BOAS PERSPECTIVAS

Construção civil local projeta crescimento de 2,4% em 2023

Setor aposta no avanço de empreendimentos considerados de interesse social

Rodrigo Piomonte
08/12/2022 às 08:51.
Atualizado em 08/12/2022 às 08:51
Sindicato da Indústria da Construção (SindusCon) acredita em um cenário mais favorável no próximo ano em relação aos preços dos insumos utilizados pelo setor (Gustavo Tilio)

Sindicato da Indústria da Construção (SindusCon) acredita em um cenário mais favorável no próximo ano em relação aos preços dos insumos utilizados pelo setor (Gustavo Tilio)

O setor da construção civil de Campinas trabalha com a expectativa de uma expansão calculada em 2,4% para o próximo ano. A projeção é do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusConSP). A notícia acompanha a comemoração do setor de aumento do Produto Interno Bruto (PIB - Setorial), que foi revisada para cima e estimada em 7% neste ano. Outra boa notícia para 2023 é a estimativa de que o segmento contará com um cenário mais favorável em relação aos preços dos insumos.

Para o diretor da Regional Campinas do SindusCon, Marcio Benvenutti, a área da construção civil que mais deve sentir os benefícios dessa onda de crescimento é a da edificação de empreendimentos e locação social. A expectativa também fica por conta da incidência de algum estímulo por parte do novo governo para alavancar os empreendimentos voltados para essa faixa de renda. "Em 2022, houve uma queda nesse tipo de empreendimento e no próximo ano, com a formulação de um novo programa de habitação para a população de baixa renda, a expectativa é que tenhamos algum estímulo para o aumento desse segmento de moradia social, que é muito importante para uma grande parcela da população", disse Benvenutti.

O diretor da Regional Campinas também destacou que os negócios no setor da construção civil no próximo ano podem também ser alavancados a partir das obras voltadas para infraestrutura. "Essa é outra área que tem uma importância estratégica para o setor da construção civil", explica.

Durante a divulgação do PIB setorial do setor neste ano, o vice-presidente de Economia do SindusCon-SP, Eduardo Zaidan, projetou que 2023 será um momento de "arrumação da economia e com muitos desafios". Ele explica que o bom desempenho do mercado imobiliário este ano, mesmo com taxas de juros alta, desemprego e menor renda disponível das famílias, ocorreu muito por conta da percepção de desencanto com o mercado financeiro durante a pandemia, e por conta dos muitos lançamentos represados dos anos anteriores de pandemia. 

O resultado do PIB do setor de alta de 7% esse ano é 3,5 vezes acima da projeção feita em janeiro, quando apontava para alta de 2%. "As previsões do início deste ano de todos os setores, inclusive as da construção, foram superadas, uma vez que no começo de 2022 as visões ainda estavam contaminadas pelos efeitos recessivos da pandemia", disse.

Os últimos dados mostram que no terceiro trimestre do ano, a construção cresceu 1,1% puxada pelo segmento formal do setor. O resultado representa a quinta alta consecutiva. Até setembro, o setor acumula expansão de 8,2%. O PIB trimestral não permite distinguir a contribuição da produção formal para o crescimento. Mas outros indicadores mostram que a parte formal da construção, ou seja, as obras produzidas pelas construtoras têm sido determinantes dessa dinâmica.

Para o bom desempenho do PIB setorial de 2022, o segmento de edificações (obras residenciais e comerciais) foi o principal responsável. O segmento deve fechar com alta de 13%. Na sequência, vêm os serviços especializados para obras, que devem fechar com alta de 12%. Em relação às obras de infraestrutura a expectativa é de uma contribuição de 5%. Já as obras e reformas domésticas, tocadas por conta própria pelas famílias, devem acabar com uma retração de 2%, reflexo do endividamento das famílias ao longo do ano.

Para o mercado da construção civil uma retomada dos programas de habitação de interesse social no país, a partir do novo governo, em 2023, deve trazer um impulso a mais. No entanto, a expectativa neste caso é de projeções positivas para os anos seguintes, a partir de uma estruturação do programa. A falta de espaço no orçamento federal para a contratação de habitações de interesse social é a justificativa do setor em relação ao novo governo.

A projeção do PIB setorial revisada para cima neste ano e um crescimento estimado no momento de 2,4%, em 2023 refletem a postura de algumas empresas, que seguram investimentos. "Se o setor da construção não tomar decisões em dezembro, precisará tomá-las em janeiro", aponta Zaidan.

Esse cenário impacta a geração de emprego. A perspectiva da construção civil é de esperar que o emprego na construção civil ainda cresça em 2023, mas não na mesma proporção que em 2022.

Os dados do último balanço de saldo de empregos divulgado pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) de outubro deste ano já apontam para os impactos e uma desaceleração na geração de vagas dentro do setor na Região Metropolitana de Campinas (RMC). A construção civil apresentou o menor saldo, com 391 vagas em outubro, de um total de 4.840 postos de trabaçlho gerados. O comércio aparece com melhor saldo, seguido de serviços, agro, indústria e por último a construção civil.

A falta de espaço fiscal para um crescimento maior da infraestrutura também é observado como ponto que compromete o crescimento do setor. Segundo o entendimento dos industriais, existe uma necessidade de criação de um modelo indutor do investimento público e privado em infraestrutura. Diante das incertezas, o SindusCon-SP aponta que por ora o setor trabalha para cumprir os contratos firmados e que esta atividade vai se prolongar em 2023.

Para a coordenadora de Projetos de Construção do FGV/Ibre, Ana Maria Castelo, em relação a retomada do programa Minha Casa, Minha Vida, a expectativa fica por um protagonismo maior para empreendimentos de baixa renda. "Retomar o programa nos moldes anteriores não será possível, dada a nova realidade fiscal. Está claro que o aprendizado do programa precisa ser incorporado, como o aluguel social e outras formas de atuação em conjunto com estados e municípios e com a iniciativa privada", disse. 

Segundo Ana, mesmo com uma conjuntura mais adversa dada pela forte elevação da taxa de juros Selic e dos preços dos imóveis, o ciclo de negócios do setor se sustentou neste ano. A expectativa é que 2023 o ciclo pode ser mais favorável aos segmentos de alta renda e habitação econômica, no segmento de edificações. A projeção da especialista fica por conta de um crescimento de 5% para edificações, 4% para serviços da construção, 1% para infraestrutura e 1% para o chamado "consumo formiguinha" e autogestão.

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