ENTREVISTA

Convivência deve reabrir antes do final da reforma, diz secretária de Cultura e Turismo

Alexandra Caprioli confirma que o espaço cultural deve ser entregue em etapas

Rodrigo Piomonte
13/08/2022 às 06:44.
Atualizado em 14/08/2022 às 08:53
A secretária de Cultura e Turismo, Alexandra Caprioli, em visita à sede da RAC, onde concedeu entrevista exclusiva ao Correio Popular: gestora confirma a volta do Café de La Recoleta (Kamá Ribeiro)

A secretária de Cultura e Turismo, Alexandra Caprioli, em visita à sede da RAC, onde concedeu entrevista exclusiva ao Correio Popular: gestora confirma a volta do Café de La Recoleta (Kamá Ribeiro)

Mãe, mulher, empresária, professora universitária e gestora pública. Versatilidade é a palavra que pode descrever o perfil de Alexandra Caprioli, atualmente à frente da Secretaria de Cultura e Turismo de Campinas. Convidada do presidente-executivo do Correio Popular, Ítalo Hamilton Barioni, para a entrevista deste domingo, Alexandra falou da sua ligação com a cidade, da influência empreendedora que herdou do pai, o empresário Antonio Caprioli, e do aprendizado que teve junto aos negócios da família.

Atuando pela primeira vez no primeiro escalão do governo municipal, Alexandra acredita numa construção coletiva para um projeto de fortalecimento das áreas da Cultura e do Turismo na cidade. Titular da Pasta desde 1º de junho de 2021, quando foi nomeada pelo prefeito Dário Saadi (Republicanos) em substituição à diretora administrativa Marianne Bockelmann - que respondia interinamente pelo cargo desde a saída da ex-primeira-dama Sandra Ciocci do comando da secretaria -, ela comemora a retomada dos eventos e a ocupação dos espaços culturais da cidade.

Alexandra adianta, com exclusividade ao Correio Popular, que o Centro de Convivência Cultural (CCC) pode reabrir ao público por etapas, inclusive com a volta do icônico Café de La Recoleta, que fez história nos anos 90, antes da entrega definitiva das obras de restauro geral do teatro, prevista para 2024. Ela também adiantou que Campinas ganhará, em breve, um mapa turístico ilustrado capaz de mostrar a cidade do ponto de vista de cada um de seus atrativos. Leia abaixo a entrevista exclusiva.

Fale um pouco sobre a origem de sua família?

Sou descendente de imigrantes italianos que vieram trabalhar na lavoura e de pais campineiros. Minha história está ligada à do meu pai por conta da empresa de ônibus. Eu nasci em 1967 e meu pai era químico da Unilever. Minha vida toda foi em torno da empresa de ônibus de propriedade da minha família. A empresa foi fundada pelo meu avô na década de 30. No início da década de 70, meu pai deixou a carreira de químico e iniciou um trabalho com meu avô na Caprioli, que faleceu anos depois. Embora meu pai não tivesse o sobrenome do meu avô, todos o conheciam como Antônio Augusto Caprioli. Porque foi ele o responsável por cuidar da empresa. Embora a empresa fosse do sogro dele, a Caprioli deu um grande salto após a década de 70.

Onde foi a sua infância na cidade?

Eu cresci no Castelo. Estudei no Colégio Progresso, onde minha mãe era diretora. Era uma época muito boa. Eu estudei nesse colégio até o episódio da demissão da dona Amélia Pires Palermo, que era um ícone da área educacional da cidade. Por conta disso, alguns pais de alunos do Colégio Progresso, entre eles os meus pais, se juntaram e fundaram a Escola Comunitária. A escola começou ali na Avenida Guarani, próximo da Igreja Nossa Senhora Aparecida. Lembro-me que como o colégio estava começando, aos sábados a gente tinha que se reunir e fazer faxina na escola. Somos criados em um ambiente muito comunitário mesmo.

A sra. disse que cresceu em torno da empresa do seu pai, qual é o valor que sra. dá ao trabalho?

