grupo de risco

Confinamento preocupa os pais de filhos autistas

O isolamento social adotado em todo o Brasil como forma de conter a Covid-19, tem gerado um grande desafio para as famílias com crianças autistas

Henrique Hein
10/04/2020 às 10:42.
Atualizado em 29/03/2022 às 16:17

O isolamento social adotado em cidades de todo o Brasil como forma de conter a disseminação do novo coronavírus (Covid-19), apesar de necessário, tem gerado um grande desafio para as famílias que possuem crianças autistas. Isso porque, a suspensão das aulas em creches e escolas tem levado muitos pais — inclusive que moram na Região Metropolitana de Campinas (RMC) — a buscar novas rotinas dentro de casa para não prejudicar o quadro clínico das crianças neste período de quarentena. Se não bastasse isso, outra preocupação também os assola: quem possui o transtorno faz parte do grupo de risco da Covid-19. Moradora de Monte Mor, a pedagoga Fabiana da Silva Santos, de 42 anos, sente na pele o drama de quem teme pela saúde de seus filhos nesse período de confinamento. Mãe dos gêmeos autistas Vitor e Nicolas, de 12 anos, ela conta que o período de quarentena causou a interrupção do tratamento terapêutico que a dupla fazia desde os quatro anos. Assim, amenizar os prejuízos que os dois possam vir a ter é uma batalha para ela. “Eu e meu marido colocamos uma rotina diária de atividades para fazer com eles. Algumas coisas do meu trabalho eu empurro com a barriga para fazer à noite, porque os dois demandam muito da nossa atenção”, comenta. Além da mudança na rotina, Fabiana conta que outra situação difícil é fazer os meninos compreenderem a importância do isolamento domiciliar. Segundo ela, os pedidos para brincar fora da casa têm aumentado com o passar dos dias. “O que eles mais querem hoje é brincar na rua. Eles estão me pedindo muito isso, mas eu explico que a situação ainda não permite. Eles ficam tristes, mas, por enquanto, ainda entendem os motivos.” Quem também vive uma situação semelhante é a campineira Carina Sanches, de 38 anos, mãe da Larissa, de sete. Ela conta que a pandemia tornou sua vida uma loucura, mas que durante a quarentena tem aproveitado o tempo livre para ficar ao lado filha autista. Para isso, ela precisou montar uma rotina de atividades para atender as necessidades diárias dela. “Durante a manhã, a gente estuda para compensar o fato de ela não ir mais à aula, e depois aproveitamos para passar o tempo juntas. Ela gosta muita de desenhar. Para ajudá-la a desenvolver a criatividade, eu sempre peço que ela desenhe determinada coisa para mim, como um passarinho ou um arco-íris”, conta. Apesar do auxilio, Carina explica que a filha tem ficado bastante triste ultimamente por só ficar em casa e não poder ver as amigas que possui na escola. Segundo ela, conter as emoções da pequena tem sido uma tarefa das mais difíceis. “Tem momentos do dia que a Larissa chora bastante por ter que ficar em casa, principalmente quando eu tenho que entrar em vídeoconferência com clientes e deixar ela de lado um pouco. Mas isso já melhorou. No começo era pior”, afirma a nutricionista, que está bastante preocupada com a Covid-19. “Eu tenho medo de que algo aconteça com a minha filha por causa dela fazer parte do grupo de risco. Como moramos sozinhas em casa, tenho evitado ir até mesmo ao mercado. Tenho pedido compras pelo serviço de entrega, coisa que nunca tinha feito na vida”, relata. Para Julia Sargi, analista do comportamento aplicado ao autismo, em tempos de quarentena a importância da figura do país na vida dos filhos autistas acaba sendo imprescindível. Segundo ela, manter os hábitos diários de higiene para que os pequenos não venham a contrair o vírus é apenas a ponta do iceberg, já que o confinamento — apesar de ser importante — também coloca em risco a continuidade do tratamento das crianças. “É importante que nesse momento de crise as famílias criem uma rotina de atividades para entreter as crianças com autismo porque a ausência disso pode gerar nela emoções mais intensas. Estamos falando de crianças com déficit no repertório da sociabilidade. Elas precisam ter a coordenação motora, a linguagem e os pensamentos estimulados. Cada uma delas, dentro do seu tempo”, afirma. De acordo com a especialista, com as aulas suspensas e os estabelecimentos públicos fechados, as famílias precisam usar a criatividade para dar continuidade à aprendizagem das crianças e manter ativa a parte das atividades pedagógicas e terapêuticas. Entre as atividades que podem ser usadas pelos pais para ajudar no desenvolvimento das crianças estão, por exemplo, ações como se fantasiar com roupas e acessórios divertidos que estejam em casa. “Os pais também podem montar um circuito de atividades com objetos para que as crianças possam se abaixar, pular e correr pela casa. Os pequenos podem ainda ajudar com algumas tarefas pontuais, como lavar a louça junto dos pais. Essas atividades dependem da sensibilidade e da criatividade dos pais. O importante é preencher uma agenda com atividades de lazer, sem esquecer que eles também precisam de um tempo de descanso”, ressalta.

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