CAMPINAS

Computadores da Câmara custam 77% a mais

Cotação feita pela Agência Anhanguera de Notícias tem preço menor ao previsto pelo Legislativo

Milene Moreto
23/11/2013 às 10:16.
Atualizado em 24/04/2022 às 22:22

A Câmara de Campinas fechou a compra de 278 computadores por pelo menos R$ 450 mil acima do preço de mercado. Um orçamento encomendado pelo pela Agência Anhanguera de Notícias como pessoa jurídica para 300 máquinas com as mesmas especificações cotadas pelo Legislativo mostrou que o modelo D570 da marca Positivo adquirido pela Casa custa R$ 1,982, 77% a menos do que preço obtido na licitação. A Câmara vai pagar em cada um dos equipamentos R$ 3,5 mil o que totalizou R$ 1 milhão em despesas. A compra é alvo de uma investigação interna, após denúncias de que a empresa vencedora, a Guilherme Augusto de Godoy ME, sediada em Rio Claro, funcionaria um galpão para vistoria de automóveis.No orçamento solicitado pelo Correio com um representante da empresa Positivo, o computador modelo Positivo Master D570, com processador Intel 5, 4 gigas de memória, HD de 500 gigas, drives de DVD, Windows 7 ou 8 e monitor de 18 polegadas custa R$ 1,982 mil com garantia de 1 ano. No edital preparado pela Câmara, constava a garantia de quatro anos com assistência no local. NegociaçãoEspecialistas em informática consultados disseram que a ampliação da assistência chegaria ao valor máximo de R$ 200,00 por máquina, o que elevaria o preço do equipamento para R$ 2,2 mil e não R$ 3,5 mil conforme ofereceu a empresa vencedora. Mesmo assim, os técnicos afirmaram que a garantia poderia ser negociada a custo zero pela quantidade de equipamentos comprados pela Casa.Os computadores da Câmara foram comprados em dois lotes com especificações diferentes. O primeiro, o maior, previa a compra de 278 máquinas do modelo mais simples, cotados pela AAN ao preço de tabela de R$ 1,982 mil. Dessas máquinas, apenas seis deveriam ter licença para Microsoft Office, o que poderia encarecer o custo do equipamento. O restante foi comprado com o sistema Linux, o que baratearia o custo em R$ 100,00. Outro adicional obtido pela casa foi uma trava de segurança, o que custaria R$ 100,00 por equipamento. Caso os opcionais não entrassem na negociação da compra, o custo máximo do equipamento poderia ser de R$ 2,2 mil.Outro loteO segundo lote previa a compra de apenas quatro computadores com memória de 8 gigas e HD de 1 tera. Neste caso, os equipamentos chegariam ao preço de R$ 3,5 mil o que totalizaria R$ 14 mil no preço final. No total, o Legislativo abriu a concorrência para a compra de 281 máquinas.Segundo os especialistas em informática ouvidos pela AAN, não teria diferença no orçamento a compra de monitores de 18 ou 19 polegadas, o que também poderia entrar como desconto na negociação. No orçamento encaminhado pela empresa Positivo, os representantes informaram que encaminharam a proposta para uma negociação, o que poderia reduzir ainda mais o preço inicial orçado em R$ 1,982. O gasto total com a compra feita diretamente pela empresa conforme a tabela do orçamento seria de R$ 594,8 mil. No comparativo com outras empresas que possuem equipamentos com preços mais altos do que a Positivo, um computador semelhante ao da Câmara chega a custar, no máximo R$ 2,5 mil em uma compra individual de pessoa física. Com sistemas mais modernos e todos os opcionais, o computador custaria R$ 3,5 mil.LicitaçãoA Câmara informou nesta sexta-feira (22) que antes de abrir a licitação fez a cotação do preço de mercado e chegou ao valor de R$ 3,6 mil por equipamento. O Legislativo previa gastar no máximo R$ 1,4 milhão com a compra. A substituição das máquinas era uma demanda antiga da Casa. Durante a concorrência, a empresa Guilherme Augusto de Godoy ofertou R$ 3,5 mil. A segunda colocada ofereceu R$ 5 mil e a terceira R$ 6 mil. O Legislativo também informou que não pode efetuar a compra diretamente com os distribuidores dos equipamentos e que é obrigada a cotar o preço e a abrir a concorrência. O departamento jurídico da Câmara informou que não houve nenhuma ilegalidade no certame e que apenas as três empresas manifestaram interesse em ofertar os serviços. Segundo a Casa, toda a divulgação necessária para dar publicidade ao processo foi feita, com a publicação da chamada da concorrência em jornais de circulação da cidade.Os computadores ainda não foram entregues. A Câmara homologou empresa vencedora, mas ainda não assinou o contrato. InvestigaçãoA Câmara de Campinas recebeu este mês uma denúncia de que a empresa vencedora da licitação dos computadores da Casa, a Guilherme Augusto de Godoy ME, funcionava no endereço de um galpão de vistoria de carros na cidade de Rio Claro. O Legislativo fez diligências no local e pediu para que a empresa fornecesse nomes de prefeituras para as quais já prestou serviços. Até agora a Casa informou que recebeu três pareceres de cidades que fecharam contrato com a mesma empresa e que todas receberam os equipamentos comprados.Na diligência feita na cidade, segundo a Câmara, foi constatado que a empresa divide o galpão com outra firma que faz o serviço de vistoria de automóveis. O Legislativo quer apurar se existe alguma pendência da empresa com o Ministério Público ou o Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE). O presidente Campos Filho (DEM) disse na tribuna na última semana que se forem identificadas irregularidades, vai cancelar a compra dos equipamentos.Além dos computadores, a licitação da Câmara também previa a aquisição de servidores, scanners e notebook. Os itens não tiveram interessados no fornecimento. A Casa deverá abrir outra concorrência para adquirir o restante dos produtos.No documento de registro da empresa na Junta Comercial do Estado de São Paulo (Jucesp), a empresa Guilherme Augusto de Godoy ME foi aberta em 2007 e tinha como objeto social o comércio varejista de móveis, forros e divisórias. Em 2012, a empresa alterou sua atividade econômica e, além de móveis, passou a comercializar ferragens, ferramentas, artigos médicos e ortopédicos, equipamentos de informática, eletrodomésticos, equipamentos de áudio e vídeo, artigos de uso doméstico, papelaria, cama, mesa e banho, cosméticos, perfumaria, higiene pessoal, produtos saneantes domissanitários, artigos de colchoaria, tapeçaria, cortinas, persianas e artigos de relojoaria. A empresa pertence a Guilherme Augusto de Godoy, residente em Rio Carlo. O AAN tentou contato com o empresário até o fechamento da edição de ontem, mas não obteve retorno.

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