campinas, 246 anos

Correio, no front da notícia

Veículo de 92 anos de vida se reinventa para manter compromisso

Francisco Lima Neto
14/07/2020 às 11:57.
Atualizado em 28/03/2022 às 21:33
Repórter Gil Rei, paginador Marcos e artegráfico Laert na redação vazia (Leandro Ferreira/AAN)

Repórter Gil Rei, paginador Marcos e artegráfico Laert na redação vazia (Leandro Ferreira/AAN)

O cenário atual de pandemia do novo coronavírus exige flexibilidade e adaptação de toda a população, em geral, dos hábitos sociais aos de consumo. A forma de trabalhar também foi afetada pela ameaça do novo vírus. O jornal Correio Popular também precisou se reinventar nestes novos tempos. Passados quatro meses de pandemia e necessidade de distanciamento social, a equipe está mais do que adaptada à nova realidade. Fundado em 1927 por Álvaro Ribeiro, o jornal registrou todas as mudanças importantes da cidade de Campinas ao longo deste quase um século de existência. O jornal também passou por mudanças significativas — quando, por exemplo, no início dos anos 90, passou a ter a redação informatizada com a chegada dos computadores e o adeus às máquinas manuais de escrever. Vanguarda Está no DNA do veículo campineiro também as reestruturações com foco no aprimoramento editorial. Vale lembrar do processo de vanguarda no jornalismo brasileiro de unificação de duas redações, ocorrida no ano 2000, quando houve o processo de fusão entre os times do Correio e do Diário do Povo, quatro anos depois de sua aquisição, em 1996. A medida, aliás, ocorreu 17 anos antes da unificação, por exemplo, das redações do Grupo Folha e 18 anos antes da do Grupo Globo. É pioneira também a iniciativa por este Correio de introduzir, há 15 anos, numa de suas reformas gráficas, a foto dos leitores na página de Opinião, uma medida inédita até hoje entre os principais veículos brasileiros. São bons exemplos de que o Correio sempre encarou mudanças com rapidez e criatividade. Novo paradigma Mas, em raras oportunidades ao longo desses quase 100 anos de história, a empresa experimentou uma mudança tão radical na forma de se produzir um jornal como agora, com o advento da pandemia do novo coronavírus. Em um momento histórico, o jornal está sendo feito com mais de 90% de seus repórteres, editores, fotógrafos, designers, paginadores, infografistas e outros profissionais envolvidos diretamente na produção da edição diária, distantes da redação. Além disso, a rotina dos profissionais do Recursos Humanos, Comercial e outros setores administrativos também foi alterada pela pandemia. Tecnologia Em meio à decretação da quarentena, em março, os profissionais iniciaram gradativamente a transição no modo de trabalho e passaram para o chamado home office, ou seja, passaram a fazer o trabalho em casa, a partir de um esforço da equipe de Tecnologia da Informação (TI), que viabilizou as ferramentas digitais e toda a estrutura para essa migração. Esse processo priorizou, no início, os funcionários com mais de 60 anos e os de grupo de risco. Depois, paulatinamente, a empresa se adequou ao protocolo das autoridades sanitárias, mas sem deixar de cumprir o ofício do veículo de comunicação. Desafio A situação pode ser desafiadora no começo. “Após 30 anos de trabalho dentro de uma redação, home office parecia uma tarefa, a princípio, altamente desafiadora. Somos comunicadores, valorizamos as relações interpessoais, o clima intenso de uma redação faz parte de nossa rotina”, diz Laine Turati, editora do caderno de Cidades. Porém, após o receio inicial, ela percebeu vantagens no trabalho remoto. “Contrariando minhas impressões iniciais, o trabalho em home veio acompanhado de experiências positivas e êxito. Tanto pelas novidades que o acompanham sob o aspecto profissional, como chamadas de vídeo, conversas por aplicativos, otimização na solução de problemas e horários mais flexíveis, como também por alegrias pessoais. Em home office conquistei o prazer de poder ficar mais próxima de minha filha, advogada, que também realiza home office. Compartilhamos conhecimentos. Hoje ela conhece muito mais sobre o meu trabalho, e eu, do dela”, completa. A pauta O chefe de reportagem, Tote Nunes, por exemplo, define pautas e discute os encaminhamentos das reportagens de sua casa. Teve de montar um grupo de conversa no o WhatsApp específico para os repórteres e fotógrafos, para evitar congestionamento de mensagens no grupo exclusivo de editores. “O sistema, que se acreditava inviável até então, se mostrou bastante eficiente”, afirma. Responsabilidade social Gilson Rei, repórter com décadas de experiência, vive uma situação completamente impensada até então. “Nesta pandemia sigo a rotina diária dentro da redação praticamente vazia e silenciosa, uma situação muito diferente e totalmente nova. Tento contribuir ao máximo com informações úteis para a população que vai utilizar as notícias como ferramentas de sobrevivência. Todas as orientações médicas e todas as novidades para combater o inimigo invisível são valiosas e, por isto, sinto orgulho de fazer parte desta história com meu papel de profissional de imprensa. É doloroso noticiar as mortes, mas é muito gratificante também mostrar que vidas estão sendo salvas e estampar exemplos de vitória que servem como estímulo na luta contra o coronavírus. Creio que