Operação rara, com aplicação de eletrodo no cérebro do doente, foi realizada no Centro Médico
Os neurocirurgiões Antonio Carlos Haddad (em pé) e Marcelo Sena Xavier: cirurgia rara bem-sucedida (Dominique Torquato// AAN)
Os neurocirurgiões Antonio Carlos Haddad e Marcelo Sena Xavier fizeram na última terça-feira, em Campinas, uma cirurgia ainda rara no Brasil em um paciente que sofre da doença de Parkinson. Eles implantaram um eletrodo ligado a um neuroestimulador em uma região do cérebro que participa do controle dos movimentos. A medida auxilia os portadores da doença a ter melhor controle sobre os movimentos e melhora a qualidade de vida do paciente.
A cirurgia, chamada Estimulação Cerebral Profunda ou DBS, da sigla em inglês, foi feita no Hospital Centro Médico de Campinas. “É uma cirurgia cara, que utiliza equipamentos importados. A intervenção dura de quatro a seis horas”, afirma Haddad. O paciente é um homem de 57 anos e tem o diagnóstico há cerca de 5 anos. A cirurgia foi bem-sucedida e o paciente se recupera bem.
O eletrodo é ligado a um aparelho gerador de neuroestimulação que provoca impulsos elétricos e melhora a locomoção dos pacientes. É a primeira vez que o Centro Médico realiza esse tipo de cirurgia.
O eletrodo é milimétrico e implantado com o paciente acordado. “Isso acontece para que os médicos possam testar eletricamente o aparelho. As melhoras podem ser observados na hora. Melhora os tremores e a rigidez dos braços e das pernas. Há uma melhora importante na qualidade de vida do paciente, mas não cura a doença”, completa.
O médico explica que Parkinson é uma doença degenerativa e progressiva tratada com medicação. “Com o tempo alguns pacientes começam a não ter uma boa resposta a medicamento. Alguns pacientes podem ter efeitos colaterais”, afirma.
Haddad explica que o doente com Parkinson sofre da falta de dopamina, que é produzida em uma área do cérebro chamada substância negra. “O eletrodo fica implantado em áreas do cérebro que se comunicam com a substância negra. O paciente tem tremores, não consegue manter o equilíbrio, caminhar bem ou desenvolver atividades manuais. A qualidade de vida fica comprometida”, explica.
Segundo o especialista, não são todos os pacientes que podem ser submetidos à intervenção. “Pacientes jovens são potenciais candidatos e a cirurgia geralmente é indicada depois de alguns anos de evolução da doença”, comenta.
Apesar dos esforços de cientistas e institutos de pesquisa, ainda não há cura para a Doença de Parkinson. O que os cientistas sabem é que a redução da produção de dopamina é um dos fatores que provocam o mal. Ele se soma a fatores genéticos ou ambientais. “O que a Ciência sabe é que as células que ficam em uma região chamada substância negra degeneram até morrer. As pesquisas estão focadas no uso de células-tronco”, afirmou Haddad.