Consumidores compram pescados no Mercadão, enquando do lado de fora pessoas aglomeradas aguardam a vez para serem atendidas (Diogo Zacarias/ Correio Popular)
A tradição de comer peixes no almoço de domingo de Páscoa não foi deixada de lado por uma grande multidão de consumidores, ontem em Campinas, mesmo nestes tempos de pandemia. As peixarias do Mercado Municipal - o Mercadão - ficaram lotadas durante todo o dia, causando filas no entorno do prédio e nas barracas do estacionamento, instaladas para atender a população em condições melhores de distanciamento.
O acesso foi controlado na entrada do Mercadão, provocando fila na parte externa em respeito às regras criadas para o período emergencial de Campinas com objetivo de conter o contágio da covid-19. A regra determina um limite da capacidade de atendimento na área interna e a entrada de apenas uma pessoa por família, como ocorre nos supermercados.
Na área de estacionamento, barracas com barras de ferro enfileiradas serviram para organizar outra fila. As pessoas pegavam senhas para o atendimento e, depois de comprar seu peixe, enfrentavam outra fila para retirada.
A grande maioria utilizava máscaras e, quando alguém tirava, os agentes da Serviços Técnicos Gerais de Campinas (Setec) orientavam para o respeito às regras. Porém, o distanciamento nas filas não foi respeitado em boa parte do trecho.
Mário Souto Mendes, cozinheiro, disse que foi buscar um bacalhau, mesmo sendo importado e apresentar preço elevado. "Não tem jeito. É tradição na Páscoa comer bacalhau com a família. Vou economizar em outras coisas", afirmou.
A estagiária de Direito, Vitória Amaro - foi buscar cação e bacalhau, na fila para pegar senha ficou 30 minutos e mais 15 minutos para a compra e retirada do produto. "A Páscoa é sagrada. Tem que ter peixe sempre. Faremos uma reunião com quatro pessoas, respeitando todos os cuidados de distanciamento e higiene", comentou.
Maurício Ionésio da Silva, motorista, foi com a esposa comprar dois tipos de peixe e ambos ficaram mais de 30 minutos no local para retirar. "A tradição será mantida. Com a pandemia, poucos familiares vão estar presentes. Só assustou a fila para a compra no Mercadão", afirmou.
Ricardo Gomes da Silva caminhoneiro, disse que todo ano vem buscar peixes e neste ano decidiu levar camarão e corvina. "Só não gostei da fila. Fiquei quase uma hora para finalizar", reclamou.
Dinay Adorno de Jesus, técnica de enfermagem, reforçou também que a compra do peixe é tradição de família. "Só participarão do almoço de Páscoa os meus pais, eu e o namorado. Vamos fazer moqueca com um pintado", revelou.
[INTERTITULO]Vendas
[/INTERTITULO]Apesar da grande procura ontem, a expectativa ainda é de vendas 30% abaixo neste ano, comparadas à Páscoa do ano passado. Adriana Tavares Romero, proprietária da Peixaria Combate, disse que a procura está boa, mas não está igual ao verificado no ano passado. "As vendas começaram a crescer na segunda-feira e nesta quinta-feira está sendo o melhor dia", comentou. "No domingo de Ramos foi muito fraco e a esperança é de manter o bom movimento até sábado", afirmou.
Os peixes mais procurados são tilápia e sardinha. Já o bacalhau e o salmão estão tendo menor procura por serem importados e estão com preços mais altos. Adriana prevê uma queda de 30% nas vendas em relação à Páscoa do ano passado. "Até o momento existe uma redução de 50% nas vendas deste ano, desde o inicio da quaresma. No domingo de Ramos a peixaria vendeu 200 quilos de tilápia no ano passado, porém caiu para uma venda de 80 k neste ano", comparou.
[INTERTITULO]Abertura e cuidados
[/INTERTITULO]Por ser feriado, o Mercadão abrirá hoje das 7h às 12h. Já no sábado, abrirá das 7h às 16h e no domingo, das 7h às 12h. A Associação dos Permissionários do Mercado Municipal e a Setec informaram que os cuidados foram redobrados neste período de pandemia e atende aos protocolos indicados pelas autoridades da área da saúde, evitando a contaminação pelo coronavirus.
O funcionamento existe apenas nos boxes de alimentação, como verduras, frutas açougues e peixarias. Para evitar aglomerações, foram instalados gradis e tendas para que seja organizada uma fila com distanciamento na entrada das peixarias, que conta com apenas um acesso pela parte externa do Mercadão.
Também existe o controle no acesso para área interna, onde ficam os açougues e os boxes que vendem bacalhau, entre outros alimentos in natura. Não funcionam bares, restaurantes e lanchonetes.
As portas laterais permanecerão fechadas e a entrada, permitida para apenas uma pessoa por família. É permitida a entrada de apenas 30 pessoas de cada vez. Conforme as pessoas saem, outras são autorizadas a entrar, sempre utilizando máscara cobrindo a boca e o nariz.
Um momento de conversão e amor fraterno
Antes da Páscoa, a Igreja se prepara durante quarenta dias, a chamada Quaresma. Acabada a quarentena, há, então, o Tríduo Pascal: composto pela quinta, sexta e sábado santos, culminando no Domingo da Ressurreição, que é a festa mais importante para o cristão.
“A festa também quer nos lembrar que nós precisamos cotidianamente morrer para algumas realidades e renascer para outras”, afirma o padre Fábio, referindo-se ao abandono do pecado, à vida de conversão e de amor ao próximo.