Estiagem mais severa e menor umidade relativa do ar preocupam autoridades
Raissa Thebaldi gosta de levar as filhas e seus colegas ao Bosque dos Jequitibás para caminhar entre as árvores (Gustavo Tilio)
O número de focos de incêndios em Campinas cresceu 20,37% somente nos dois primeiros meses da Operação Estiagem deste ano, em comparação com mesmo período de 2021. O balanço parcial foi divulgado pela Defesa Civil da cidade. O tempo seco tem preocupado as autoridades, pois não há previsão de chuvas pelos próximos dias e o nível do Sistema Cantareira, que abastece a região, também está abaixo do esperado.
De acordo com o órgão, no ano passado, entre 1° de maio, data do início da Operação Estiagem, e o final de junho, foram registradas 54 ocorrências de focos de incêndio, enquanto no mesmo período deste ano, os agentes da Defesa Civil já atuaram em 65 ocorrências desse tipo pela cidade. Na visão do coordenador regional e diretor da Defesa Civil, Sidnei Furtado, esse é um dado preocupante que serve de alerta para a sociedade.
"A população deve evitar qualquer tipo de queimada, mesmo de lixo no fundo do quintal. A fabricação, armazenamento ou soltura de balões também é crime e os munícipes que os avistarem devem acionar o Disque Denúncia pelo telefone 181", disse. Ao final da operação, em 30 de setembro, a Defesa Civil vai liberar o balanço final, com os números totais de cada atividade. O trabalho inclui ações de vistoria, monitoramento, conscientização da população e treinamento para a prevenção e combate a queimadas e incêndios.
Compreendendo o período mais seco do ano, quando aumentam os risco de focos de incêndio, doenças respiratórias e crises hídricas, a Operação Estiagem também monitora o índice de umidade relativa do ar (URA). Nos meses de maio e junho deste ano, Campinas entrou em estado de alerta (quando a umidade do ar registra índice entre 12% e 20%) por quatro vezes e em estado de atenção (índice de URA entre 20% e 30%) por 23 vezes.
"Além de estarmos no inverno, que é uma estação tipicamente seca, com menores acumulados mensais e menos eventos de chuva, temos estado sob influência de uma massa de ar mais seco. A combinação de baixo teor de vapor de água com temperaturas relativamente elevadas proporciona baixa umidade relativa do ar. Estamos com valores baixos e eles poderão ser menores nos próximos dias", afirmou Bruno Kabke Bainy, meteorologista do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri).
De acordo com Sidnei Furtado, a estiagem está ficando mais severa e o baixo índice de chuvas é preocupante. Por conta desse baixo índice, o Consórcio das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (Bacias PCJ) emitiu um alerta aos municípios com pedidos de adoção de medidas para que a população contribua com a redução e uso racional de água neste período de instabilidade.
Dados do Consórcio PCJ mostram que, no mês de junho, as chuvas ficaram 59,8% abaixo da média histórica em toda a bacia hidrográfica. O índice pluviométrico médio do mês passado foi de 20,14 milímetros (mm), quando o esperado era 50,14 mm. "A estiagem avança de modo muito intenso. O Consórcio PCJ pede que as Prefeituras montem comitês de gestão de crise com a participação de diversos segmentos da sociedade e já tracem planos de ação e contingenciamento. Contamos com o apoio da população para usar apenas o necessário durante esse período", afirmou o presidente do Consórcio PCJ, Mário Botion.
O Cepagri informou que até o dia 12 não há perspectivas de chuva para a região. Uma frente fria passará pelo oceano, não tão próxima ao litoral do Estado, entre os dias 8 e 9, mas os efeitos na região serão mínimos, com um pequeno e breve declínio nas temperaturas de cerca de 2ºC. "Não se descarta chuva aqui na região, mas os indicativos atuais ainda mantêm baixas probabilidades, também por se tratar de uma data relativamente distante", explicou o meteorologista Kabke Bainy.
Bosque é opção
Para fugir da poluição e do tempo seco, parte da população de Campinas aposta no Bosque dos Jequitibás como opção de lazer. A estudante de Psicologia Raissa Thebaldi, de 34 anos, cresceu próxima ao famoso parque de Campinas e hoje, mesmo não morando mais ao lado, faz questão de levar as filhas e seus colegas ao local para caminhar entre as árvores, ver os animais e aproveitar também para curtir uma peça teatral nas férias escolares.
"Quando eu era criança, meu pai me trazia aqui. Então, hoje também faço questão de trazer minhas filhas e os vizinhos. Aqui é mais tranquilo, não tem tanto calor como a Lagoa do Taquaral, por exemplo. O Bosque é um lugar muito agradável, porque tem diversas opções de lazer no mesmo local. Além disso, por causa das árvores todas, ele parece ser mais agradável e mais convidativo para passar o dia", comentou.
A cabeleireira Flaviane Gracieli Pereira, de 40 anos, ressaltou que o Bosque fica próximo de sua casa e, por isso, está sempre lá. Aqui é um lugar mais arejado, não ficamos tão expostos ao calor ou à poluição. Se quiser fazer um piquenique, há vários lugares para sentar e ficar tranquilo. Minha filha também gosta, por isso preferimos passear por aqui", disse.