Com o início de janeiro, ‘mega liquidações’ atraem consumidores

Com a chegada do novo ano, muitos consumidores estão de olho nas tão aguardadas “mega liquidações”, buscando oportunidades para renovar seus pertences ou adquirir produtos desejados por preços mais acessíveis. Na principal rua do comércio de Campinas, a Treze de Maio, diversas lojas já exibem promoções atrativas para atrair consumidores. São ofertas de longos parcelamentos ou descontos que vão de 60 a 80%.

Em uma grande loja, também na Treze de Maio, havia ontem uma longa fila de consumidores atraídos por esses preços. Jaciara Santos Silva, de 37 anos, está de mudança e aproveitou as ofertas para pesquisar valores. Ela está em busca de uma geladeira e fogão. Em uma loja, encontrou o refrigerador por cerca de R$ 4 mil, já na outra, em que conversou com a reportagem, encontrou o mesmo modelo com um desconto de quase R$ 800.

“O preço realmente está bom, mas preciso pesquisar, não vou levar hoje. Nem imaginava que haveria essa mega liquidação, fui surpreendida pelos bons preços”, afirmou.

Já Maria Aparecida Xavier, de 62 anos, andava pelos corredores da loja agarrada a dois cobertores e uma caixa de air fryer. “Eu sempre espero as 'mega liquidações' de início de ano. No fim de ano compro presente para os outros, mas no início do ano compro para mim. Encontrei esses produtos aqui (air fryer e cobertores) com boas condições. Fazia tempo que estava precisando e agora vou poder levar”, disse.

Apesar dos preços atrativos, a busca por melhor preço deve sempre nortear os consumidores para evitar que caiam em ciladas. De acordo com o Procon, a busca por descontos significativos pode levar os consumidores a agirem impulsivamente, esquecendo-se de observar detalhes essenciais na hora da compra.

Segundo o órgão, antes de se encantar com os descontos, é crucial realizar uma pesquisa de preços. Isso inclui verificar se os valores praticados durante a mega liquidação são realmente vantajosos, por isso a comparação com os preços praticados em outros estabelecimentos é crucial.

Vilma Aparecida Romário, de 61 anos, e a filha Cristiane Regina Rodrigues, de 42 anos, mantiveram essa prudência na busca por refrigeradores em uma loja que fazia mega liquidação. Ambas identificaram que os preços praticados não estavam tão abaixo do normal. “E esse preço só vale para o pagamento à vista. No parcelamento, o valor sobe e, de qualquer forma, pagaríamos mais”, avaliou Cristiane.

A aposentada Maria Joveniza, de 66 anos, teve a mesma impressão quando comparava os preços das panelas de pressão. “Dona de casa gosta de panela, mas essas aqui, se não olhar direito, você acaba se confundindo e pagando mais sem perceber”, alertou ao devolver a panela para a prateleira e deixar a loja de mãos vazias.

De acordo com o professor de Economia da ESPM, Paulo Robilloti, há uma série de fatores que contribuem para que o varejo realize essas mega liquidações, fazendo com que janeiro seja, de fato, a verdadeira “Black Friday” brasileira. Entre esses fatores estão a troca de estoque e a chegada de linhas novas. Porém, em relação aos outros meses do ano, janeiro não tem uma representação expressiva no mercado, já que movimenta apenas o setor lojista e não toda a cadeia de produção.

“Todo mundo sabe que no começo do ano a gente tem liquidação, mas todo mundo também tem uma série de compromissos: IPVA, IPTU, conselhos regionais, rematrícula, material escolar. Então a renda é muito comprometida. Não da para esperar algo transformador, mas dá para esperar um janeiro melhor, porque as condições macroeconômicas estão melhores”, avaliou.

Em comparação aos últimos dois anos, o especialista pontuou que há situações que criam condições melhores para os consumidores aproveitarem essas promoções, como uma renda mais elevada, o aumento da empregabilidade e o próprio programa do governo federal para renegociação de dívidas, o Desenrola Brasil, que aumentou o poder de compra e garante que essas promoções sejam absorvidas pelo mercado.

PROCON ALERTA

Quem acaba aproveitando mais a data são os consumidores que se prepararam para ela e deixaram de gastar nos meses que antecedem janeiro, economizando para investir em um produto com desconto maior nesta época do ano. Para evitar cair em golpes ou promoções furadas, o Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon) de Campinas emitiu um alerta em que destaca cuidados cruciais que os consumidores devem adotar durante essas promoções, com o objetivo de despertar a atenção das pessoas aos seus direitos diante dessas compras.

Segundo o assessor especial do Procon Campinas, Francisco Togni, é importante certificar-se de que a loja participante da liquidação é confiável: seja física ou online. Consulte avaliações, busque referências e, se possível, verifique a reputação do estabelecimento junto aos órgãos de defesa do consumidor.

Durante liquidações, é comum que as lojas ofereçam condições especiais de pagamento. No entanto, é fundamental analisar tais condições com cuidado, evitando surpresas desagradáveis, por exemplo, possíveis taxas extras, juros e prazos estendidos.

Ao adquirir produtos durante as mega liquidações, a atenção à qualidade e às condições dos itens também é outro fator importante. De acordo com Togni, o consumidor precisa se certificar se o produto possui avarias, já que alguns vendidos são do próprio mostruário. Caso queira levá-lo mesmo assim, deve pedir que seja descrito na nota ou na ordem de serviço quais são essas avarias. Nenhum problema, no entanto, deve prejudicar o funcionamento do produto.

Toda a informação, oferta ou publicidade veiculada aos consumidores deve ser cumprida pelos lojistas. Em caso de não cumprimento, cabe denúncia. “Lembrem-se de que, mesmo em liquidações, o consumidor tem a garantia do produto de 90 dias. Há produtos específicos que ainda podem ter uma garantia maior, dependendo do fabricante. É importante estar atento a isso”, esclareceu Togni.

As lojas também são impedidas de cancelar as compras. Às vezes, por vender mais do que possui no estoque, a empresa cancela unilateralmente o produto, estornando o valor ao consumidor. Embora devolva o valor gasto, a prática é ilegal.

“Essas medidas são essenciais para evitar transtornos e prejuízos aos consumidores, promovendo uma relação de consumo mais justa e transparente. Ao seguir essas orientações, os consumidores podem aproveitar as mega liquidações de início de ano de maneira consciente, garantindo bons negócios sem abrir mão de seus direitos”, frisou o assessor do Procon.

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