MEDO NAS RUAS

Colegas protestam após aluna do Cotuca ser alvo de estupro

Cerca de 100 estudantes realizaram manifestação pacífica por mais segurança

Alenita Ramirez/ [email protected]
17/11/2023 às 09:02.
Atualizado em 17/11/2023 às 09:02
Estudantes do Cotuca realizam protesto em frente ao portão da escola, cobrando mais segurança nas proximidades da instituição, além de melhorias na infraestrutura do prédio (Rodrigo Zanotto)

Estudantes do Cotuca realizam protesto em frente ao portão da escola, cobrando mais segurança nas proximidades da instituição, além de melhorias na infraestrutura do prédio (Rodrigo Zanotto)

Três dias após uma estudante de 17 anos ter sido vítima de violência sexual ao deixar o Colégio Técnico de Campinas (Cotuca), vinculado à Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), um grupo de aproximadamente 100 alunos realizou, na manhã de quinta-feira (16), um ato público em protesto contra a falta de segurança nas proximidades da instituição. Além disso, os estudantes manifestaram sua insatisfação em relação à precariedade da infraestrutura e à ausência de saneamento básico na escola. Residentes locais também confirmaram a recorrência de assaltos e outros crimes direcionados aos estudantes.

O protesto, que transcorreu de maneira pacífica em frente ao portão da escola, teve início por volta das 9h. Eles afirmam que só encerrarão o ato quando receberem respostas dos órgãos de segurança e da Unicamp, à qual o Cotuca está vinculado. Portando cartazes e utilizando um microfone, os estudantes ocuparam uma parte da Rua Culto à Ciência.

Na noite da última segunda-feira, uma adolescente de 17 anos foi alvo de um ataque perpetrado por um criminoso armado ao deixar a instituição de ensino. A gravidade da situação só não foi maior devido à intervenção de outros alunos, que perceberam a presença de um homem desconhecido acompanhando a vítima, com um dos braços ao redor de seu pescoço. As testemunhas reagiram, gritando, o que levou o agressor a soltar a vítima e fugir do local.

Conforme registrado na ocorrência, a adolescente foi abordada por um homem que afirmava estar armado na Rua Antônio Álvares Lôbo, a poucos metros da unidade de ensino, onde se encontram, além do Cotuca, as escolas Culto à Ciência e Benedito Sampaio.

A estudante relatou à polícia que o agressor a instruiu a permanecer quieta e segui-lo. Imagens das câmeras de segurança captaram o criminoso com a vítima em ruas próximas ao colégio. Segundo relatos de colegas do Cotuca, a vítima reside nas imediações e estava a pé a caminho de casa. Ao rendê-la, o agressor a forçou a retornar pelo mesmo caminho, o que acabou por beneficiá-la, uma vez que passaram novamente em frente à escola e colegas testemunharam a cena.

O suspeito, aparentando ter entre 40 e 50 anos, além de ameaçá-la de morte, também praticou atos de violência sexual contra a jovem, ao passar as mãos no corpo da jovem. Após ser liberada pelo criminoso, a estudante foi resgatada pelo pai de uma colega e conduzida até sua residência. "A situação aqui está extremamente perigosa. Na última segundafeira, um aluno foi assaltado na frente da escola", destacou Maria Clara Rocha Lima, uma das organizadoras do protesto.

Conforme relato de Alick Isaack Sonnas, lavador de carros e manobrista em um estacionamento nas proximidades do colégio, os assaltos são uma ocorrência diária, sem restrição de horário. Os criminosos, armados com facas ou armas de fogo, direcionam suas abordagens exclusivamente a estudantes. Sonnas observa que, embora os roubos sempre tenham sido uma realidade, sua incidência aumentou significativamente recentemente. Ele destaca que os moradores e trabalhadores locais estão vigilantes, o que tem desencorajado os criminosos de atacarem outras pessoas que não sejam estudantes.

Para Sonnas, o crescimento da criminalidade na área está relacionado ao intenso fluxo de estudantes e usuários do transporte coletivo, especialmente devido à passagem do BRT naquele trecho. Ele ressalta a presença significativa de usuários de drogas e pessoas em situação de rua na região, que se aproveitam da movimentação estudantil.

Maria Aparecida Santos, residente próxima à escola, corrobora os relatos de ataques aos estudantes. Ela identifica que as ocorrências se concentram em trechos das ruas Culto à Ciência, Edson de Oliveira e Falcão Filho. Santos destaca a necessidade urgente de rondas escolares das 7h às 22h, especialmente para os alunos que precisam atravessar o túnel, que correm risco de serem alvos de assaltos.

OUTRO LADO

Em comunicado, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que o caso envolvendo a adolescente está sendo investigado no 1º Distrito Policial (DP), que está empenhado em identificar e localizar o suspeito. A Pasta salienta que a 1ª Companhia do 8º Batalhão de Polícia Militar do Interior (BPMI), responsável pela área, mantém patrulhamento preventivo constante na região. Diversos programas policiais e operações, em colaboração com a Guarda Municipal (GM), são realizados para aumentar a sensação de segurança entre os residentes. A SSP destaca que, no último trimestre deste ano, as ações da PM resultaram em 41 prisões e na recaptura de 19 infratores da Lei.

"A Polícia Militar está disponível 24 horas por dia, e a população, ao constatar qualquer suspeita ou conduta criminosa, deve acionar imediatamente o 190 e registrar o boletim de ocorrência, contribuindo assim para o planejamento operacional do policiamento", enfatiza a nota.

A Guarda Municipal, ciente da situação, intensificou o patrulhamento nas proximidades do Cotuca e está colaborando ativamente com a Polícia Civil nas investigações sobre o suspeito envolvido no caso de violência sexual contra a estudante.

Luiz Seabra, diretor geral do Cotuca, informou que na tarde de quinta-feira (16) se reuniria com um capitão da PM do 8º BPMI para discutir a segurança no entorno das escolas. Além disso, agendou uma reunião para o próximo dia 28 com o secretário municipal de Segurança Pública, Christiano Biggi. Destacou também que foram realizadas ações para melhorar a iluminação nas proximidades do prédio.

INFRAESTRUTURA

Além das preocupações com a segurança, os alunos também reivindicaram a instalação de ar-condicionado nos laboratórios, esclarecimentos sobre o uso do botão do pânico implementado pela Unicamp, reforma na rede de esgoto, garantia de qualidade no bandejão e revisão das janelas do prédio.

Quanto à instalação de arcondicionado, Seabra explicou que essa demanda não pode ser atendida devido ao tombamento do prédio, mas afirmou ter solicitado a compra de mais ventiladores. Ele também esclareceu que a questão da rede de esgoto foi solucionada na semana passada. "Não temos autonomia para resolver tudo de imediato; há trâmites que exigem autorização. Infelizmente, as mudanças não ocorrem no prazo desejado", concluiu.

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