Recurso foi aprovado pelos Comitês e pela Agência das Bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí; nove municípios da região serão contemplados
Os recursos liberados aos municípios têm por objetivo amenizar os pontos críticos relacionados ao abastecimento da população, ampliando consequentemente a segurança hídrica das Bacias PCJ (Laert Silva)
Os Comitês Piracicaba, Capivari e Jundiaí e a Agência das Bacias PCJ aprovaram a liberação de R$ 10,78 milhões para nove municípios da Região Metropolitana de Campinas (RMC) investirem em obras de gestão dos recursos hídricos. O valor representa 34,09% do total de R$ 31,62 milhões aprovados para 42 empreendimentos em 27 cidades durante a reunião ordinária dos Comitês (Bacias Hidrográficas dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí [CBHPCJ], PCJ Federal e CBH-PJ1).
Na RMC, receberão recursos as cidades de Campinas, Americana, Engenheiro Coelho, Indaiatuba, Jaguariúna, Monte Mor, Nova Odessa, Santa Bárbara d´Oeste e Vinhedo. A Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento (Sanasa), empresa de economia mista responsável pelo saneamento em Campinas, receberá R$ 2 milhões, o maior valor individual, para substituição de redes de cimento amianto e ligações de água no bairro Jardim Santa Cruz, na região Sul de Campinas, formado por nove ruas. A obra terá ainda uma contrapartida R$ 685,13 mil, totalizando R$ 2,68 milhões.
Os recursos liberados são provenientes das cobranças pelo uso da água (Paulista e Federal) e da Compensação Financeira pela utilização dos Recursos Hídricos para Fins de Geração de Energia Elétrica (CFURH). A Cobrança PCJ Paulista e a CFURH constituem recursos do Fundo Estadual de Recursos Hídricos (Fehidro). No total, serão repassados R$ 26,02 milhões a fundo perdido e mais R$ 5,6 milhões serão investidos como contrapartidas.
TROCA DE REDE
A Sanasa está acelerando os investimentos para implementar o Plano Campinas 2030, que prevê a substituição de 450 quilômetros de tubulações de água até 2024. Até o momento, já foram trocados 270 km. A próxima obra será realizada amanhã (dia 6), para interligação de redes de água na região do distrito de Sousas. De acordo com a empresa, também haverá a substituição e manutenção de válvulas. Com isso, será interrompido o fornecimento de água para a população das 8 horas até, no máximo 17 horas, para que os serviços sejam executados.
"As obras integram esse plano e são importantes para melhorar ainda mais a segurança hídrica da cidade, a qualidade da água fornecida e a infraestrutura das redes de distribuição. Também garantem o funcionamento adequado do sistema de abastecimento", divulgou a Sanasa em nota. No mês passado, Campinas foi apontada como um dos oito municípios com a menor taxa de desperdício de água entre as 100 cidades brasileiras mais populosas.
Estudo do Instituto Trata Brasil indicou que a cidade tem uma perda de 20,57%, índice que é praticamente a metade da média nacional, que é de 40,3%. O levantamento feito pela Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), formada por empresas com interesse nos avanços do saneamento básico e na proteção dos recursos hídricos do país, foi feito com base nos dados de 2021 do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS).
A Sanasa tem um programa para a redução de perdas desde 1994. Em 26 anos, ou seja até 2020, foram trocados 450 km de redes de água. Para o quadriênio 2021-2024, serão substituídos mais 450 km em toda cidade, mais que em quatro anos. As redes estão sendo trocadas por tubulações confeccionadas em polietileno de alta densidade (PeAd), material muito mais resistente e que tem durabilidade de 50 anos. As novas redes vão reduzir drasticamente a ocorrência de vazamentos.
