meio ambiente

Creche transforma crianças em protagonistas ambientais em Paulínia

Projeto ‘De Boa na Lagoa’ envolve alunos de até 4 anos e toda a comunidade

Edimarcio A. Monteiro/ [email protected]
06/08/2022 às 09:44.
Atualizado em 06/08/2022 às 09:44
Crianças de 3 e 4 anos de idade da Creche Municipal Antônia Joana Barsi Ferrari, no bairro João Aranha, em Paulínia, pintam os pneus usados para proteger as mudas do jardim (Dominique Torquato)

Crianças de 3 e 4 anos de idade da Creche Municipal Antônia Joana Barsi Ferrari, no bairro João Aranha, em Paulínia, pintam os pneus usados para proteger as mudas do jardim (Dominique Torquato)

Diego, 3 anos, Beatriz, também 3, e Ana Lívia, 4, pintam os pneus que protegem o jardim. Vitor, Laura e Samuel, todos de 3, trabalham com sementes que recolheram no entorno do lago do bairro para fazer quadros que integrarão uma exposição para a comunidade e as famílias. Essas são atividades do projeto de educação ambiental “De Boa na Lagoa” da Creche Municipal Antônia Joana Barsi Ferrari, no bairro João Aranha, em Paulínia. “É muito mais fácil ensinar uma criança a cuidar da natureza, evitar o lixo do que um adulto”, diz a diretora da unidade, Tânia do Amaral Gomes. 

O trabalho com os 86 alunos, que têm de 0 a 4 anos, foi iniciado há um ano e meio, é contínuo e envolve atividades como uso de material reciclável, sustentabilidade, preservação e interação com o meio ambiente, qualidade de vida e outras ações associadas ao projeto pedagógico. Mais do que isso, a ação transformadora que passa pelas mãos dessas crianças tornou-as protagonistas de mudanças na comunidade em que vivem, um bairro de classe média baixa. 

As atividades de educação ambiental também são de cidadania ao atrair a participação dos pais e de outros moradores, que participaram de mutirões para revitalização do entorno da creche, que deixou de ser um ponto de descarte de lixo e afastou usuários de droga que circulavam pelas proximidades. Todas as ações têm o envolvimento e a participação ativa da turminha que ainda usa fralda, chupeta e tem dificuldades para falar. 

Integração

Se os moradores reformaram a calçada e construíram o mural para a instalação da placa de identificação da creche, as crianças fizeram a pintura e usaram a técnica de carimbo de mãos que deram forma a peixes, borboletas, flores e outros desenhos. Os adultos instalaram mesas de piquenique de concreto para incentivar a utilização positiva do lago. Já a decoração com mosaico de tampinhas de garrafas pet ficou a cargo dos pequenos.

Tudo sempre respeitando a capacidade e criatividade dos adultos e das crianças. Não se espera uma obra de arte, mas algo feito com pureza, carinho, dedicação e amor. Esse envolvimento levou o jacaré a se tornar o símbolo da creche. Ele está presente em desenhos e brinquedos feitos pelos alunos com materiais recicláveis. 

Até um réptil de madeira foi montado no parquinho da creche a partir de árvores que caíram às margens do lago. Os adultos cortaram as toras para dar forma, as crianças participaram pintando-as de verde. “Essa parceria entre escola e comunidade é fundamental para o sucesso do projeto”, diz a diretora da creche. 

Prêmios

Todas as atividades são cercadas por noções de equilíbrio do ecossistema. Os alunos aprendem que o lixo jogado na lagoa coloca em risco os peixes e jacarés que ali vivem e passam a cobrar mudanças no comportamento dos pais e de outras pessoas para preservar a fauna e a flora.

Com atividades desse tipo, o trabalho desenvolvido na creche Antônia Ferrari ganhou o mundo. As ações do “De Boa na Lagoa” acabam de obter reconhecimento internacional ao ganharem o prêmio Educação Sustentável para a 1ª Infância, na 74ª Conferência Mundial da Omep World, realizada no período de 12 a 15 de julho, em Atenas, na Grécia. 

A Organização Mundial para Educação Pré-Escolar (Omep) foi criada em 1948 para dar assistência às crianças após a Segunda Guerra Mundial. A iniciativa se tornou um mecanismo de união de diferentes povos para o compartilhamento de informações e a promoção de ações em prol da educação infantil em todo o mundo.

Apesar de existir há pouco tempo, esse é o quarto prêmio do projeto. Ele venceu outros três nacionais, o Histórias que Transformam, Fundação Lemman Conectando Boas Práticas e o Meu Pátio é o Mundo, que o levou a ser o representante da América Latina no Omep. 

O “De Boa na Lagoa” segue a metodologia de aprendizagem solidária adotada há um ano e meio na escola, que é inédita no mundo por ser aplicada na educação infantil, afirma Tânia, que implantou o conceito ao assumir o cargo.

Ela mapeia e analisa projetos nessa área como parte de sua tese de doutorado, que será apresentada em 2024 na Universidade de Extremadura, em Badajoz, na Espanha. “O que existe hoje foi implantando nos ensinos fundamental e médio”, explica. 

Novas fronteiras

No final deste mês, Tânia e as professoras Eloina da Silva e Caroline Ferreira darão aula sobre o “De Boa na Lagoa” no 25º Seminário Internacional de Aprendizagem Solidária, que será realizado em Buenos Aires, ma Argentina. O evento ocorrerá no Centro Latino-Americano de Aprendizagem e Serviço Solidário (Clayss, na sigla em espanhol), que apoia o projeto em Paulínia. 

“Trata-se de um trabalho constante de valorização do espaço que ocupamos, com noções de cidadania, preservação e respeito às pessoas e ao meio ambiente”, afirmam Eloina e Caroline. O seminário terá a participação de professores, gestores e alunos de todos os níveis educacionais, membros e líderes de organizações comunitárias e da sociedade civil. 

O objetivo é o intercâmbio internacional de ideias e experiências entre escolas, institutos de ensino superior, universidades e organizações sociais que desenvolvem projetos educativos solidários. Todas as produções feitas este ano pelos alunos da creche Antônia Ferrari também serão apresentadas em uma exposição que será realizada em setembro ou outubro para as famílias e a comunidade do João Aranha. 

As crianças fizeram ainda ilustrações para um vídeo de conscientização sobre os cuidados com o meio ambiente que será apresentado durante o evento. Tânia explica que já aplicava a aprendizagem solidária na escola onde trabalhava em Limeira, onde ficou por 15 anos, mas com ações voltadas para estudantes portadores de necessidades especiais.

Após ser aprovada em concurso público, transferiu-se para Paulínia. Foi quando o Clayss propôs o desenvolvimento do conceito na área de educação infantil. “Achei que seria um desafio muito difícil por envolver crianças muito pequenas”, conta Tânia. No entanto, ao expor a proposta e conseguir o envolvimento de toda a equipe com o projeto, das serventes aos professores, decidiu tocá-lo em frente. Os resultados já estão sendo colhidos.

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