PROTESTOS

CPI "chapa-branca" divide base de Jonas na Câmara

Investigação "controlada" pode ser tiro no pé, avaliam aliados

02/07/2013 às 07:46.
Atualizado em 25/04/2022 às 10:12

Bruna Mozer

Milene Moreto

A proposta de criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Transportes, de iniciativa dos vereadores aliados ao governo, está dividindo a base governista. Alguns parlamentares avaliam que a criação de uma CPI comandada por pessoas ligadas ao prefeito Jonas Donizette (PSB) pode trazer mais desgaste e aumentar a pressão nas ruas. Por isso, alguns sinalizam apoiar a CPI proposta pelo vereador da oposição Paulo Bufalo (PSOL), que apresentou denúncias contra o sistema de transporte público no começo do ano, sustentando a abertura de uma comissão. Até agora, ele conseguiu somente cinco assinaturas — para que a comissão seja aberta são necessárias 11. Uma reunião entre Jonas e a base havia sido marcada para ontem, mas foi adiada para hoje. O governo tem se articulado para evitar a abertura de uma comissão e esse deverá ser o principal assunto do encontro.

Nos bastidores do Legislativo, a abertura da CPI articulada pela base já é considerada “chapa-branca” e os parlamentares mais insatisfeitos chegaram a avaliar essa saída como um “tiro no pé”. Apesar disso, ela já teria garantido dos vereadores mais fiéis o número de nomes necessários para que seja aberta a comissão.

A sugestão dessa CPI foi ventilada pela primeira vez na última sexta-feira, após pressão de manifestantes que mantiveram os protestos em frente ao Legislativo. Na semana passada, três passeatas foram feitas com destino à Câmara. Na segunda, houve confronto com a Guarda Municipal; na quarta-feira, cerca de cem manifestantes acompanharam a sessão na tentativa de constranger os vereadores e, na sexta, oito líderes do movimento se acorrentaram na porta da Câmara. Uma caminhada com cerca de 300 pessoas chegou até a Câmara e os manifestantes gritaram os nomes de todos os vereadores que ainda não assinaram a CPI — em que deverá ser feita uma auditoria das planilhas de custo apresentadas pelas empresas de ônibus para rever o valor da passagem em Campinas.

O presidente do Legislativo, Campos Filho (DEM), foi o primeiro a falar publicamente sobre a proposta de uma CPI “estendida” para contrapor o pedido de investigação de Bufalo, que prevê análise do último contrato com as empresas de ônibus, em vigor desde 2006. Campos sugeriu que a comissão seja ampliada para o período do governo da prefeita Izalene Tiene (PT) (2001-2004), quando Bufalo foi líder de governo na Câmara.

Foto: Cedoc/RAC Manifestantes se acorrentaram na porta da Câmara, na última sexta, para pedir CPI dos Transportes Apesar das articulações da base de apoio a Jonas, Bufalo mantém sua afirmação de que não abrirá mão do seu requerimento. Se for aprovado, ele automaticamente assume o posto de presidente da CPI. Os demais cargos passam a ser ocupados por vereadores por meio de um sorteio. “Vou manter. Desde fevereiro a gente vinha articulando isso, apresentando informações para justificar a iniciativa”, disse o vereador do PSOL. Caso contrário, se a comissão articulada pela base for viabilizada, a presidência será assumida por um nome indicado pelo governo.

Partidos

A justificativa dada por parte dos vereadores para não assinar a CPI proposta por Bufalo é que o movimento se transformou em um ato partidário de apoio ao parlamentar e não é mais um ato popular. Isso porque alguns líderes das manifestações são militantes do PSOL e PSTU — apesar de não haver uso de bandeiras. Procurado, Campos não foi encontrado para falar sobre o assunto ontem. Na última sexta-feira, enquanto os manifestantes protestavam em frente ao prédio do Legislativo, ele insinuou em entrevista ao Correio que o movimento havia de tornado partidário. “Isso é coisa de quem não quer tocar (a CPI) adiante. Que bom que nossos militantes estejam tomando iniciativas. O que me parece é que não há compreensão do que está acontecendo pelo País”, disse Bufalo.

Uma das lideranças da Frente Contra o Aumento da Passagem — grupo que tem organizado as mobilizações em Campinas —, Filipe Jordão avalia que a postura dos vereadores é uma tentativa de desqualificar o movimento. “Isso é um erro e uma desonestidade. Até agora os vereadores apresentaram poucos argumentos para não assinar a CPI. E todos são muito frágeis”, disse Jordão, que é filiado ao PSOL. “Essa reivindicação é legítima. Esse problema (do transporte) é antigo e alguns partidos estavam nessa luta antes”, disse.

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