NOVO CAMELÓDROMO

Condepacc veta destruição de galpão do pátio ferroviário de Campinas

Pedido foi feito pelo Sindipeic para viabilizar 1.688 boxes no shopping popular

Edimarcio A. Monteiro/ [email protected]
10/06/2022 às 10:09.
Atualizado em 10/06/2022 às 10:09
O motivo do adiamento das obras do novo shopping popular é um galpão do complexo ferroviário onde antigamente eram construídos os vagões para transporte de passageiros da Fepasa (Ricardo Lima)

O motivo do adiamento das obras do novo shopping popular é um galpão do complexo ferroviário onde antigamente eram construídos os vagões para transporte de passageiros da Fepasa (Ricardo Lima)

O Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc) vetou na quinta-feira (9) a demolição de um galpão do complexo ferroviário da antiga Ferrovia Paulista S.A. (Fepasa) para a construção do shopping dos camelôs no Centro. A decisão foi tomada em reunião que aprovou parcialmente a proposta de projeto apresentada pelo Sindicato dos Empreendedores Individuais de Ponto Fixo Público e Móvel de Campinas (Sindipeic), que representa os camelôs. 

Nesse projeto, o sindicato solicitou a derrubada do galpão, que é tombado pelo município. O pedido foi negado pelo Condepacc. A outra parte da reunião foi destinada a avaliar a incorporação de um armazém de tijolo à vista ao shopping popular. A proposta prevista no projeto do sindicato foi aprovada pelo conselho. 

O vereador José Carlos dos Santos, o Carlinhos Camelô (PSB), vice-presidente do Sindipeic, disse ter ficado surpreso com o veto à demolição do galpão, mas adotou uma posição cautelosa. Ele explicou que conversaria com o arquiteto e engenheiro responsáveis pelo shopping para avaliar a viabilidade de também incorporar o galpão tombado ao projeto. Ao pedir a demolição desse prédio na reunião do Condepacc do dia 26 de maio, o vereador disse que sua manutenção inviabilizaria a construção do shopping, previsto inicialmente para ter 42 mil metros quadrados de área construída, 1.688 boxes e receber investimentos de R$ 115 milhões.

Galpão tombado

A coordenadora de Extensão Cultural, Fabíola Rodrigues, que participou da reunião, destacou que esse antigo galpão de carros da Companhia Mogiana, que depois foi incorporado pela Fepasa, foi tombado pelo Condepacc em 2014, o que o impede a sua demolição. Ela explicou que, apesar de suas linhas arquitetônicas simples, o prédio tem uma grande importância histórica por ter feito parte do processo de industrialização ferroviária.

“Nesse galpão, foram construídos os carros (vagões para transporte de passageiros) usados na única linha férrea que se dirigia a Brasília, na ocasião de sua inauguração, e que partia de Campinas. Abrir mão dele é jogar a história no lixo”, afirmou o historiador Henrique Anunziata, da Coordenadoria Departamental de Patrimônio Cultural (CDPC), órgão da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo. Ele destacou ainda que o prédio, construído entre 1954 e 1955, usou técnicas de construção consideradas inovadoras para a época.

Até então, o padrão era o uso de tijolo, cimento e pedra. Já o galpão foi erguido com estrutura de ferro presa com parafusos, o que permitiu ter pé direito alto e um grande vão para a produção dos vagões de passageiros. 

A presidente do Condepacc e secretária municipal de Cultura e Turismo, Adriana Caprioli, admitiu a possibilidade de permitir apenas a demolição das edículas que ficam voltadas para a Rua Luiz Donizetti Rovaris, em frente ao Terminal Metropolitano Prefeito Magalhães Teixeira, por não terem valor histórico.

De acordo com ela, os arquitetos que fazem parte do conselho se colocaram à disposição do Sindicato dos Camelôs para encontrar soluções que possibilitem a incorporação do galpão pelo centro de compras popular. “Ele pode ser usado como praça de alimentação ou ser uma das entradas do shopping”, exemplificou. Quanto ao prédio de tijolos à vista, chamado de armazém de exportação, o Condepacc aprovou a forma como ele foi incorporado ao projeto do shopping e a sua revitalização. 

Camelôs

O vereador Carlinhos Camelô se disse triste com o veto para demolição do galpão de carros. Ele disse que a proibição atrasará o início das obras e poderá ter impacto no custo da construção. “Não sei porque manter essa estrutura, mas tudo bem. Vamos ver se é possível incorporar essa área”, afirmou. 

Anteriormente, o vice-presidente do Sindipeic havia dito que a manutenção do galpão resultaria na redução de aproximadamente 600 boxes do shopping, o que impediria a acomodação de todos os 1.380 camelôs existentes nas ruas do Centro.

“Não há garantia de que conseguiremos colocar todos os microempreendedores no shopping. Vamos ter que começar tudo de novo”, lamentou. O vereador acrescentou que a nova mudança exigida fará com que o projeto volte a ser discutido com a categoria. Além disso, será necessário negociar com o Ministério Público o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) que prevê a retirada dos camelô do Centro. Firmado em 2019, o acordo tem prazo de dois anos, prorrogável por mais dois, vencendo no próximo ano. “Perdemos um ano meio por causa da pandemia de covid-19 e agora tem o galpão. Não temos culpa pelo atraso, voltamos à estaca zero”, argumentou.

Críticas 

O Conselho Municipal de Política Cultural (CMPC) divulgou um documento em que critica o governo municipal por não discutir com o órgão os projetos que envolvem a construção de empreendimentos no complexo ferroviário da Fepasa. Além do shopping popular, há previsão de construção de torres residenciais na área hoje ocupada pela Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec).

“Salientamos que o Conselho Municipal de Política Cultural foi surpreendido por não ter sido consultado e não ter participado previamente das discussões que resultaram nos referidos projetos e deliberações”, afirma o documento. 

A secretária Adriana Caprioli respondeu que “as deliberações do Condepacc não dependem de prévia anuência do CMPC”. Ela ressaltou que órgão tem assento no Conselho de Preservação Histórica e não pode justificar desconhecimento dos projetos. A secretária ponderou, porém, que o CMPC é um espaço institucional legítimo e que a Administração está aberta a discutir o Plano de Revitalização da Área Central (PRAC) com o conselho e toda a sociedade organizada.

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