diplomacia

Cônsul americano ataca China e OMS

Cônsul-Geral, Adam Shub, responsabiliza chineses e a organização por descontrole da pandemia

Tote Nunes
26/07/2020 às 00:20.
Atualizado em 28/03/2022 às 20:42
Cônsul-Geral dos EUA em São Paulo, Adam Shub: interesse em fortalecer relações com a região de Campinas (Divulgação)

Cônsul-Geral dos EUA em São Paulo, Adam Shub: interesse em fortalecer relações com a região de Campinas (Divulgação)

Em entrevista exclusiva ao Correio Popular, o cônsul-geral dos Estados Unidos em São Paulo, Adam Shub fez duras críticas à postura da China e da OMS (Organização Mundial da Saúde) na estratégia de enfrentamento à pandemia do coronavírus.  Segundo ele, “se a OMS tivesse feito seu trabalho de levar especialistas médicos para a China a fim de avaliar objetivamente a situação in loco e ressaltar a falta de transparência da China, o surto poderia ter sido contido em um ponto de origem com um número muito pequeno de mortes”, afirmou. Bacharel em História pela Columbia College, Adam Shub é diplomata sênior do Serviço Diplomático dos Estados Unidos e comanda o consulado geral em São Paulo desde agosto de 2018. Já serviu em Bruxelas como ministro conselheiro da Missão dos Estados Unidos na União Europeia e ocupou diversos cargos também no Oriente Médio e na América Latina. Ele garantiu que Trump e Bolsonaro construíram “um relacionamento muito forte” o que levou a um “realinhamento significativo” dos dois governos. Reiterou apoio do governo — e de empresas norte-americanas — a projetos de combate à pandemia desenvolvidos no Brasil e especialmente em Campinas. E falou de imigração em tom de alerta. “Para os que querem viajar ilegalmente, as coisas mudaram”, disse. Veja os principais pontos da entrevista. Correio Popular - Desde o início, o governo do presidente Jair Bolsonaro optou por um alinhamento quase automático aos Estados Unidos, numa situação inédita na história dos dois países. O Sr. acha que isso trouxe algum benefício ao Brasil? Adam Shub — Brasil e Estados Unidos têm uma relação bilateral historicamente marcada pela amizade. Dependendo do governante que está no poder, essa proximidade foi maior ou menor. O presidente Trump e o presidente Bolsonaro construíram um relacionamento muito forte, que levou nossos dois governos a um realinhamento significativo, desenvolvendo um grande potencial de cooperação. Essa convergência faz com que haja uma maior aproximação, e a relação se torna, se não mais fácil, menos difícil. Alguns setores no Brasil ainda têm dúvidas sobre as intenções dos Estados Unidos e vice-versa. Mas a verdade é que nestes 18 meses temos trabalhado bastante, e conjuntamente, nas áreas em que nós temos muitos objetivos comuns - indústria, ciência, tecnologia, agricultura, educação. Região E aqui, em Campinas, essa parceria também vem produzindo resultados palpáveis, já que a cidade é uma parceira-chave nas áreas de economia, educação e inovação para os EUA. Esta é a segunda maior cidade do estado de São Paulo, com um PIB superior ao da Bolívia e do Paraguai. A Câmara Americana (AmCham) local tem mais de 650 empresas-membros representando um quarto do PIB da região metropolitana. Cinquenta das 500 maiores empresas do mundo têm operações na cidade. Nós conduzimos missões comerciais para trazer empresas norte-americanas a Campinas para apoiar o desenvolvimento da infraestrutura de cidades inteligentes. Organizamos visitas técnicas de autoridades municipais aos Estados Unidos para conhecerem e implementarem sistemas de energia renovável e saneamento no Brasil. Nós também oferecemos treinamento a autoridades municipais compartilhando melhores práticas com relação à administração de contratos públicos. Nosso setor de agricultura tem parcerias com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) para promover pesquisas agrícolas conjuntas. Nossas agências que lidam com segurança e forças policiais têm também compartilhado melhores práticas com autoridades de imigração e policiais do aeroporto de Viracopos para melhorar o gerenciamento de crises e ajudar funcionários de empresas aéreas a identificar documentos falsos. Como o Sr. avalia a forma como Brasil está enfrentando a pandemia do coronavírus, em comparação