Meu pai era aquele tipo de pessoa que saía cedo de casa para o trabalho e voltava bem tarde. Eu sempre tive isso como uma referência. Todo mundo fala que se deve dar valor ao trabalho. E se tem uma coisa que eu tenho muito da minha formação como pessoa é dar valor ao trabalho. Meu pai teve uma origem humilde, minha mãe, nem tanto. Mas o pai da minha mãe, meu avô, que criou a empresa Caprioli, se alfabetizou depois de adulto com uma professora particular. Ele nunca teve oportunidade de estudar. Então essa questão do valor do trabalho nunca foi uma coisa optativa. Para os meus pais, o valor do trabalho era uma coisa sem negociação. E isso foi um aprendizado que foi passado e que eu carrego comigo até os dias de hoje. As coisas dependem do seu esforço e do compromisso. É assim que se chega a um resultado.

Seu avô criou a Caprioli no início do século passado. Conte um pouco sobre essa história?

Sim. Tudo começou com uma venda que ficava na estrada velha de Indaiatuba. Os fazendeiros tinham que ir às compras na cidade e foi dessa necessidade que nasceu a ideia do meu avô de fazer o transporte. E o curioso é que só se pagava quando chegava, porque era estrada de chão e às vezes nem chegava. Isso foi em 1926. Mas a empresa mesmo nasceu em 1933. A primeira linha foi Capivari, Monte Mor, Campinas. E a empresa se estabeleceu no bairro Bonfim. Lá era a casa dos meus avós e o estacionamento dos ônibus.

A Caprioli se misturou com parte da história da cidade. Como é carregar esse nome?

O nome Caprioli ficou muito forte. A cidade passou por um intenso processo de industrialização e o transporte foi fundamental. Fomos a primeira empresa de ônibus a rodar dentro da Unicamp logo após a fundação da universidade. Fazíamos o transporte dos trabalhadores para todas as empresas que se instalavam em Campinas. Depois vieram o transporte dos times de futebol. Nessa área de fretamento e excursões, todos os ônibus eram Caprioli, foi realmente uma época de muito crescimento.

A sra. começou sua vida profissional com os negócios da sua família?

Eu tenho carteira de trabalho assinada desde os 17 anos. Trabalhei no escritório e em diversas áreas da empresa. A Caprioli era uma empresa familiar. Minha primeira faculdade de Terapia Ocupacional meu pai pagou. Quando fui fazer a faculdade de Turismo, já paguei com o meu salário da empresa.

E os negócios da família cresceram. O empreendedorismo estava no sangue?

Meu pai era um empreendedor. Um negociador nato. Tudo o que aparecia ele comprava, negociava. Tinha um tino para os negócios e para o empreendedorismo. Eu fui mais para a área da agência de turismo e meu irmão para a transportadora. Nós dois tivemos oportunidade de estudar nos EUA e isso nos abriu muito a cabeça para outras oportunidades de negócios, principalmente para a área do turismo. Depois de um tempo começamos a pensar que deveríamos diversificar os negócios. Fiz a Faculdade de Turismo em Campinas. E depois comecei a focar no trabalho na área de eventos. Então prestei um concurso na universidade e me tornei professora da Faculdade de Turismo, onde atuei por 15 anos. Foi um período maravilhoso. Eu dava aulas de Transporte, Eventos e Agenciamento, que são áreas correlatas com aquilo que eu empreendia. Foi nesse período que meu irmão voltou dos EUA dizendo que tinha visto um modelo de empresa área. Então, em 1998, montamos a Trip Linhas Aéreas.

E a Trip, então, nasceu dentro da Caprioli?

A Trip nasceu literalmente dentro da Caprioli. E eu vivi muito intensamente tudo aquilo. Porque a gente dividia a equipe. E era a equipe de Turismo da qual eu participava que passou a atuar com reservas na Trip. Então foi tudo muito intenso. Uma empresa familiar em um ramo muito competitivo. A Trip foi uma empresa regional e que nos permitiu muito amadurecimento e novas oportunidades. Uma das primeiras rotas que tivemos foi para Fernando de Noronha e depois vieram muitas outras.

E como surgiu a proposta da fusão com a Azul Linhas Aéreas?

Em 2008, enfrentamos um problema de saúde com o meu pai, começamos a amadurecer uma ideia de vender a empresa. Desde 1998, quando nasceu a Trip, nós vínhamos nos dividindo. Meu irmão na Trip, eu com a agência, uma empresa de eventos e a universidade. Então, em 2010, a gente vende a Caprioli, empresa de ônibus, para a VB Transportes. E, em 2012, surge uma proposta de fusão da Trip com a Azul. E aí as coisas mudam de escala. E foi um caso de fusão muito bem-sucedido.

