crise

Ciesp defende suspensão dos tributos

A indústria da região de Campinas está sendo muito afetada pelos desdobramentos da pandemia da Covid-19 e pede socorro ao Estado e municípios

Daniel de Camargo
25/03/2020 às 07:49.
Atualizado em 29/03/2022 às 16:35

A indústria da região de Campinas está sendo muito afetada pelos desdobramentos da pandemia da Covid-19 e pede socorro ao Estado e municípios para que suspendam temporariamente a cobrança de impostos. Diretor do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) de Campinas, José Nunes Filho, afirma que o alívio da carga tributária é fundamental para que as empresas não fechem e consigam manter os postos de trabalho atuais. Principalmente, as médias e pequenas. "As multinacionais tem mais fôlego financeiro e podem trazer recursos do Exterior pra cá. As demais não irão aguenta dois meses paradas e vão quebrar", explicou. Nunes contextualiza que o Brasil atravessa um momento excepcional em sua história: vivemos um clima de guerra. "Tudo está acontecendo muito rápido", destacou. Para ele, não é hora de se cobrar Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU) ou Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN). "A iniciativa privada não pode ser a única a sofrer", esbravejou. Nunes comenta que o governo federal tem se movimentado nesse sentido e aprovou resolução na semana passada, estendendo o prazo para pagamento dos tributos federais no âmbito do Simples Nacional. A medida também se aplica aos Microempreendedores Individuais (MEI). "Houve prorrogação de até 180 dias", acrescentou, prevendo que a ação abrangerá o período mais crítico, os próximos 60 ou 70 dias. Na outra ponta, o diretor do Ciesp-Campinas garante existirem alternativas dentro da nova legislação trabalhista que auxiliam na manutenção do emprego. Além disso, está havendo, em sua opinião, bom senso por parte dos sindicatos relacionados e também dos trabalhadores. Nunes projeta que os segmentos mais impactados serão o automotivo, confecções e companhias de eletroeletrônicos. Em contrapartida, industrias do setor alimentício, farmacêuticas e da área da saúde não tem sentido reflexos negativos e precisam continuar operando. Inclusive, por serem importantes para o enfrentamento da doença. "Se elas pararem, o País entra em colapso", afirmou. Das 494 empresas associadas à entidade, 236 - praticamente a metade - estão instaladas em Campinas. O prefeito de Campinas, Jonas Donizette (PSB), disse que todos os setores que estão pedindo prolongamento ou isenção de impostos, neste momento, tem certa razão. Em transmissão ao vivo realizada na tarde de ontem, por meio de uma rede social, reforçou que a situação é difícil para todos porque as receitas irão cair naturalmente em decorrência do desaquecimento na economia. Por isso, ele não pode abrir mão de nenhuma arrecadação. Futuramente, os valores pleiteados a suspensão podem fazer a diferença para salvar ou não vidas. Contudo, ressaltou que as entidades podem seguir enviando seus requerimentos. Num momento oportuno, serão analisados individualmente. O chefe do Executivo assegurou que enquanto não souber a dimensão dos impactos que Campinas vai sofrer pela pandemia, não tomará nenhuma decisão de ordem tributária. O governo paulista já anunciou uma série de medidas de enfrentamento a Covid-19, entre elas, a liberação de R$ 500 milhões para aquecer a economia do Estado com foco no incentivo ao empreendedorismo e à geração de emprego e renda, e suspensão de protesto de dívidas por 90 dias. Mas, não suspendeu a cobrança de impostos. Crédito O diretor do Ciesp-Campinas aponta ainda que a oferta de crédito barato, de longo prazo e com carência é essencial para as indústrias neste momento. Recentemente, informa, a Caixa Econômica Federal (CEF) e o Banco do Brasil - dois bancos estatais - liberaram linhas de crédito de até R$ 500 mil para capital de giro para empresas com faturamento máximo de R$ 10 milhões. As condições são boas e envolvem taxas anuais de juros, na média, de 17,8%. Contudo, exigem pré-requisitos relacionados a certidões de negativação que tem dificultado o acesso ao recurso. A situação, entende, pede flexibilidade. Nunes garante ser impossível mensurar os prejuízos da indústria regional. Contudo, já são gigantescos e irão aumentar. As quedas recentes nas projeções do Produto Interno Bruto (PIB) são indicadores desse cenário. "Sem dúvida, essa ferida vai demorar para cicatrizar. A vantagem é que esse problema não é de origem econômica, mas sanitária. Quando cessar, a economia via se reerguer", disse, projetando uma retomada já para o segundo semestre deste ano. A velocidade, entretanto, será definida pela proporção os estragos. Segundo a sondagem industrial realizada pela entidade em fevereiro, 44,44% dos industriais da região já registraram aumento nos custos de produção com a alta do dólar. Cerca de 22% estão com problemas para importar insumos e 33,33% viram essa despesa crescer. Nunes considera ainda os dados relevantes baseado no perfil importador das indústrias da região e assegura que preços finais dos produtos aqui produzidos certamente serão alterados para cima.

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