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Covid: 15% das mortes abaixo de 60

Taxa de óbito entre faixa dos não idosos contraria presidente, para quem os jovens têm risco quase nulo

Henrique Hein
12/07/2020 às 09:40.
Atualizado em 28/03/2022 às 21:20
Hospital de Campanha montado no enfrentamento da Covid-19: estudo alerta para a taxa de mortes entre jovens (Cedoc/RAC)

Hospital de Campanha montado no enfrentamento da Covid-19: estudo alerta para a taxa de mortes entre jovens (Cedoc/RAC)

Dados do mais recente Boletim Epidemiológico da Secretaria Municipal de Saúde e do Observatório PUC-Campinas, divulgados na última semana, mostram que ao menos 15% das mortes pelo Covid-19 em Campinas se deram em pessoas com idade abaixo dos 60 anos. Índices até mais altos, no entanto, foram obtidos pelo estudo da PUC nas cidades de Americana, Indaiatuba e Hortolândia e desmentem de forma categórica o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) que, ao admitir na última semana que estava contaminado pelo novo coronavírus, fez a seguinte declaração. "Os mais jovens tomem cuidado. Mas, se for acometido do vírus, fique tranquilo, porque, para vocês, a possibilidade de algo mais grave é próximo de zero.” Em Campinas, o boletim da secretaria municipal de saúde mostra que dos 317 mortos até o dia 30 de junho, 49 não eram idosos. Destes, 19 tinham entre 20 e 49 anos. Já o estudo do Observatório PUC-Campinas indica que em Indaiatuba — que contava com 2.226 casos e 81 mortes —, 13,2% dos óbitos eram da faixa entre 50 e 59 anos, enquanto 7,9% foram de pessoas entre 40 e 49 anos. Já em Americana, 28% de todas as mortes envolveram pessoas de 59 anos ou menos. Na cidade são mais de 700 casos e 37 mortes. Em Hortolândia — onde os últimos registros apontavam 723 casos e 36 óbitos — 19,2% das pessoas que morreram por Covid-19 tinham entre 50 e 59 anos e 3,8% delas tinham entre 30 e 39 anos. Na avaliação do médico epidemiologista, André Ribas de Freitas, a fala do presidente não condiz com a realidade dos fatos. “Não é verdade que isso é uma exclusividade desse grupo (idosos), porque adultos jovens sem comorbidades também podem evoluir mal. É bem menos frequente, mas é um risco bem diferente de zero”, disse. Renata Moreira, coordenadora de biomedicina da Faculdade Anhanguera, na unidade do bairro Taquaral, também classificou o posicionamento do presidente brasileiro como equivocado. “Não é porque uma pessoa é jovem que ela não desenvolve a forma mais grave da doença. Isso já está mais do que constatado, por exemplo, pelos indicadores de Campinas: 15% de óbitos em jovens é um número significativo e preocupante”, afirmou. Para André Ribas, o discurso de Bolsonaro, além de equivocado, também é perigoso por ser capaz de fazer com que muita gente passe a menosprezar a doença. “A gente tem que entender que todos têm que se proteger, porque os jovens, ainda que tenham uma proporção menor de agravamento pela doença, a transmitem para outras pessoas e podem ser responsáveis pela morte de muita gente se não houver cuidado.” Ainda segundo o médico epidemiologista, quando Bolsonaro diz que o novo coronavírus é “como uma chuva" e que todo mundo vai pegar, ele está passando uma informação inverídica. “Isso não é verdade. É um discurso completamente desconstrutivo, porque vários países da Europa já conseguiram controlar a doença. Lógico, tiveram uma primeira onda, mas depois eles pararam de ter a transmissão”, disse. “Os países que fizeram a coisa certa conseguiram controlar a doença, mesmo sem ter todo mundo adoecido”, reforçou André Ribas. CASOS DE COVID-19 EM CAMPINAS Faixa etária 0/9 10/19 20/29 30/39 40/49 50/59 60/69 70/79 80+ Casos         34   10      37      121     183     252     298     216    203 Óbitos         1     0        3         6        10       29      66      87      115 Letalidade    2,9   0      8,1        5       5,5      11,5    22,1   40,3    56,7 (%) 

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