NEM FOI INAUGURADO AINDA

Com obras atrasadas, BRT de Campinas se desmancha e irrita população

Usuários não se conformam com o abandono das estações e piso de concreto

Thiago Rovêdo
02/06/2022 às 08:36.
Atualizado em 02/06/2022 às 08:36
Terminal de embarque inacabado do BRT em completo estado de abandono: concreto danificado, telhado com goteiras e acúmulo de sujeira (Gustavo Tilio)

Terminal de embarque inacabado do BRT em completo estado de abandono: concreto danificado, telhado com goteiras e acúmulo de sujeira (Gustavo Tilio)

Há mais de dois anos atrasado para ser entregue de forma completa, as obras do BRT de Campinas já começaram a dar sinais de deterioração e geram críticas por parte da população. Enquanto o Terminal Vida Nova está completamente abandonado, inclusive com sinais de estar sendo ocupado por moradores em situação de rua, o Terminal Santa Lúcia segue com prédios inacabados e as estações ao longo das avenidas não podem ser utilizadas, obrigando os usuários a ficarem em pontos de ônibus improvisados. O atual prazo para entregar 100% das obras é o final deste ano.

Quase chegando ao Terminal Vida Nova, o ainda protótipo do novo terminal de ônibus não vê um sinal de intervenção há tempos. Há ferrugem, concreto quebrado e telhado dando sinais de esgotamento, com goteiras. Entre os pisos, pode se ver uma coberta sendo utilizada como uma espécie de cortina para abrigar moradores em situação de rua que dormem no local durante a noite.

O Terminal de ônibus do Vida Nova é o final do Corredor Ouro Verde do BRT. Ele começa no Terminal Central e percorre as avenidas João Jorge, Amoreiras, Piracicaba, Ruy Rodriguez e Camucim até o Vida Nova, totalizando 14,6 quilômetros. "Eu acho isso tudo uma falta de vergonha na cara. É um desperdício de dinheiro público. Uma obra que começou há tantos anos e agora está completamente abandonada, suja, com árvores e entulhos se acumulando por todos os lados", disse César Santos, de 64 anos, morador do bairro.

As faixas onde foram construídos os corredores do BRT acabam sendo utilizados como estacionamento para os ônibus, que ficam no local até dar o horário de seguirem viagem. O comerciante João Carlos Assunção, dono de uma loja de acessórios de veículos, contou que a região parece abandonada e isto afasta clientes. "Eu tenho certeza que tem gente que passa por aqui, e dependendo do horário ou do movimento, vai embora porque aqui parece tudo abandonado. E por causa dos problemas no trânsito, tem cliente que também evita a região", disse.

Quando a reportagem saiu da Avenida Camucim e chegou próximo ao Terminal Ouro Verde, na Avenida Ruy Rodriguez, o mesmo problema foi encontrado. Um pontilhão atrasado e sinais de obras. Agora quando se chega ao Terminal do Santa Lúcia, que vai servir também como estação de transferência, há dois grandes cenários. Primeiro, uma parte enorme, terminada e pronta para o uso, apesar de poucos usuários. Por outro lado, no entorno, construções que foram iniciadas, mas agora estão cercadas e colocadas de lado.

"É bem ruim, né. A gente já nem acredita mais que vai sair ou que vai ficar pronto de verdade. No começo, quando começou a inaugurar, parecia que ia ficar muito bom, mas hoje parece que não tem mais nada. Ninguém mexe aqui, não vem pedreiro e fica tudo abandonado", disse Maria de Lourdes Nunes, de 62 anos.

Além destas grandes estruturas, os usuários do transporte público de Campinas são obrigados a ficar em pontos de ônibus improvisados, muitas vezes se virando para proteger da chuva, enquanto todas as estações estão abertas e não há previsão de quando o sistema BRT vai ser colocado em prática de forma definitiva. 

Inicialmente, as obras do BRT eram de responsabilidade da Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec) quando Carlos José Barreiro era o responsável. Quando ele passou a ser secretário de Infraestrutura, levou o projeto junto. Procurado, se pronunciou através de nota oficial.

"As obras estão em fase de recebimento. Para que a população possa usufruir dos benefícios dos corredores exclusivos de transporte público foram implantados abrigos próximos às estações. O Sistema só irá funcionar adequadamente quando a licitação de transporte estiver concluída", disse.

Em relação ao Vida Nova e Santa Lúcia, a Administração chegou a divulgar que aplicou uma multa no valor de R$ 10 milhões ao consórcio responsável por estes dois locais por atraso nas obras daquele trecho dos corredores. A penalização foi suspensa depois que a empresa assumiu compromisso da continuação da obra diante dos prazos e conceitos técnicos definidos.

"A Secretaria está acompanhando atentamente o trabalho. Caso os prazos e especificações técnicas não sejam cumpridos, a Prefeitura irá retomar o processo de penalização e demais providências cabíveis", informou. No caso em questão, o atraso refere-se a trechos viários em frente ao terminal de ônibus Ouro Verde, nas proximidades do Vida Nova, bem como no trecho da ponte sobre o rio Capivari.

Situação também é crítica no Corredor do Campo Grande

Enquanto no Corredor Ouro Verde, o problema é relacionado ao abandono, na Avenida John Boyd Dunlop dezenas de trechos estão sendo destruídos totalmente e estão sendo refeitos. Quem passa diariamente pela John Boyd pode ver os tratores e maquinários em geral quebrando partes dos trechos. Na sequência, eles são cobertos com grandes lonas pretas e cercados com sinalização para alertar os motoristas e pedestres.

As pequenas intervenções avançam por bairros como Jardim Roseira, próximo do Hospital PUC-Campinas e seguem na direção do Centro, passando pelo Jardim Londres, Vila Castelo Branco, Jardim Garcia, entre outros. Há também obras próximo ao Terminal Campo Grande e seu entorno.

O Corredor Campo Grande começa no Terminal Mercado, passa próximo à Rodoviária, depois pelo leito desativado do antigo VLT (Veículo Leve sobre Trilhos ) e segue pela Avenida John Boyd Dunlop a partir do Jardim Aurélia. Ele vai até o Terminal Itajaí, totalizando 17,9 quilômetros.

"A substituição foi solicitada após vistoria técnica da Secretaria de Infraestrutura que identificou que algumas placas de concreto poderiam ter a vida útil comprometida. A manutenção consiste em reparos no pavimento rígido com retirada e recolocação das placas de concreto ao longo de toda extensão do corredor BRT Campo Grande", informou a nota oficial. Ainda na John Boyd, a burocracia atrapalha a obra do BRT no trecho que fica em frente do Shopping Parque das Bandeiras, no Jardim Ipaussurama. O local é o único de todo o sistema que não recebeu nenhum tipo de intervenção desde 2017, quando se iniciaram as obras. O Shopping Parque das Bandeiras será responsável, através de contrapartida, por construir esta parte do Corredor Campo Grande. De acordo com a Prefeitura, essas obras pressupõem a construção da estação do BRT defronte ao shopping, obras viárias com pavimento rígido desde o final do Campus II da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) até o encaixe do novo viaduto.Tanto a prefeitura quanto o shopping informaram que está em trâmite na Secretaria de Justiça um processo complementar para adequar as necessidades do projeto. Após a conclusão do mesmo, o empreendimento dará sequência à execução da obra naquele trecho.

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