Polarização política é combustível para falsas notícias na internet
O assistente administrativo Higor Jerônimo: "as pessoas não apuram a veracidade das informações" r (Leandro Ferreira/AAN)
A polarização política e a guerra contra as notícias falsas, 'fake news' em inglês, estão entre os maiores desafios das Eleições 2018. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e a Polícia Federal correm contra o tempo com o objetivo de criar leis e aprimorar as formas para combater e punir quem produz ou dissemina as notícias falsas na internet. O hábito fez estragos nas eleições nos Estados Unidos (EUA), em 2016. As 'fake news' tiveram maior alcance no Facebook do que as notícias reais. No Brasil, pré-candidatos já se antecipam dedicando espaços em suas páginas pessoais para combater mentiras. Caso do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT) e do governador Geraldo Alckmin (PSDB). O controle de notícias falsas vai ser muito difícil nas eleições de 2018, segundo Pedro Rocha Lemos, doutor em ciência política e pesquisador no Instituto Federal de São Paulo. Ele lembra que o processo do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff dividiu o País em dois grupos rivais, radicais em relação à opinião dos rivais. No mesmo período, a onda de boatos corria as redes sociais. Por mais que exista um esforço do TSE em controlar as notícias falsas, fala o professor, tudo indica que a eleição presidencial deste ano será muito tensa por conta do ambiente político herdado desde o impeachment. “O TSE está tentando tomar providências - que já deviam ter sido tomadas há muito tempo - criando canais diretos junto ao Facebook, Google, WhatsApp. Mesmo assim, nas redes sociais há indivíduos com conta particular, com seus grupos de opinião, e essas notícias falsas correm soltas. Algumas pessoas acabam captando informações sem checar e as repassam em um grupo, que as replicam para outro. Realmente, o controle será muito difícil”, afirma. A saída apontada pelo professor está na identificação das pessoas que participam dos grupos. É preciso, segundo ele, conhecer os amigos virtuais e checar as notícias em veículos de comunicação mais tradicionais. "É mais difícil a imprensa tradicional divulgar notícias falsas. Ela pode ter posturas que podem agradar mais a uns e menos a outros, dependendo de cada linha editorial, mas essa imprensa ainda é a mais confiável para entendermos o processo de discussão dos programas de partidos e candidatos", diz. Ele ressalta que, definitivamente, as redes sociais são lugares " perigosos" para a transmissão de notícias. Outro caminho indicado para acompanhar debates políticos sérios são os blogs e contas no Twitter de jornalistas confiáveis. Além da imprensa oficial, esses canais já são uma realidade, diz ele. "Mas é preciso ter muita perseverança, selecionar os canais.” O professor pontua, porém, que esse trabalho, para muitos eleitores, pode ser muito difícil. Ele considera que o cidadão precisa ter uma postura mais consciente, preparada do ponto de vista do ambiente político que o País vive. “É preciso conhecer as de informações históricas de todo o processo político que estamos enfrentando. Assim, se pode discernir se é possível confiar ou não nas informações passadas em cada canal”, ensina. Assistente administrativo, Higor Henrique de Paulo Jerônimo, de 20 anos, administra um site e diz estar consciente da facilidade de viralização de notícias falsas. Por isso, ele procura sempre recorrer a meios tradicionais de informação. “Muitas pessoas não apuram as informações para saber se são sérias ou não, só compartilham. E, às vezes, nada do que foi compartilhado é verdade. Se pegam trechos, se distorcem a verdade”, afirma. Jerônimo dá a dica. É preciso checar a veracidade de uma informação em mais de um meio. “Ainda que um fato não seja uma mentira, ele pode ser veiculado de maneira tendenciosa. Quando tomamos o cuidado de comparar informações, conseguimos definir nossa própria opinião em relação a qualquer assunto”, considera. A jovem aprendiz Isabella Valeska Bernardo Prado Dias, de 18 anos, vai votar pela primeira vez este ano. Ela não costuma acompanhar muito assuntos de política, mas sempre que vai acessar alguma notícia busca sites confiáveis. “A gente vê, principalmente no Facebook, muita informação e a fica confusa. Esse ano é o primeiro em que vou votar, e está muito difícil escolher um candidato. A internet é um importante, mas aceita qualquer coisa”, opina. A personal trainer Patrícia Afonso da Silva Dantas, de 34 anos, também busca os meios de comunicação que confia para não ficar refém das 'fake news'. Além disso, diz, não costuma repassar informações que desconfia.