Alunos com até 4 anos de idade ajudaram a plantar e agora cuidam da preservação das espécies como hortaliças e árvores nativas da Mata Atlântica
A agrofloresta de bolso concentra em um pequeno espaço diferentes espécies de plantas; na CEI Rei Leão, em Vinhedo, os alunos cuidam com carinho de cada uma (: Rodrigo Zanotto)
No Centro de Educação Infantil (CEI) Rei Leão, em Vinhedo, as pequenas mãos dos alunos transformam a paisagem do local e asseguram um futuro mais sustentável para a comunidade escolar. Com o auxílio dos educadores e voluntários, os estudantes plantaram árvores no modelo floresta de bolso, que consiste em espaços de um metro de área, podendo ser redondos ou quadrados. Os exemplares são de espécies distintas, seguindo o princípio de agrofloresta. São cinco núcleos com três tipos de plantas. Todos os 103 alunos matriculados participaram do processo e atuam na manutenção, que consiste em molhar o solo e também arrancar as pragas que crescem no local.
A área onde está localizada a escola era utilizada anteriormente para descarte incorreto de lixo. Por essa razão, os educadores tinham dificuldade em cultivar qualquer espécie de planta no lugar, uma vez que o solo era pobre em nutrientes.
No entanto, a diretora do CEI buscou uma parceria para encontrar formas de levar mais verde para o local. A solução foi implantar um sistema de agrofloresta para recuperar o solo. Além da adubação, foram criados núcleos com vegetais, leguminosas, hortaliças e árvores nativas do bioma Mata Atlântica. O objetivo da iniciativa é ensinar aos pequenos estudantes sobre a importância da preservação ambiental e também mostrar de onde vêm os alimentos presentes nas prateleiras dos supermercados.
Rosângela Grigolleto, bióloga e funcionária da Secretaria de Educação, explicou como foi o processo para implantação desse sistema, que ocorreu há três meses. "A diretora do CEI Rei Leão me procurou, porque a escola já tinha tentado plantar na área várias vezes, mas nunca deu certo. Então, tentamos uma técnica nova", contou. Em razão de o terreno ter sido utilizado para descarte irregular de lixo, havia muito entulho enterrado. Por isso, não tinha como abrir um berço, que é o buraco para colocar as sementes, e plantar algo.
Diante disso, a bióloga pensou em uma nova abordagem. "As mudas não iriam para frente. Então, a gente tinha que fazer alguma coisa diferente. A gente utilizou composto, que é feito a partir dos restos de árvores podadas no município. Também colocamos esterco de galinha e terra vegetal. Primeiro, preparamos o solo e depois viemos com as mudas. Também fizemos a adubação verde, que no caso a gente colocou bananeira no sistema", revelou Rosângela, que também é educadora ambiental. No berço foi colocado, ainda, hidrogel, para que as plantas fiquem constantemente molhadas, mesmo em período de seca.
Encerrados os trabalhos de preparação do solo, teve início o plantio de espécies, como as Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCS), como ora-pro-nóbis, que também devolve nutrientes ao solo, ajudando no processo de recuperação. Também foram plantadas hortaliças, verduras e leguminosas, que servem ao consumo dos alunos da creche, e árvores nativas da Mata Atlântica, cuja presença ajuda a resgatar a cultura da região, para que as crianças conheçam, por exemplo, as frutas naturais do bioma.
"No futuro, as árvores vão gerar muita sombra para escola, produzir frutas e atrair a fauna. Então, vai ter muito passarinho aqui. Queremos trazer a fauna de volta para esse espaço, para que as crianças conheçam esses animais", projetou Rosângela. A educadora ambiental acredita que os pais também vão passar a conhecer novas frutas e animais, visto que os filhos levam esse aprendizado para casa.
Os educadores ficaram surpresos quando as crianças mostraram mais interesse em afundar as mãozinhas na terra e semear, do que nas mudas que foram levadas ao local. A diretora da unidade de ensino, Mileni de Andrade Pulga dos Santos, confirmou que os alunos estão muito envolvidos no processo. "As crianças começaram a plantar, a ter a responsabilidade de cuidar e entenderam o tempo da colheita. Aprenderam que nada acontece rápido, como é no supermercado. É isso que a gente busca, queremos que as crianças tenham contato com a natureza, que a valorizem.
Então, foi por isso que a gente trouxe esse projeto pra cá. Está dando muito certo e as crianças estão gostando bastante", assegurou. A diretora comemorou o fato que esse modelo de cultivo está dando certo. Antes, revelou, as crianças ficavam decepcionadas quando as espécies morriam.
Mileni contou que as crianças ficaram empolgadas com a agrofloresta de bolso e não se esquecem de regá-la. "Elas cuidam, regam, tiram o matinho que está crescendo em volta. Para elas, está sendo um aprendizado muito rico. A valorização do tempo, o cuidado com a natureza e a observação da planta chegando ao estágio de colheita são etapas muito valiosas para elas, em todos os sentidos. Esse contato com a natureza, ainda mais hoje em dia, onde o celular impera na vida das crianças, representa um resgate. Está sendo tudo muito produtivo", considerou a diretora do CEI Rei Leão.
Os alunos estão aprendendo a lição corretamente. Já entenderam que para a plantinha crescer é preciso, além de água e luz, amor e carinho. Gabriella, 2 anos, gosta de comer tomate e de brincar de fazer 'papá' quando está no espaço. Com muita imaginação e panelinhas de brinquedos, ela 'cozinha' os matinhos. "Eu fico fazendo o papá. É legal". Segundo a garotinha, se não regar a plantinha, ela morre.
Já Eloá, 2 anos, prefere as cenouras. "Eu molho as plantinhas". Yohanna, 2 anos, disse que, além de molhar as plantas da escola, também rega as plantinhas que tem em casa. "Eu gosto de banana". O manjericão é uma unanimidade. As três amigas revelaram com entusiasmo que gostam de colocar a erva no macarrão. Por fim, Yasmin revelou um "segredo" para deixar a plantação bonita e bem grande. "Eu jogo a água lá do alto e ela vai cair na planta".
A coordenadora do CEI Rei Leão, Elaine Cristina Martins da Silva, destacou outra ação desenvolvida na unidade escolar com o objetivo de promover a sustentabilidade. "O parque e os brinquedos que oferecemos para os alunos são de madeira. Isso é para que eles fiquem próximos dos elementos da natureza. Eles brincam com sementes e terra também. No calor, brincam com água. Queremos proporcionar esse contato com a natureza e minimizar o consumo de plástico e brinquedos industrializados".
Além disso, para ensinar as crianças a reaproveitar os materiais e produzir menos lixo, a escola recebe potes que não têm mais utilidade para os pais e os transforma em brinquedos. "Todas essas iniciativas têm o objetivo de criar essa educação ambiental e estimular a adoção de hábitos saudáveis de alimentação", concluiu