REUNIÃO EMERGENCIAL

Cidades da RMC se unem e definem estratégias de combate à dengue

Sete medidas foram definidas pelos 20 municípios, entre elas a reivindicação de doses da vacina e a realização de mutirões conjuntos

Edimarcio A. Monteiro/ edimarcio.augusto@rac.com.br
09/03/2024 às 12:31.
Atualizado em 09/03/2024 às 12:33

Representantes das cidades que compõem a Região Metropolitana estiveram presentes na reunião realizada no Paço Municipal de Campinas; RMC tem 12,13% do total de infecções registradas em todo o Estado de São Paulo (Fernanda Sunega)

As 20 cidades da Região Metropolitana de Campinas (RMC), que reúnem 3,17 milhões de habitantes, definiram, sexta-feira (8), sete ações conjuntas de combate à dengue para tentar conter o avanço da epidemia, reivindicar junto ao governo federal doses da vacina contra a doença e evitar o colapso do sistema público de saúde. As medidas foram anunciadas após uma reunião de emergência no momento em que os municípios somam 20,6 mil casos confirmados de dengue, considerando do dia primeiro de janeiro até sexta-feira, sete de março.

A quantidade equivale a 12,13% do total registrado em todo o Estado de São Paulo. Dos mais 20 mil casos, os municípios da RMC contabilizam três mortes, cinco óbitos em investigação e subiu para três o número de cidades que decretaram estado de emergência em virtude da epidemia de dengue, com Pedreira juntando-se a Campinas e Jaguariúna.

O trabalho conjunto da RMC contra a doença buscará repetir a conjugação de forças adotada durante a recente pandemia de covid-19, principalmente entre 2020 e 2022, quando as cidades compartilharam os leitos para internação de pacientes. No caso da dengue, as ações envolvem realização de mutirões conjuntos para a eliminação de focos do mosquito Aedes aegypti, transmissor da doença, a criação de um comitê metropolitano de enfrentamento, a mobilização de lideranças religiosas, empresariais e imobiliárias para serem agentes multiplicadores das medidas de combate, o reforço às medidas nas divisas dos municípios, onde a conurbação faz com que há pontos em que cada lado de uma rua fica em uma cidade, o uso da telemedicina para fazer o acompanhamento de casos suspeitos e evitar que as pessoas se encaminhem até prontos-socorros dos hospitais e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), pedido de apoio ao Exército nas ações de mutirão e, por fim, a solicitação, ao governo federal, do envio de doses da vacina contra a dengue para a RMC.

“A Região Metropolitana de Campinas teve uma atuação muito importante durante a pandemia de covid-19. Foi uma articulação de sucesso, uma ação conjunta das 20 cidades, e nós vamos repetir isso no enfrentamento da dengue”, disse o prefeito de Campinas, Dário Saadi (Republicanos), que foi o anfitrião da reunião de emergência. “Nós chegamos à conclusão que enfrentamos a pior epidemia de dengue da história, Foi anunciado aqui pela diretora de Vigilância e também pela Secretaria de Saúde que deveremos ter um cenário bastante preocupante, que vai ter um acúmulo nas UBSs (Unidades Básicas de Saúde) e UPAs. Se não houver uma ação conjunta dos prefeitos da RMC, pode haver um colapso. Então, vamos adotar sete medidas para fazer o enfrentamento”, afirmou o presidente do Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Campinas (CDRMC) e prefeito de Jaguariúna, Gustavo Reis (MDB), que participou do encontro.

SITUAÇÃO

De acordo com o Boletim Epidemiológico de Arboviroses Urbanas, da Secretaria Estadual de Saúde, 19 cidades da Região Metropolitana registraram alta nos casos de dengue até semana passada, com índices que variam entre 25%, registrado em Hortolândia, até 574%, em Jaguariúna. O documento traz dados de período fechados, com informações até a 8ª semana de 2024 em comparação a igual período do ano passado. Segundo o balanço, a única cidade da RMC a registrar queda foi Itatiba (-63%). A Pasta mantém ainda um segundo instrumento sobre a arbovirose, que é um painel de monitoramento com a evolução diária da doença em todos os 645 municípios paulistas.

Esse mecanismo mostrou que em 24 horas, entre quinta-feira e sexta-feira, a Região Metropolitana ganhou 783 novos registros de dengue, média de quase 33 a cada hora. O total chegou a 20,6 mil casos, alta de 3,95% em relação aos 19.817 de quinta-feira. Segundo o painel de monitoramento, apenas quatro cidades não tiveram alta – Engenheiro Coelho, Itatiba, Morungaba e Pedreira. Esse canal do governo estadual mostrou ainda que há cinco casos de óbitos por dengue em investigação, dois em Campinas e o restante, um em cada, em Americana, Santo Antônio de Posse e Vinhedo.

