Falta de empolgação em Campinas, com poucas ruas enfeitadas, ratifica pesquisa do Datafolha
Rua decorada na Vila Costa e Silva, uma das poucas em Campinas com alusão à Copa do Mundo: crise econômica pesa no interesse reduzido (Thomaz Marostegan)
Às vésperas da estreia da Seleção Brasileira na Copa da Rússia, os torcedores campineiros estão desanimados. Pontos onde tradicionalmente a população enfeitava ruas e casas semanas antes do início dos jogos, desta vez não entraram no clima do Mundial. O desinteresse do brasileiro pelo torneio foi confirmado por uma pesquisa do Datafolha, que apontou que 53% da população não têm nenhum interesse na Copa. No final de janeiro o índice estava em 42%. A crise econômica e a manifestação dos caminhoneiros, segundo o instituto, “ajudaram” a reduzir o ânimo da torcida. A costureira Severina Moreira Fernandes, de 71 anos, que mora em uma das poucas ruas decoradas para a Copa na Vila Costa e Silva, acredita que a corrupção tenha feito com que o brasileiro perdesse o patriotismo. “Tem tanto ladrão em Brasília roubando dinheiro de pobre, que não sobrou para a decoração”, lamentou. Há um mês, os moradores da Rua dos Carajás se uniram e compraram tintas verde e amarela e bandeiras. “Foi um domingo diferente e eu incentivei que o meu neto participasse, afinal ele não pode perder a inocência, nem muito menos deixar de acreditar no esporte. Mesmo assim, a situação do País é desanimadora”, disse. Na Vila Mimosa, um comerciante de pipas que está vendendo apetrechos para o Mundial acredita que nos próximos dias o campineiro deve recuperar o ânimo. “Esse ano tivemos uma redução de 30% nas vendas se comparado à última Copa. Nem em São Paulo, vi qualquer grande decoração. O desânimo é geral e eu acredito que seja devido à crise econômica, da qual ainda estamos nos recuperando. Não é descrença na Seleção e sim por causa da corrupção”, disse Carlos Minotti. A rua está cheia de bandeirinhas, colocadas por ele. “Nossa expectativa é que depois da abertura o movimento melhore, principalmente com a aproximação do jogo do Brasil no domingo”, apostou. Na loja de pipas, é possível encontrar bandeiras eo Brasil dos mais variados tamanhos, capas para retrovisor, camisetas e vuvuzelas. Quando as mulheres são questionadas sobre a Copa, o índice de desinteresse aumenta ainda mais e sobe para 61%. Os outros maiores desinteressados, ainda segundo o Datafolha, são pessoas de 35 a 44 anos (57%), moradores da região Sul (59%) e aqueles com renda familiar de até dois salários mínimos (54%). A marca de agora é a pior da série histórica às vésperas do torneio desde 1994, quando o instituto fez a pergunta pela primeira vez. Desafiando a pesquisa e tentando levantar o ânimo da família está a dona de casa Luciene Raposo, de 44 anos. “Depois de tudo que o brasileiro passou, e sem contar com a greve dos caminhoneiros, que impactou muito o País, as pessoas com certeza estão desacreditadas”, disse. Com uma corneta na sacola, a moradora do Novo Campos Elíseos acredita que quando os jogos começarem o torcedor deva recuperar o ânimo. O aposentado Carmelo Padovani, de 82 anos, também mora na Rua Pedreira, no mesmo bairro, onde pode ser conferida uma enorme bandeira do Brasil pintada no meio da via. “É um gosto, mas acho que está faltando dinheiro também, né? Com tantas prioridades, comprar bandeira com certeza não está fazendo parte da receita do brasileiro”, disse. "Se avaliarmos pelo esporte e pela nossa Seleção, estamos sim torcendo, afinal, tudo pode acontecer. Mas pelo Brasil? Já perdemos as esperanças”, concluiu. O Datafolha ouviu 2.824 pessoas em 174 municípios e, apesar da desmobilização, 48% dos entrevistados colocam o Brasil como favorito ao título na Rússia.