PANDEMIA

Covid mata duas grávidas em março

Doença apavora mulheres grávidas e muitas deixam de fazer o pré-natal por medo de contágio

Rodrigo Piomonte/ Correio Popular
rodrigo.piomonte@rac.com.br
01/04/2021 às 11:06.
Atualizado em 21/03/2022 às 22:57

A vendedora Marlene Oliveira de Pinho, 27 anos, grávida de gêmeos, em frente à Maternidade de Campinas, onde foi realizar o pré-natal (Diogo Zacarias/ Correio Popular)

A taxa de mortalidade materna por covid-19 no Brasil é a maior do mundo, de 12,7%, segundo pesquisas publicadas em 2020. Uma delas foi coordenada pelo Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em parceria com a Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). Pelo levantamento, a cada dez gestantes, nove descobrem que estão infectadas somente na hora do parto, um dos momentos mais delicados e desafiantes da gestação. Em Campinas, apenas no mês de março foram registradas duas mortes de gestantes, vítimas da covid.

Além das questões gestacionais, como eclampsia, anemia e algumas infecções, a covid-19 é uma preocupação emergente entre as gestantes, que são consideradas grupos de risco. A desempregada Nayara Soares, 25 anos, que esteve ontem no Hospital Maternidade de Campinas para exames, conta que se preocupa com a possibilidade de ser infectada pelo novo coronavírus.

"Eu procuro seguir sempre as orientações que eles me passam. Eles pedem para sempre usar máscara, não ficar perto de gente com suspeita de covid-19. Procuro me cuidar, mas dá muito medo por mim e pelo meu bebê", disse.

A vendedora Marlene Oliveira de Pinho, 27 anos, é outra gestante que teme com a gestação durante a pandemia. "Preciso pegar ônibus para vir aqui fazer os exames. E o atendimento está muito demorado. Dá muito medo", disse.

O diretor presidente do Hospital Maternidade de Campinas, Marcos Miele, informou que a entidade possui seis leitos na UTI. Atualmente, quatro pacientes estão intubadas, duas gestantes e duas puérperas (que acabou de dar à luz). "Na UTI neonatal, nós temos quatro recém-nascidos covid positivo, provenientes dessas mães que internaram nesse período", disse.

Segundo o diretor, a Maternidade registrou há duas semanas o primeiro óbito materno. Foi de uma paciente diabética tipo 1, de 27 anos, que morreu dia 26. Conforme Miele, a paciente estava muito descompensada e teve uma evolução muito rápida. "Ela ficou na UTI por sete dias, conseguimos fazer o parto dela no momento oportuno, o seu recém-nascido está na UTI, mas ela não resistiu e veio a óbito", disse.

Segundo informações da Prefeitura, esse foi o segundo caso de morte de gestante na cidade apenas esse ano. O anterior ocorreu também em março e foi de uma paciente sem comorbidades, que faleceu dia 18, em outro hospital.

Essas duas mortes de gestantes vítimas da covid em um curto espaço de tempo no mês de março, fez dobrar o registro de casos de morte de gestante em Campinas durante a pandemia. Pois em todo ano passado ocorreu um único óbito de gestante. Foi de uma paciente de 30 anos, também sem comorbidades.

Segundo a médica infectologista Raquel Stucchi, da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em muitos casos no país as gestantes têm reduzido a frequência da consulta pré-natal por medo da covid. "Houve uma diminuição muito expressiva de consultas de pré-natal no ano passado. O que nós também tivemos foi a questão associada com muitas comorbidades, como a obesidade", explica.

Segundo a Prefeitura, apesar dos casos de óbitos das gestantes, desde o início da pandemia não foi registrado nenhuma morte de recém nascidos.

Para a infectologista, a atenção dedicada a pacientes gestantes como uma população com maior risco de contaminação pela covid-19 é fundamental para prevenir doenças e mortalidade tanto maternas quanto neonatal.

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