Voluntários distribuem a comida: refeições são preparadas de segunda a sexta-feira por uma equipe de cerca de 20 voluntários que se revezam no apoio desde a manhã (Gustavo Tílio)
Um projeto que começou em um pequeno espaço, distribuindo cerca de 200 refeições por dia, hoje atinge a marca de 450 marmitas entregues à população de forma gratuita. O Cozinha Solidária São Marcos, que funciona no bairro São Jardim São Marcos, em Campinas, recebeu, nesta semana, um vídeo de ninguém menos que o papa Francisco, saudando a ação social mantida por meio de voluntários.
O programa de mitigação da fome funciona na Rua Felinto de Almeida, perto do Campinho, onde vivem famílias que passam por enormes dificuldades de sobrevivência. A ação é desenvolvida por três instituições: a primeira é a Paróquia São Marcos, em cuja área de abrangência está instalado o projeto e por isso ele ganhou este nome, embora não esteja exatamente no bairro São Marcos. Outro organizador do projeto é o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), mediante o Acampamento Marielle Vive. E o terceiro é o Núcleo da Economia de Clara e Francisco, da Arquidiocese de Campinas.
As refeições são preparadas de segunda a sexta-feira pela equipe do MST e cerca de até 20 voluntários se revezam no apoio desde o início da manhã. Antes das 12h, centenas de pessoas vão se enfileirando com suas vasilhas para receber quantas refeições forem necessárias para a família - às vezes, até para o jantar.
"Nós começamos no CDHU do San Martin no dia 15 de junho do ano passado. A ideia era a de ser itinerante e, depois de seis meses, viemos para este espaço, que é da igreja. Portanto, vamos completar seis meses agora e um ano de projeto. Eu não posso dizer ainda se vamos para outro bairro ou continuar aqui, porque se trata de uma questão do espaço mesmo, da própria estrutura que conseguimos aqui", afirmou o padre Antonio Rodrigues, da Paróquia São Marcos, e um dos coordenadores do projeto.
Nesta semana, os participantes do projeto foram surpreendidos com uma mensagem do papa Francisco, gravada em vídeo, que, além de saudar o projeto, referiu-se nominalmente ao padre Antônio Rodrigues e a todos da Paróquia São Marcos. O pontífice pediu que a assistência dos mais pobres continue sendo realizada pelo Cozinha Solidária.
"Sigam adiante, sigam trabalhando. Cuidando, sobretudo, dos mais desprotegidos, dos mais deixados de lado. Eu rezo por vocês. Vocês, por favor, rezem por mim", disse o papa no vídeo. Para o padre Antonio Rodrigues, a mensagem foi lisonjeira, mas ele também disse não ter ficado surpreso com a mensagem, porque o papa Francisco é um dos que luta por causas iguais ao projeto do Jardim São Marcos.
"Claro que é importante receber esta mensagem, é incentivador também para quem participa, mas se houvesse um papa de quem eu esperaria receber uma mensagem como esta, ele seria o papa Francisco. Não que os outros não fossem solidários, mas ele se destacou nestes últimos anos, inclusive convocando o mundo a promover ações solidárias aos mais necessitados", disse.
A coordenadora em Campinas do movimento Economia de Francisco e Clara, Márcia Molina, também lembrou que o projeto não é apenas sobre conseguir minimizar a fome. "Priorizamos a compra de produtos de pequenos produtores, que não utilizam agrotóxicos, temos um mural aqui onde as pessoas oferecem seus serviços. Incentivamos que as pessoas gostem deste projeto e o iniciem em outros bairros, mesmo que seja para funcionar como um restaurante com preços mais populares. De qualquer forma, também se trata de economia, meio ambiente, sociedade", disse.
Além da comida, com arroz, feijão, verdura e ao menos uma proteína, tem sempre também uma fruta. "Não entregamos em forma de marmitex. As pessoas trazem suas próprias vasilhas e colocamos o quanto elas pedem. Muitas vezes, elas estão buscando para vizinhos que não podem vir ou para outros familiares que moram na casa. Por isso a própria pessoa é quem define a quantidade que acha justa", comentou Márcia.
A Cozinha luta para se manter a cada dia, pedindo doações e aproveitando cada talo de verdura, servindo uma refeição gostosa e saudável. Para ajudar nas despesas, a cada dois meses também são realizados bazares de roupas e utensílios domésticos recebidos de colaboradores de toda a cidade. Tudo é vendido por um ou dois reais dentro da própria comunidade.
"Esta iniciativa conta ainda com o apoio da Adunicamp, ISA, CUT, Sindiquinze, Frente pela Vida em Defesa do SUS, voluntários da comunidade e de outros bairros. Toda forma de ajuda é muito bem-vinda, sejam doações de alimentos, não perecíveis e frescos, produtos de limpeza ou no trabalho de preparação das refeições", complementa o padre.
O aposentado Ademir Rosa, de 64 anos, vive sozinho no Jardim São Marcos e encontrou no Cozinha Solidária uma forma de ajudar com as contas do mês. Ele frequenta o espaço praticamente todos os dias e, com isso, consegue economizar nas despesas com alimentação, que normalmente ficariam com uma grande parte da sua aposentadoria.
"Eu venho aqui diariamente, a não ser que eu não possa mesmo ou que esteja em outro compromisso. Trago uma embalagem maior, assim, consigo levar para o almoço e janta. Acho muito importante o projeto, pois tem gente que não vai conseguir ter uma alimentação digna no dia", afirmou.
Também morador do Jardim São Marcos, Edson de Araújo, de 46 anos, também comparece rotineiramente no Cozinha Solidária e leva refeição até mesmo para a família. "Eu moro com minha mãe, então, pego uma quantidade suficiente, que dê para os dois. A comida aqui é bem gostosa e todos os dias oferecem coisas diferentes. A população daqui é muito agradecida pela existência desse projeto", disse.
Caso alguém queira fazer parte ou colaborar com alguma doação para a iniciativa, Rodrigues informa que basta entrar em contato pelo celular (19) 99135 8282, que é ele mesmo quem responde pela organização de parte do projeto. Os alimentos podem ser doados na subsede da CUT Campinas, que fica na Rua Culto à Ciência, 56, Botafogo. Antes de ir até o local, é preciso realizar o agendamento pelo telefone (19) 99124 3043, com Ivone.