E dessa trajetória surge o convite para participar da gestão pública. Como foi isso?

Foi em 2013, um pouco antes do ex-prefeito Jonas (Donizette) assumir, que eu recebo uma ligação do Samuel Rossilho, que tinha sido anunciado como nome para assumir a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Social e Turismo. Achei que fosse para conversar sobre negócios, pois nesse meio tempo eu presidi o Convention Bureau Campinas e sempre estive muito ligada ao associativismo, às agências de viagens. Mas o convite era para assumir um cargo como diretora de turismo. De cara, pensei que não há a menor chance. Eu estava muito envolvida com os negócios, a agência. Mas ele insistiu e disse que precisava de alguém com o meu perfil para coordenar os projetos. Eu tinha acabado de deixar a Puc-Campinas. 

Qual foi o legado dessa primeira experiência?

O grande legado desse período foi conseguir trazer a Copa do Mundo para a cidade. Fizemos tudo sem gastar dinheiro público. As duas delegações, Portugal e Nigéria, adoraram ficar na cidade. Foi uma época incrível. Mas o mais importante foi o ganho para o departamento de Turismo na Prefeitura. As pessoas não enxergavam o turismo. Literalmente rompemos todas as barreiras e abrimos um novo caminho para a área do Turismo na cidade. Depois, acabei coordenando a vinda das delegações da Olimpíada, onde Campinas foi centro de treinamento. E a gente conseguiu trazer algumas delegações para treinar aqui. Como diretora, esses dois trabalhos foram de grande destaque para a cidade e para mim pessoalmente. E no segundo mandato do Jonas, eu atuei bastante com projetos de eventos pela cidade também.

E chega o governo Dário Saadi e o convite para se tornar secretária. Fale um pouco desse desafio?

O convite do prefeito Dário para assumir a Secretaria de Cultura só foi aceito se viesse junto o Turismo. O desafio com a Cultura tem sido intenso. Temos o Conselho de Política Cultural que rege todas as políticas da área. E era um conselho que não me reconhecia como uma pessoa fazedora de cultura. Eu tive que ter muita humildade para dizer que eu vim como gestora porque o prefeito viu em mim uma capacidade para cuidar de algumas coisas e então me coloquei disposta. E uma das condições que eu pedi foi a de trazer um diretor que fosse irreparável, que tivesse muito conhecimento com a Cultura. Aí surgiu o nome do Gabriel Rapassi, que já tinha sido diretor de Cultura. Então acho que as lacunas que talvez eu sentisse na época foram compensadas por uma equipe muito forte.

A Cultura ficou renegada por anos. Como a sra. estrutura os trabalhos, a distribuição de recursos, o Condepacc, a orquestra e a obra do Centro de Convivência Cultural?

Falo sem falsa modéstia, a Cultura da cidade não é a mesma que a gente pegou. E isso começa a ficar cada vez mais claro nas interlocuções. A história da estratégia do turismo como uma forma de mostrar a cidade é válida, mas a cultura é mais do que só mostrar a cidade. Na verdade, o instrumento do turismo hoje são os equipamentos culturais. Hoje eu posso dizer que eu conheço do que estamos fazendo, mas meu primeiro tempo foi garantir orçamento para a Cultura e o Turismo terem relevância e conhecer e entender cada um desses desafios. Me aproximo de cada uma das demandas. Me aproximei da orquestra, passei a me reunir com a comissão artística, com a associação e conhecer as demandas. E desenvolvemos uma estratégia. Agora tanto a diretoria de Cultura quanto a de Turismo se norteiam por planos de desenvolvimento. Tudo o que temos feito e o que faremos têm que estar alinhado com essas diretrizes. A orquestra, que é um patrimônio da cidade, hoje pulsa. No Condepacc também conseguimos alinhar e entender os desafios homéricos. Tudo o que é definido tem um respaldo técnico muito grande. E isso em todas as áreas. Eles têm segurança de que não haverá falta de recursos. Se é importante fazer, a gente vai fazer. E vamos arrumar dinheiro para isso. O desenvolvimento humano de uma sociedade passa pela sua cultura.

E como está a ocupação dos espaços culturais da cidade? Há uma previsão para o Centro de Convivência Cultural reabrir?

