Com mãe e filha infectadas, família de Rio Claro encara nova realidade no país devastado pela doença
Muitos brasileiros que moram na Itália, país com o maior número de vítimas do coronavírus até o momento, estão sendo infectados pela Covid-19. E os parentes no Brasil estão muito preocupados, não só com a propagação da doença, como com os familiares que vivem na Europa e estão enfrentando a pandemia. O Correio Popular conversou com Amanda Zavarello, 48 anos, que é de Rio Claro e mora há seis anos em Agazzano na região Emilia Romagna, província de Piacenza, na Itália, com o marido e dois dos cinco filhos. Mãe e os dois filhos trabalham e estudam em Piacenza, um dos locais com maior foco do coronavírus na região de Emilia Romagna. Amanda e a filha Bruna, de 16 anos, já foram diagnosticadas com a Covid-19 e estão dentro de casa há pouco mais de um mês. Seus parentes são de Campinas. Elas gravaram um vídeo para relatar sobre os sintomas, os desafios que estão enfrentando, como vivenciam a pandemia e de que forma está sendo a vida por lá durante o período de quarentena. Elas ressaltam que se pudessem dar um conselho para quem mora no Brasil seria, de fato, o isolamento social como uma forma de amenizar o problema. Amanda conta que começou a sentir mal no dia 21 de fevereiro. “Eu sentia febre alta, tosse, muita dor para respirar. Fui até o hospital sozinha e dirigindo, quando ainda não havia sido decretado o isolamento. Para se ter uma ideia de como as coisas avançaram rápido, eu fui quatro dias seguidos no pronto-socorro, até que no quarto dia já não estavam deixando ficar indo e voltando do hospital, nem para fazer inalação. Foi então que o médico disse que, caso eu piorasse ou alguém da minha família começasse a se sentir mal, era para entrar em contato com um telefone que estavam disponibilizando para fazer o teste do coronavírus. Isso de fato aconteceu, pois minha filha começou a se sentir muito mal no dia 2 de março. Conforme orientação, ligamos para o número de atendimento indicado pelos médicos para quem suspeitava de estar com a Covid-19 e veio uma ambulância buscar minha filha. Meu medo nem era tanto por mim, mas pelo que poderia acontecer com a minha filha”, lembra Amanda. Os exames de Bruna foram feitos no dia 4 de março e dois dias depois veio a confirmação com o resultado positivo para Covid-19. O médico avisou para Amanda que ela não precisaria fazer o exame, já que sua filha tinha o resultado positivo, as duas estavam infectadas. “Eu comecei a sentir os sintomas e percebi que não era só uma gripe. Eu não achava que iria me sentir tão fraca e debilitada, senti muito cansaço, fraqueza e falta de ar. Hoje estou bem, já voltei a fazer aula on-line, mas ainda me canso facilmente”, conta Bruna Zavarello, 16 anos. No isolamento, elas não tiveram contato com ninguém, mesmo dentro de casa usavam máscara e comiam separadas dos demais membros da família. O marido de Amanda trabalha como motorista de caminhão e transporta matéria-prima para medicamentos. “O serviço dele é essencial, então ele continua trabalhando”, diz. Questionadas se conhecem pessoas que já morreram por consequências da Covid-19, elas relatam que infelizmente sim. Amanda conta que o hospital ligava três vezes ao dia para saber como ela e a filha estavam se sentindo, se a febre havia baixado, se estavam se sentindo melhor ou com algum outro sintoma. “Me senti muito acolhida pelo hospital, apesar de tantos casos graves que estavam tendo que lidar, nos deram muita atenção”, diz. Números assustam Amanda comenta que ficou assustada com os números. Segunda ela, só em 24 de fevereiro, último dia em que pôde ir até o hospital, haviam 17 casos confirmados, mas nenhuma morte registrada. Ela conta que até a última semana os números oficiais na sua região eram de 8.535 pessoas infectadas e 1.885 mortes. “A única coisa que pode ser feita é ficar em casa. Isso pode evitar a sua doença, a doença de outra pessoa e também contém a lotação nos hospitais”, diz Amanda. Apesar da pouca idade, Bruna também enfatiza: “A única coisa que queria falar é fiquem em casa. Ficar em casa não é só por você, mas pelos outros, seus avós, pais, vizinhos, amigos, conhecidos e desconhecidos. Ficar em casa é pela humanidade”, diz. Sobre a quarentena, Amanda conta que está tentando fazer dessa experiência algo para recordar depois com filhos. “Temos tempo de cozinhar, fazer a massa em casa, assistir filmes. Espero que quando tudo isso passar, a gente consiga recordar disso de uma forma mais leve”, diz. Já Bruna relata que está com uma rotina bem produtiva, com aulas todos os dias pelo computador e prova oral. “Também estou lendo todos os livros que não tinha tempo de ler e assistindo filmes que gosto.”