estou fazendo minha parte e cumprindo com minha responsabilidade social", avalia. Interação completa Para Cristina Belluco, editora do caderno Brasil, a comunicação interna precisou ser adaptada. “Com a pandemia, aprendemos uma nova linguagem, uma nova comunicação entre os editores, repórteres e fotógrafos. Há uma interação completa, por meio da rede interna de mensagens do jornal, onde trocamos ideias, informações, notícias de outras agências de comunicação. Nós, jornalistas, estamos sempre nos reinventando. Mas nada melhor do que o prazer da redação presencial. Todos nós, juntos, fazendo e levando informação a Campinas”, destaca. Tempo real na fotografia O setor de fotografias é um que não tem como parar, já que é impossível registrar o mundo lá fora trabalhando de casa. A capacidade de se reinventar e criar novos formatos teve de ser acionada. “Não dá para fazer foto de casa. Tomei a decisão junto à equipe de foto que iríamos priorizar o que fosse hard news (tempo real, em tradução livre, assuntos importantes do momento). Até porque fica muito constrangedor eu chegar na casa de alguém que está em quarentena, vindo de fora para produzir uma imagem”, explica Leandro Ferreira, editor de fotografia. Ele se mantém em contato direto com a chefia de reportagem para avaliar quais pautas rendem as melhores fotografias. “Também converso muito com a equipe, alerto para o uso de máscaras, manter o afastamento e a própria segurança. E assim fomos construindo as pautas do Correio Popular nesses meses. Mudou bastante o perfil de trabalho nesse tempo. A gente precisa ter mais atenção à pauta e à forma de fazer, novas maneiras de registrar. A gente sempre tenta fazer uma foto diferente para que a leitura fique mais agradável, sempre harmonizando a foto com o texto”, complementa. Interatividade De acordo com Nelson Homem de Mello, diretor editorial do Grupo RAC, quando, por medida de segurança, o home office foi implantado, a ideia que se tinha é que todo o sistema de produção seria prejudicado. Mas, em pouquíssimo tempo, ocorreu o contrário. “Apesar do distanciamento físico uns dos outros, a comunicação entre todos os integrantes da redação, através dos computadores pessoais e dos celulares, cresceu muito e proporcionou muito mais interatividade. Hoje, já plenamente adaptados à nova realidade, os profissionais do Correio Popular estão conectados boa parte do dia através de programas de reunião virtual e aplicativos de mensagens, de forma que todos têm informações instantâneas do trabalho desenvolvido por toda a equipe e podem acompanhar a edição em seu conjunto, contribuindo com ideias e sugestões e agilizando as postagens de notícias no site do Correio", afirma. Recursos Humanos Para Adriana Uehara, coordenadora de Administração de Pessoal, a imposição do isolamento social exigiu uma nova realidade. “O Correio, assim como muitas empresas, não teve tempo de planejar a novidade de trabalhar em casa, foi muito rápido. Os colaboradores se adaptaram muito bem, estão tendo ótimos resultados, acho que até melhores por estarem trabalhando em casa. Ferramentas como celular, aplicativos de mensagens, acesso remoto, facilitaram muito a comunicação entre os funcionários e, para o Departamento Pessoal, foi essencial. Essa experiência está sendo muito válida e é um meio de a gente ver que as pessoas conseguem trabalhar de qualquer lugar”, relata. Comercial Um dos setores mais impactados com o novo modelo foi a área comercial, já que ninguém colocou nos seus planos de crescimento para 2020 esta pandemia. Ela gerou uma crise que foi além da saúde e abalou todos que vivem em sociedade. Com a maior parte do comércio fechado devido ao risco de aglomerações, grandes e pequenas empresas, além dos autônomos, foram atingidos. “Nós, que trabalhamos divulgando estas empresas, sofremos junto, pois como vão anunciar se não podem trabalhar? Criamos várias fórmulas de trabalho pensando primeiramente em não abandonarmos nossos parceiros comerciais, e por isso habilitamos em nosso portal — que possui uma audiência de 1,5 milhão de usuários únicos por mês — banners com direcionamento para os sites deles. Foi uma forma de mostrarmos que estamos juntos”, comenta Donizeti Ribeiro, gerente comercial. O setor precisou se reinventar e propor novas soluções. “Fizemos uma campanha onde quem anuncia sua marca (para não cair no esquecimento) é bonificado com o mesmo tamanho de anúncio quando tudo voltar ao normal. Enfim, o mercado reagiu muito bem a todo esse trabalho — e a prova é este caderno de aniversário de Campinas, em que temos bastante anunciantes”, explica Ribeiro. A criatividade tem sido fundamental na busca de soluções. “Desde o início usamos a nossa criatividade e também lidamos com reuniões on-line. Fizemos o primeiro happy hour on-line da história da RAC. Fizemos uma convenção on-line com um dos maiores especialistas do Brasil no assunto. Foram diversas inovações, entre elas, contratamos uma dupla de cantores profissionais para fazer uma live para todos da empresa. Foi um grande sucesso. O que mais preocupa a todos é esta incerteza de quando tudo voltará ao normal. Por isto, temos que seguir inovando, pois a única certeza que temos é de que nada mais será como era antes”, conclui.

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