Número se manteve estável em relação ao ano passado, segundo levantamento da Prefeitura
Moradores de rua no entorno do Viaduto Miguel Vicente Cury: região central concentra 57% do total (Elcio Alves/AAN)
O Correio teve acesso ao novo relatório da Secretaria de Cidadania, Assistência e Inclusão Social que mostra que o número de pessoas vivendo nas ruas de Campinas se mantém estável. De acordo com o levantamento, 601 pessoas estão em situação de rua. No ano passado, a pesquisa mostrava 609. A contagem foi feita no dia 28 de fevereiro, mas só foi divulgada agora. Participaram do trabalho dezenas de profissionais da Prefeitura e de organizações não governamentais (ONGs) que atuam junto a esse público. Foi traçado o perfil social dessa população que servirá para definir as próximas ações a serem desenvolvidas pela rede de assistência social.
O trabalho coordenado pela secretaria revelou que 57% dos moradores de rua estão instalados na região central da cidade e bairros adjacentes. Noventa pessoas,15% dos entrevistados, afirmaram possuir família em Campinas, mas optaram por viver na rua. “Também se enquadram nessa categoria pessoas que estão na rua por conta do álcool ou das drogas”, disse Cátia Rose Gonçalves da Silva, coordenadora setorial de proteção social especial para população adulta em situação de rua. Outras 58 pessoas disseram que vivem mudando de cidade em cidade. O mapeamento ainda mostrou que 75 pessoas (12%) que já moraram na rua estão vivendo em abrigos, que são utilizados para o banho, refeições e descanso. O número revela também que 16% dos moradores de rua de Campinas são egressos do sistema prisional. O levantamento do ano passado mostrava que 35% dos moradores de rua eram ex-presidiários. A pesquisa feita pela Secretaria de Cidadania também revelou que 76% são dependentes químicos de álcool e/ou outras drogas. O crack, com 232 usuários (25%) só perde para os viciados em álcool, que somam 311 pessoas (34% do total). O período de vivência na rua também foi pesquisado. A maioria das pessoas (38%) não revelou há quanto tempo mora na rua. Aqueles que afirmaram estar nessas condições há mais de sete anos somaram 30%. Outros 26% disseram que estão vivendo dessa forma a menos de seis meses.
Janete Aparecida Giorgetti Valente, secretária de Cidadania, Assistência e Inclusão Social, explicou que a forma como a contagem é feita hoje foi estabelecida em 2011 e passou a ser realizada uma vez por ano, sempre em fevereiro. No primeiro ano foram identificados 535 moradores de rua.
Através da contagem é estabelecido o plano de trabalho a ser desenvolvido. “A rua tem aspectos variados dos seus usuários. Por isso, os serviços precisam atender às diversas necessidades para tentar um resultado mais eficiente”, disse.
Ela defende o trabalho humanizado e disse que a secretaria tem como foco a reaproximação com a família. “Essa é sempre a perspectiva, mas geralmente um motivo familiar levou a pessoa até a rua, por isso, essa família precisa ser cuidadosamente reconstruída para reatar os laços.Nós, como poder público, temos o dever de oferecer o trabalho humanizado, mas o resultado dele nem sempre é aquele que gostaríamos, porque as consequências instaladas no indivíduo são difíceis de serem revertidas, mas é um ser humano e precisa ser olhado independentemente da substância que usa”, disse.
Janete atua na secretaria há 17 anos e está na chefia da pasta há três semanas. Ela já coordenou trabalhos de rua e disse ser favorável às atividades de voluntários que servem alimentação à população de rua. “Essas ações são muito bem-vindas, mas precisam ser organizadas. Temos uma grande rede com entidades que realizam grandes esforços. Os voluntários precisam entender que se estivermos juntos, vamos vencer melhor.”
Erro de contagem
Em março do ano passado, a estimativa era de que 609 pessoas moravam nas ruas de Campinas. Em maio, as secretarias que participavam do Plano Municipal Integrado de Enfrentamento ao Crack e Outras Drogas de Campinas, apontaram que o número chegava perto de mil.
O aumento teria sido motivado pela migração de craqueiros vindos de São Paulo após uma operação feita pela Polícia Militar na região da Capital paulista conhecida como cracolândia. O secretário de Assistência Social na época, Dimas Alcides Gonçalves, confirmou as informações.
No entanto, este ano, foi detectado um equívoco nos cálculos feitos pelo ex-secretário, informou a pasta. De acordo com a assessoria de imprensa da secretaria, o número oficial de 2012 é 609. No ano passado, a secretaria acabou somando esse número com um outro levantamento que mapeou apenas os moradores que ficavam nas imediações da Catedral. A soma resultou um total de 980 moradores de ruas, mas os nomes nas duas listas eram repetidos.