11 DE AGOSTO

Comércio de rua espera Dia dos Pais ‘tímido’ nas vendas

Lojistas do Centro da cidade relatam desânimo quanto à movimentação na data deste ano; Acic projeta aumento de 3,97% na RMC e 3,47% em Campinas

Luis Eduardo de Sousa/luis.reis@rac.com.br
03/08/2024 às 08:59.
Atualizado em 03/08/2024 às 08:59

Izildinha Aparecida trabalha há 38 anos em um estabelecimento que já tem mais seis décadas: “A gente fica com a esperança de que vai vender mais nas datas comemorativas, mas isso não tem acontecido” (Kamá Ribeiro)

O comércio de rua da região central de Campinas se prepara para o Dia dos Pais com ares de pessimismo. A data comemorativa, que será celebrada no dia 11 de agosto, é uma das que promovem maior movimento nas lojas durante o ano. Embora exista uma preparação para uma demanda acima do normal, lojistas não tratam a data com o status de grande evento para o setor, ao contrário do que já ocorreu em anos anteriores.

Como um dos indícios do desânimo, uma projeção da Associação Comercial e Industrial de Campinas (Acic) aponta para um crescimento tímido das vendas na comparação com o valor arrecadado no ano passado. A estimativa é de um avanço de 3,97% nas vendas no comércio de rua na Região Metropolitana de Campinas (RMC). Na metrópole, a expectativa é de alta de 3,47%. 

Segundo a entidade, movimentos macroeconômicos, como a manutenção da taxa de juros a 10,5%, contribuem para o avanço diminuto. Outro fator a ser considerado, diz a Acic, é o reiterado esvaziamento do Centro. Essa situação progride com o desinteresse da população pela região, o que ocorre por causa de problemas antigos, entre os quais a insegurança e até mesmo a ausência de vagas para estacionamento. Há, no entanto, quem ainda acredite no potencial da data para alavancar as vendas. Essas pessoas defendem o caráter popular do comércio central, que atrai adeptos acostumados ao presente “tradicional”.

Segundo a Acic, o consumidor da RMC deve gastar algo em torno de R$ 165 milhões com produtos para presentear os pais. O ticket médio de compra deve ser de R$ 135,50 e os principais produtos buscados devem ser calçados e vestuário, algo em torno de 74% do total. Produtos de tecnologia e eletrônicos somam pouco mais de 20% nas projeções, enquanto as demais categorias ocupam o restante do percentual. 

Gerente de uma tradicional loja de calçados na Rua 13 de Maio, Samuel Manço Silva conta que neste ano o estabelecimento não preparou promoções, comuns em datas fortes ao comércio. A loja preferiu adotar como estratégia aumentar a oferta dos produtos mais buscados, ciente do potencial que a venda de calçados tem no Dia dos Pais. 

“Não fizemos nenhuma campanha para abrir a data, mas estamos apostando em oferecer um maior leque de mercadoria e impulsionar um crescimento das vendas a partir dessa estratégia”, revela Silva. Ele destaca que o aumento esperado nas vendas em sua loja é um pouco superior à projeção da Acic, cerca de 10%. 

Ontem, o movimento na Rua 13 de Maio, a principal do comércio, era pequeno, nada diferente do vai e vem habitual de todos os dias. Em uma ou outra vitrine havia alguma chamada para o Dia dos Pais, anunciando condições especiais, porém, bem aquém do que se observa no local em celebrações similares. 

Scheila Mendes, 42 anos, foi na tradicional rua do comércio campineiro comprar um tênis para presentear o namorado, mas sem surpresa para o companheiro. Enquanto conversa com a reportagem, ela faz uma ligação de vídeo com o companheiro para que ele mesmo escolha o modelo que receberá de presente. Mendes recorre ao comércio da região central para efetuar as compras, pois considera os preços mais acessíveis. “Aqui é bom, porque é só uma lembrancinha que eu vou dar, nada além de R$ 200”, brinca. “É interessante não deixar passar em branco”, complementa. 

A aposentada Rosalina Pires, 67, foi às compras garantir o presente do filho. A preferência da idosa é por itens baratos e funcionais. “Eu vou levar cueca e meia e está ótimo. Ele que deveria me presentear, não o contrário”, zomba entre gargalhadas. 

Em uma das lojas mais tradicionais do Centro, cuja existência já soma mais de seis décadas, a vendedora Izildinha Aparecida, que trabalha no estabelecimento há 38 anos, ainda lembra de épocas em que o Dia dos Pais lotava as ruas do Centro. “Eu me recordo que formavam-se filas para comprar e para o caixa, isso nos anos 80, 90, até o começo dos anos 2000. Agora está bem devagar, não há aquela empolgação de antes. A gente fica com a esperança de que vai vender mais nas datas comemorativas, mas isso não tem acontecido e gera um desânimo. Espero que nos próximos anos melhore", relata.

Na avaliação do economista Mário Eduardo Campos, da Acic, neste ano o consumidor está inseguro com os gastos. Ele aponta como fatores a taxa de juros ainda alta, o que dificulta a obtenção de crédito, fator importante para o comércio varejista. “A manutenção da taxa de juros a 10,5% sem dúvidas é o principal impeditivo (para o crescimento das vendas), haja vista que tínhamos uma expectativa de queda nesta semana. O desemprego recuou, o que é positivo, mas, ainda assim, observamos que a população está reticente na hora de gastar seu dinheiro, uma vez que as movimentações macroeconômicas ainda geram insegurança”, destaca Campos. 

O economista ainda menciona o fato de que o Dia dos Pais tem naturalmente um apelo comercial menor se comparado com outras datas, como Dias das Mães e Black Friday. Por fim, Mário cita a perda de interesse pelo Centro, fato amplamente conhecido e dilema para a Administração Municipal. “Campinas passa por uma descentralização do comércio. Os distritos, os bairros distantes, já têm seu próprio centro comercial, além dos próprios shoppings, que oferecem ar-condicionado, limpeza, segurança e estacionamento”, conclui. 

Segundo a Acic, as vendas on-line de comércios na RMC devem crescer pouco, 3,54%. A estimativa é de que as vendas somem o montante de R$ 80,6 milhões.

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