COMPLEXO FERROVIÁRIO

Conselho de Arquitetura vai apurar projetos de revitalização

Órgão analisará se procedimentos técnicos de preservação estão sendo seguidos

Thiago Rovêdo
30/03/2022 às 10:14.
Atualizado em 30/03/2022 às 10:14
Segundo o Conselho de Arquitetura e Urbanismo, o Pátio de Recolhimento de Veículos não poderia funcionar dentro do complexo ferroviário (Diogo Zacarias)

Segundo o Conselho de Arquitetura e Urbanismo, o Pátio de Recolhimento de Veículos não poderia funcionar dentro do complexo ferroviário (Diogo Zacarias)

O Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo (CAU/ SP) abriu duas investigações para apurar os projetos de requalificação urbana do pátio ferroviário de Campinas e da Avenida Campos Sales, no Centro. A entidade defende que sejam garantidos procedimentos técnicos e legais para preservação do patrimônio tombado e haja amplo debate público. Segundo o órgão, as apurações se fazem necessárias pois os projetos não teriam um responsável técnico. O CAU informou que qualquer projeto deve ser conduzido por um arquiteto habilitado no órgão, além de possuir o Registro de Responsabilidade Técnica (RRT).

Porém, a Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec) afirmou que o projeto da Avenida Campos Sales tem um profissional responsável, enquanto o do pátio ferroviário é ainda um projeto conceitual.

A intenção da Emdec é destinar parte do complexo ferroviário — 38.330 metros quadrados pertencentes à União — para empreendimentos empresariais, edifícios residenciais e comerciais, como shopping center. O restante do projeto de requalificação urbana do pátio ferroviário pretende implantar ainda pista de skate, teatro de arena, centro de memória, instituição de ensino, entre outros pontos. A Emdec informou que esse projeto conceitual foi apresentado inicialmente à Secretaria do Patrimônio da União (SPU), responsável pela área. Ainda é uma proposta, um estudo interno para o desenvolvimento do projeto com outros setores (público-privado).

"Com isso, foi possível dar visibilidade para a área, diante das potencialidades e importância histórica. Quando o projeto executivo for elaborado, será submetido aos setores competentes", informou a Emdec.

A vice-presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo (CAU/SP), Poliana Risso, afirmou que é importante que se garanta uma série de procedimentos técnicos e legais nesse projeto. "Que sejam respeitadas as diretrizes de preservação emitidas pelos órgãos responsáveis pelo tombamento nas diversas instâncias. Que sejam realizados preferencialmente por meio de concursos públicos de projetos, com respectivos processos participativos e audiências, de forma a garantir o debate público", afirmou em nota.

O CAU/SP lembrou que o pátio ferroviário, além da questão cultural, também tem importância logística para a Região Metropolitana de Campinas (RMC). "Além desses aspectos, por suas grandes dimensões, comportaria vários usos, atendendo a várias demandas da sociedade, tais como o transporte ferroviário inter-regional, espaços para a fruição pública como praças e parques, espaços para eventos, shows, oficinas, gastronomia etc, usos não residenciais, como serviços, acomodação do comércio de rua, e hotelaria", disse Poliana.

Avenida Campos Salles

A requalificação dos 920 metros da Avenida Campos Sales está prevista para ser iniciada em agosto e deverá ser entregue em agosto de 2023, quando ocorrerá a conclusão das obras por completo. Os trabalhos serão divididos em ciclos, com duração de dois meses a cada trecho. O início se dará na Avenida Francisco Glicério até a Rua José Paulino, sendo o término desse trecho estimado em meados de setembro. Depois, serão executadas as obras até a Rua Ernesto Khulmann, com conclusão em outubro. Assim, as reformas serão executadas, sucessivamente, em etapas, até chegarem à Avenida Andrade Neves, próxima à antiga fábrica Lidgerwood.

Para quem estiver descendo a Avenida Campos Sales, do lado direito, a calçada será ampliada em dois metros. Serão mantidas duas faixas para carros e a faixa exclusiva de ônibus no lado esquerdo. "No projeto de requalificação da Campos Sales, a arquiteta responsável é Maria Rita Silveira de Paula Amoroso", disse a Emdec.

Problemas

Desde que tornou públicos os planos para revitalizar o pátio ferroviário, além de construir um shopping popular para onde pretende transferir os camelôs que hoje ocupam o entorno do Terminal Central, a Prefeitura de Campinas vem enfrentando resistência por parte dos setores da sociedade. O CAU/SP não é o primeiro a questionar o projeto.

O arquiteto e urbanista Antonio Carlos Gomes protocolou uma denúncia no Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP), questionando as mudanças aprovadas pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc). Argumenta que elas podem desconfigurar o patrimônio arquitetônico do local e prejudicar a expansão de projetos ferroviários. O MPSP foi procurado para se posicionar sobre o tema, mas não retornou à reportagem.

Já o shopping popular, que estava com obras previstas para começarem em janeiro, seguem sem um prazo definido. No local onde o estabelecimento será construído, há partes tombadas, que não permitem o início da construção. O representante dos camelôs foi procurado, mas não retornou à reportagem. Já o Condepacc vai se pronunciar após análise dos técnicos e quando o assunto entrar na pauta de reunião, sem data prevista.

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