os custos com os insumos necessários para cremação, foi composto um determinado valor. Uma vez estabelecido o valor, passou a compor o roll de preços públicos da Setec, que anualmente são reajustados por índices oficiais.

Segundo a autarquia, ocorre que ao longo do tempo mais crematórios surgiram, aumentando a concorrência e, consequentemente, reduzindo os valores. Em virtude desse fato, a Setec diz que está fazendo um estudo para analisar a possibilidade de redução, estudo esse que será submetido ao Executivo e, sendo aprovado, será reduzido o valor, o que deverá ocorrer em janeiro de 2022, quando os preços cobrados por serviços públicos são publicados no Diário Oficial do Município.

Questionada sobre o aumento do preço da cremação ser muito acima da inflação registrada no mesmo período, a autarquia alegou que os reajustes feitos ao longo dos anos pelos índices oficiais não acompanharam o custo com os insumos e serviços. Para obter equilíbrio financeiro da operação, foi necessário reajustar os valores em patamares maiores que os da inflação.

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