DESABASTECIMENTO

Com estoque insuficiente, Saúde abre fila para vacina contra catapora

Lista de espera nos centros de saúde vai funcionar até a liberação de mais doses pelo Ministério da Saúde

Isadora Stentzler/ [email protected]
05/01/2024 às 09:07.
Atualizado em 05/01/2024 às 09:07
Trabalhadores dos centros de saúde estão orientados a registrar os dados das crianças que precisam tomar a dose; elas serão convocadas quando a situação for normalizada (Rodrigo Zanotto)

Trabalhadores dos centros de saúde estão orientados a registrar os dados das crianças que precisam tomar a dose; elas serão convocadas quando a situação for normalizada (Rodrigo Zanotto)

Desde setembro do ano passado com doses insuficientes de vacina contra a catapora (varicela), a Secretaria de Saúde de Campinas abriu uma lista de espera nos postos de saúde para atender a população quando os estoques forem normalizados. O desabastecimento ocorre em todo o país devido a um contingente de doses estarem em avaliação pelo Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS). Segundo o Ministério da Saúde, a distribuição voltará à normalidade assim que as doses forem liberadas.

Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde disse que o envio de doses pelo Estado foi reduzido a partir de agosto, quando o município recebeu 20% do pedido. Em novembro, a cidade recebeu 10% do que foi solicitado. Em dezembro não foram enviadas doses e, até a publicação desta matéria, a Pasta disse que não tinha informações sobre o quantitativo da grade de janeiro.

Diante dessa situação, os profissionais dos 67 centros de saúde do município foram orientados a registrar os dados das crianças que precisam tomar a dose para integrarem uma lista de espera a fim de serem convocadas quando as unidades estiverem abastecidas.

A reportagem percorreu alguns centros de saúde na manhã de quinta-feira (4). No CS São José, a técnica em enfermagem Janaína Felício, de 35 anos, estava com as filhas Isis Helena, de 7 anos, e a pequena Alice, de apenas seis dias. Ela levou a recém-nascida para receber a dose da BCG. Felizmente, disse, a vacinação contra a catapora da mais velha estava em dia, mas Janaína demonstrou preocupação com a falta do imunizante no país.

“Quando eu era criança eu não recebi essa dose e acabei contraindo a doença, mas sei o quanto ela é importante para proteção das crianças. É uma doença transmissível. Não ter a vacina disponível é colocar as crianças em risco”, afirmou.

A aposentada Laura Inácio Parente, de 76 anos, que estava na unidade de saúde do bairro Campos Elíseos, relembrou de quando os dois filhos contraíram a doença.

“Eles não tiveram sequela, mas sofreram muito. Lembro que a febre chegou a atingir 40˚C. Costumo dizer que essa é uma doença de criança, mas, mesmo assim, preocupa muito”, contou. Em clínicas privadas de Campinas, o preço da vacina chega a custar R$ 300.

O QUE DIZ O MINISTÉRIO

Procurado, o Ministério da Saúde reconheceu, em nota, que o desabastecimento ocorre em todo o país. Também por meio de nota, ele informou que enviou 291,8 mil doses de vacina de varicela aos 26 estados e Distrito Federal, em novembro e dezembro. Para o Estado de São Paulo foram destinadas 50 mil doses do imunizante e mais 1 milhão de doses estão em avaliação pelo INCQS.

“Assim que forem liberadas, o Ministério da Saúde fará a entrega de mais doses a todas as 27 unidades da federação, conforme a solicitação das secretarias estaduais de saúde.”

O Ministério da Saúde também esclareceu que, em março do ano passado, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou a interrupção da distribuição das vacinas tetraviral (contra sarampo, caxumba, rubéola e varicela) e monovalente (contra varicela) devido a algumas modificações identificadas no processo de fabricação dos imunizantes. A nova metodologia de produção passou a ser usada pela fabricante GlaxoSmithKline (GSK), depois de aprovada pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA).

“Após minuciosa reavaliação do processo produtivo e da segurança da vacina, incluindo análises de dados de farmacovigilância e certificados de controle de qualidade dos lotes, a Anvisa aprovou, em julho de 2023, a autorização para importação e distribuição dos imunizantes produzidos pela GSK e Fiocruz”, esclareceu.

A DOENÇA

A catapora, também conhecida como varicela, é uma doença altamente contagiosa causada pelo vírus Varicela-Zoster. Embora seja mais comum em crianças, adultos também podem contraí-la, principalmente se não tiverem sido expostos anteriormente.

A doença é caracterizada por uma erupção cutânea que se manifesta em todo o corpo, acompanhada de coceira intensa. Além das lesões na pele, outros sintomas incluem febre, cansaço e mal-estar geral. Ela é transmitida através do contato direto com as lesões da pele ou por meio de gotículas liberadas no ar quando uma pessoa infectada tosse ou espirra.

Segundo Silvia Helena Viesti Nogueira, coordenadora do Departamento Científico de Pediatria da SMCC (Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas), a varicela normalmente é uma doença benigna nas crianças, mas pode, em raros casos, evoluir para algumas formas mais graves, como pneumonia e encefalite. Já nos adultos ela evolui de forma mais grave, com complicações e diminuição da imunidade.

O tratamento da catapora é, principalmente, sintomático. O foco está em aliviar os sintomas enquanto o sistema imunológico combate o vírus. Medicações antivirais podem ser prescritas em casos mais graves ou em indivíduos de risco, como adultos, gestantes e pessoas com sistema imunológico comprometido.

A vacina para a doença foi desenvolvida para prevenir a catapora e suas complicações. Introduzida pela primeira vez em 1995, o imunizante é altamente eficaz e seguro. Geralmente, é administrado em duas doses durante a infância. A imunização não apenas protege os indivíduos vacinados, mas também contribui para a redução da disseminação do vírus na comunidade.

O vírus utilizado na vacina é atenuado, o que significa que foi enfraquecido para estimular uma resposta imunológica sem causar a doença. Seu advento revolucionou a prevenção da catapora, reduzindo significativamente a incidência e as complicações associadas.

Segundo Silvia, na rede pública, a vacina é oferecida aos 15 meses de vida, juntamente à vacina de sarampo caxumba e rubéola (tetra viral), e o reforço é feito aos quatro anos de idade. Já a Sociedade Brasileira de Imunizações recomenda que a dose inicial seja aplicada a partir de um ano e o reforço, preferencialmente, entre 15 e 24 meses de vida.

“A cobertura vacinal desta vacina vem caindo desde 2018. Estamos em 75% de cobertura, bem abaixo dos 95% pretendidos. É importante ressaltar que se o indivíduo, a criança, tiver contato com outra pessoa com a doença da varicela, a chance de adquirir a doença é muito baixa se ela tomar a vacina até 72 horas após o contágio. Então há condições de, dando a vacina, prevenir o aparecimento da doença”, frisou.

Nesse período de desabastecimento de doses, Silvia recomendou que se houver algum caso na família, a pessoa contaminada deve se manter isolada, sem se expor em espaços públicos ou de convívios social.

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