com o que é feito nos Estados Unidos? Estamos focados em continuar cooperando com o governo do Brasil, seja por meio da nossa colaboração científica de vários anos entre o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), seja fazendo doações relevantes por meio de nossas agências, como a USAID. O governo dos EUA já doou mais de US$ 15 milhões (aproximadamente R$ 78 milhões) ao Brasil para ajudar a combater a crise gerada pela Covid-19.?Fazem parte desse montante uma primeira leva de 200 ventiladores doados ao sistema público de saúde. Outros 800 equipamentos serão entregues em breve. E as empresas norte-americanas presentes no Brasil também estão contribuindo bastante. Segundo um levantamento informal que fizemos em parceria com a AmCham e o Grupo +Unidos, 73 companhias doaram mais de US$ 53 milhões (aproximadamente R$ 275 milhões). No total, portanto, são mais de US$ 68 milhões ou, aproximadamente, R$ 353 milhões dos EUA para Brasil. O governo brasileiro apoiou a decisão dos Estados Unidos de deixarem a OMS. O Sr. vê apoio similar em outros países do continente? Os Estados Unidos são os maiores doadores mundiais para a saúde pública global, doando bilhões de dólares a cada ano para combater doenças como HIV/Aids, ebola, malária e, agora, Covid-19. Esse compromisso com a saúde pública global permanece firme. O presidente Trump tomou a decisão de romper com a Organização Mundial de Saúde (OMS) por entender que a entidade precisa de reformas e necessita demonstrar mais claramente sua independência com relação à China, onde a pandemia se iniciou. Houve uma cumplicidade entre a entidade e a China para camuflar a origem do vírus, o que contraria o próprio regulamento da OMS. Antes do rompimento, o presidente Trump escreveu uma carta ao diretor-geral da OMS explicitando os pontos nos quais a entidade havia falhado em assumir suas responsabilidades no gerenciamento da pandemia, e que os Estados Unidos gostariam de ver mudanças nesse comportamento. Mais de 120 países de todo o mundo apoiam uma investigação sobre as origens do surto de Covid-19. Enquanto o Partido Comunista Chinês suprimia o fato crucial de que o surto em Wuhan estava se espalhando por meio da transmissão de pessoa para pessoa, Taiwan sinalizava essa preocupação para a OMS em 31 de dezembro. Pequim continua a negar aos investigadores acesso a instalações relevantes, a reter amostras de vírus vivos, a censurar a discussão sobre a pandemia na China e muito, muito mais. Como disse o presidente Trump, se a OMS tivesse feito seu trabalho de levar especialistas médicos para a China a fim de avaliar objetivamente a situação in loco e ressaltar a falta de transparência da China, o surto poderia ter sido contido em um ponto de origem com um número muito pequeno de mortes. O Sr. vê alguma possibilidade de adoção de uma política menos restritiva para a entrada de imigrantes brasileiros nos Estados Unidos? Os brasileiros são bem- vindos para viajar legalmente para os Estados Unidos. Com exceção deste momento de pandemia, em que há restrições pontuais para a entrada de estrangeiros e suspensão de entrevistas rotineiras de visto por questões de saúde, os Estados Unidos continuam abertos aos brasileiros que viajam legalmente aos EUA. Vale lembrar que todos os brasileiros devem atender aos requisitos estabelecidos pelas leis de imigração dos Estados Unidos para estudar, trabalhar e viver no país--bem como americanos no Brasil. Entretanto, para os que querem viajar ilegalmente, as coisas mudaram. Estamos trabalhando com outros países da região para fortalecer nossas fronteiras e lutar contra as redes de tráfico de pessoas e repatriar aqueles que tentam entrar ilegalmente nos EUA. O importante é que brasileiros em situação regular e legítima sempre serão bem-vindos. Prova disso é que, nos últimos três anos (2017 a 2019), o Brasil teve o segundo maior aumento (9,8%) no número de alunos que estudam nos Estados Unidos, comparado ao resto do mundo. Em 2019, o Brasil foi o sétimo país com maior número de visitantes aos EUA num ranking global — um total de 2,1 milhões de pessoas. Além disso, a comunidade de imigrantes brasileiros nos EUA também é expressiva.

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