Hoje os espaços estão todos ocupados. O Macc, por exemplo, não tem dia mais para se expor. No teatro Castro Mendes é a mesma coisa. Campinas é uma cidade que tem muito protagonismo cultural. Os teatros lotam. É só a gente ter organização para receber os espetáculos. Precisávamos fazer a lição de casa. E fizemos. Hoje toda a semana tem coisas acontecendo na cidade. Em breve retomaremos o Centro de Convivência Cultural, que é um ícone para a cidade. Estamos assinando agora o aditamento do contrato para o término este ano da primeira parte da obra, que é a civil. E devemos refazer o projeto executivo e lançar o edital para a segunda fase da reforma no próximo mês. A previsão é entregar definitivamente o Centro de Convivência em 2024, mas, possivelmente, tenham áreas que ficarão prontas antes, por exemplo, as áreas expositivas, e a área do Café, que esperamos voltar a se chamar Café La Recoleta. Vamos avaliar sim a possibilidade de ir entregando ao público o Centro de Convivência Cultural por etapas, antes da entrega definitiva em 24. 

E como a sra. pretende consolidar a cultura para os quatro cantos da cidade?

O desafio da cultura é o território cultural. A gente tem o protagonismo cultural no centro da cidade. Mas a gente quer ter o mesmo protagonismo nos bairros mais periféricos, com o mesmo número de atividades. Está aí a grande mudança de postura da secretaria, que é criar essa questão de territórios culturais. Garantir um olhar para a cidade inteira, e a cultura em todos os lugares. É a cidade se entender como cultura. Ver a cultura acontecendo com a mesma qualidade que ela é oferecida nos equipamentos mais centrais. O que vamos fazer é dar escala aos projetos culturais. Aprovamos recursos importantes para a cultura e centenas de pessoas e projetos culturais foram contemplados. Não vai faltar dinheiro. E fazemos isso com o Conselho. Não tem como fazer cultura sem o Conselho. E vamos levar as produções culturais para todos os equipamentos públicos disponíveis.

E em relação ao turismo, a área de negócios e eventos parece consolidada. O que está por vir?

Nós temos um plano de desenvolvimento turístico que nos revela que o que temos que fazer é consolidar as outras vertentes do turismo. O ciclo turismo, o turismo cultural, o turismo astronômico, por exemplo. Usar tudo o que temos a nosso favor para lotar os hotéis aos finais de semana, como São Paulo fez. São Paulo se transformou na capital do turismo cultural. Precisamos fazer o mesmo. Ter museus abertos aos finais de semana, teatro com intensa atividade. Receber as pessoas da região e com isso elevar a ocupação dos hotéis aos finais de semana. A cidade conta com um parque hoteleiro com estrutura conceito A. Temos ainda muitas metas a serem alcançadas, mas já sinalizamos todas as trilhas em projeto muito audacioso para receber pessoas ligadas ao cicloturismo. Uma das metas é criar produtos. O turismo não vive só da divulgação. Ele tem que ter produto.

E o que se pode destacar de prático nesse sentido?

Quando a pessoa quer nos visitar ela tem que ter o que fazer. Encontrar coisas fáceis. E a secretaria vem trabalhando nessa qualificação do nosso material. Vamos lançar um mapa ilustrativo da cidade. Como o que existe em cidades como Paris, por exemplo. Um mapa com o desenho dos prédios dos locais que podem ser visitados. Não será um mapa em escala. Será um mapa com dicas. Um verdadeiro guia da cidade. Ele está quase finalizado, vai ser impresso e também terá um formato digital. Nele vão conter todos os roteiros disponíveis de Campinas para a pessoa fazer de carro ou de ônibus. Com o mapa a pessoa vai saber como se visita essa cidade, como se consegue fazer turismo em Campinas. Será um incentivo para o turista visitar os pontos turísticos da cidade. O material que terá o objetivo de fazer a pessoa perceber a cidade do ponto de vista dos seus atrativos. O nosso desafio está sendo empacotar os produtos que a cidade oferece e colocar a cidade à disposição para quem deseja conhecê-la.

Parece que a sra. tem mesmo muito trabalho pela frente. E para relaxar, a sra. pratica algum hobby?

Sou muito intensa. Normalmente acordo muito cedo. Madrugo mesmo. Acordo todos os dias as 4h40 da manhã. Meu relax é a atividade física. A prática de esportes. Faço academia todos os dias, e também corrida. Já pratiquei boxe também. Mas é a atividade física que me acalma, que me relaxa, aliada a uma alimentação saudável.

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