Só para as obras de troca de redes, a Sanasa está investindo cerca de R$ 300 milhões, dentre os quais está incluído o valor de R$ 2 milhões anunciado pelo Comitê PCJ. Em 1994, Campinas retirava dos rios, anualmente, 116 bilhões de litros para abastecer os 800 mil moradores da época. Hoje, com 1,13 milhão de habitantes, a Sanasa retira 106 bilhões de litros.
De acordo com o engenheiro Carlos Salmito, especialista em serviços de saneamento, o principal objetivo da troca das tubulações de cimento amianto por PVC e outros materiais visa reduzir a perda física de água e diminuir os serviços de reparo nas redes antigas, normalmente com mais de 30 anos de uso. De acordo ele, "a rede rompe com facilidade quando há maior pressão".
Além disso, não é possível encontrar peças de reposição. Em março passado, o Supremo Tribunal Federal (STF) manteve a proibição do uso do amianto no Brasil, medida adotada em 2017. Porém, a substituição da rede está relacionada a caráter técnico e não a questões de saúde. Os estudos científicos não apontam qualquer relação entre doenças e a ingestão de água tratada que trafega em tubulações de cimento amianto.
OUTROS PROJETOS
De acordo com os Comitês PCJ, as liberações de verbas aprovadas envolvem a elaboração de projetos, planos e obras em diversas áreas da gestão dos recursos hídricos, como tratamento de esgotos, combate a perdas nos sistemas de abastecimento de água, macrodrenagem, saneamento rural, proteção de mananciais, entre outras. Todas as obras exigem contrapartidas das cidades contempladas.
Santa Bárbara d´Oeste receberá R$ 1,99 milhão para substituição de hidrômetros com mais de cinco anos, visando à redução de perdas no sistema de abastecimento. O montante destinado para Indaiatuba é o terceiro maior aprovado, R$ 1,92 milhão, e será investido para obras no abastecimento do bairro Morada do Sol. A Companhia de Desenvolvimento de Nova Odessa (Coden) aplicará o recurso de R$ 1,88 milhão na substituição de redes e ligações de água através de método não destrutivo no Setor Industrial.
A Saneamento Básico Vinhedo (Sanebavi) terá a liberação de R$ 1,7 milhão para a implantação da primeira fase do sistema de monitoramento integrado por meio de Inteligência Artificial para gestão de eventos e redução de perdas reais. Para Jaguariúna, foram aprovados R$ 392,25 mil para a elaboração de projeto executivo de Estação de Tratamento de Esgoto da sub-bacia do Rio Jaguari.
O DAE de Americana receberá R$ 406,63 mil para elaboração de projeto para substituição e prolongamento do coletor tronco de esgoto sanitário Recanto - Quilombo. Engenheiro Coelho terá R$ 230,2 mil e Monte Mor, mais R$ 248,79 mil para, respectivamente, elaboração do plano municipal de saneamento rural e revisão do plano de saneamento básico.
"Os Comitês PCJ vêm atuando há 30 anos para mudar a realidade ambiental da região. Os esforços e investimentos realizados proporcionaram, por exemplo, um salto de 3% de esgotos tratados em 1993, para mais de 80% em 2022. Seguiremos firmes planejando e investindo para amenizar as criticidades e ampliar a segurança hídrica das Bacias PCJ", destacou o secretário-executivo dos órgãos, André Navarro.
As outras cidades que receberão recursos são Águas de São Pedro, Analândia, Capivari, Charqueada, Cordeirópolis, Ipeúna, Iracemápolis, Itirapina, Jundiaí, Limeira, Louveira, Piracicaba, Rafard, Rio Claro, Rio das Pedras, São Pedro, Torrinha e Vargem.
O presidente dos Comitês e prefeito de Piracicaba, Luciano Almeida (PP), lembrou que na reunião do próximo dia 19 serão renovadas as Câmaras Técnicas dos órgãos. "É essencial que todos participem. Quanto mais pessoas estiverem envolvidas, maior será a diversidade de perspectivas e ampliaremos a pluralidade de nossa atuação", afirmou.