As três vítimas fatais da dengue neste ano, na RMC, eram de Campinas. Em nove semanas de 2024, o município já ultrapassou todos os casos confirmados de 2023. Campinas tinha, até sexta-feira, 15.310 registros da doença, alta de 3,18% em comparação aos 14.838 de quinta-feira. A cidade tem ainda dois casos confirmados de chikungunya, também transmitido pelo Aedes aegypti, este ano. Em 2023 foram 13. 

AÇÕES

Segundo o prefeito Dário Saadi, o centro de monitoramento da dengue funcionará em Campinas e fará o acompanhamento da evolução diária na RMC para definir estratégias conjuntas de combate à doença. “Haverá a união das cidades para poder enfrentar essa situação. Há uma previsão de aumento nas próximas semanas dada a curva de ascensão, o governo do Estado ressaltou bastante isso. Por isso, preparar as cidades é importante não só do ponto de vista de tentar reduzir a proliferação do mosquito da dengue. Esse é o nosso grande desafio”, afirmou. A Prefeitura trabalha com a previsão de Campinas atingir 100 mil casos de dengue até maio, ou seja, atingir 8,78% do total da população de 1,13 milhão de habitantes.

Para o presidente da CDRMC, Gustavo Reis, além de todos os esforços das prefeituras, é preciso que os moradores façam a sua parte. Pelo menos uma vez por semana, é essencial que cada indivíduo faça uma vistoria geral em suas casas para eliminar pontos de água parada, locais propícios para o desenvolvimento das larvas do Aedes aegypti. A participação individual inclui verificar vasos de água, garrafas vazias, potes, ralos e outros locais onde a água pode ser acumulada, principalmente em época de chuvas.

De acordo com o prefeito de Jaguariúna, é nesse sentido que as autoridades estão buscando o envolvimento dos líderes religiosos, empresariais e das imobiliárias. “É preciso se unir no sentido de multiplicar a conscientização para que cada pessoa faça o seu dever de casa”, afirmou. Na reunião, representantes do governo do Estado também esclareceram as condições em que as cidades podem decretar estado de emergência em virtude da dengue, com os pontos básicos sendo a incidência de 300 casos de dengue por 100 mil habitantes e o impacto da doença sobre a rede de saúde.

A medida adotada por Campinas, Jaguariúna e Pedreira permite a adoção de medidas administrativas necessárias à contenção do aumento de casos de dengue, como a destinação de verba para compra de insumos de combate à doença e tratamento sem licitação pública. No entanto, tanto Dário Saadi quanto Gustavo Reis destacaram que os recursos têm de ser destinados exclusivamente para os casos de dengue e que há regras legais que regem a aplicação e fiscalização desse dinheiro.

Como parte do decreto de emergência, Campinas estuda, por exemplo, abrir os centros de saúde nos finais de semana para atendimento apenas dos pacientes com a doença, pagando hora extra aos servidores municipais. Para ter validade, o uso dessa medida depende de aprovação pelo Ministério da Saúde.

MUTIRÃO

Enquanto as cidades se reúnem para discutir ações, os pontos de risco de proliferação do mosquito Aedes aegypti se multiplicam em Campinas. Um deles é no final da viela 1 da Rua Decival Rodrigues de Araújo, no Jardim Novo Anchieta, onde há água acumulada em garrafas, potes plásticos, pedaços de tábuas e no meio do entulho de construção jogados às margens do Córrego Piçarrão. Segundo os moradores, que têm receio de contrair a dengue, a área pertence à Prefeitura.

“Eles (funcionários municipais) já vieram aqui duas vezes, tiraram fotos e disseram que resolveriam, mas até agora nada foi feito”, disse o aposentado José Maria Rodrigues. Para ele, também há falta de apoio da população que usa o local para descarte de lixo. “Quando eu vejo, eu peço para não jogarem”, completou.

Em meio a essa situação, a Prefeitura realizará hoje o sexto mutirão contra a dengue de 2024. Equipes municipais visitarão imóveis nos bairros Núcleo Residencial Gênesis, Núcleo Residencial Getúlio Vargas, Núcleo Residencial Parque Dom Bosco, Parque São Quirino, Jardim Santana, Vila Nogueira, Cafezinho, Jardim Nilópolis e Capadócia. Os locais foram selecionados por causa do número de casos confirmados ou suspeitos de dengue nos últimos 14 dias.

SITUAÇÃO DA DENGUE NA RMC EM 2024 

Municípios                            Número de casos confirmados*

Americana                                          160 

Artur Nogueira                                   138 

Campinas                                           15.310 

Cosmópolis                                          60

Engenheiro Coelho                              24 

Holambra                                            131 

Hortolândia                                         154 

Indaiatuba                                           286 

Itatiba                                                  266 

Jaguariúna                                         801 

Monte Mor                                           81 

Morungaba                                          32

Nova Odessa                                    373 

Paulínia                                             770

Pedreira                                              68 

Santa Bárbara D’Oeste                     139 

Santo Antônio de Posse                      64

Sumaré                                              410

Valinhos                                            1.125

Vinhedo                                              208 

TOTAL                                             20.600 

Fonte: Secretaria Estadual de Saúde
*Dados até 08/03/20024

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