AQUECIMENTO GLOBAL

Cidade terá a partir de abril 200 ‘microflorestas urbanas’

Além de garantir conforto em dias quentes, ideia é captar gases de efeito estufa

Luiz Felipe Leite/[email protected]
27/03/2025 às 12:30.
Atualizado em 27/03/2025 às 13:52
Um dos locais escolhidos para iniciar o projeto é um canteiro entre a Vila Costa e Silva e a Rodovia Zeferino Vaz (Kamá Ribeiro)

Um dos locais escolhidos para iniciar o projeto é um canteiro entre a Vila Costa e Silva e a Rodovia Zeferino Vaz (Kamá Ribeiro)

A Prefeitura de Campinas anunciou o plantio de 200 aglomerados de árvores nativas em espaços públicos menores, como praças, rotatórias ou locais isolados em parques públicos da cidade. Trata-se do Projeto de Microflorestas Urbanas. O objetivo da ação, divulgada ontem pela gestão do prefeito Dário Saadi (Republicanos) é, com o uso das microflorestas, aumentar o sombreamento, diminuir as temperaturas e garantir mais conforto em dias quentes; atrair e dar refúgio a animais, promovendo a biodiversidade; ajudar a reduzir a polução do ar e o ruído; valorizar o espaço urbano e por fim, que esses aglomerados de árvores atuem como captadores de carbono, absorvendo o CO2 da atmosfera e combatendo o aquecimento global. 

A administração municipal prevê começar a implantar as microflorestas no município a partir de abril deste ano, nas regiões dos distritos do Campo Grande, Ouro Verde e em bairros como Vila Costa e Silva e Vila Miguel Vicente Cury. O critério para a escolha desses locais seguiu as recomendações de um diagnóstico divulgado em reportagem do Correio Popular, feito pela UrbVerde, plataforma de indicadores socioambientais de temperatura e vegetação criada pelas universidades de São Paulo (USP), federais de São Carlos (UFScar), da Bahia (UFBA) e Lusófona de Humanidades e Tecnologia, além de parceria com outras entidades. Nesse estudo, foi apontado que Campinas é a cidade do interior do Estado de São Paulo mais vulnerável aos efeitos de ilhas de calor.

As mudas a serem plantadas pela Prefeitura de Campinas serão retiradas do Viveiro Municipal e colocadas nos locais pelos reeducandos que já prestam serviços para a administração municipal, como podas de árvores, por exemplo. No caso das microflorestas, elas poderão ter 200 m², 300 m², 400 m² ou até 1 mil m² de tamanho. E sempre com o espaço de 1 centímetro entre uma e outra árvore. Ou seja, se a área do aglomerado for de 200 m², ela terá 200 árvores. Alguns exemplos de espécies que serão utilizadas no programa são Alecrim-de-Campinas, Peroba-Rosa, Jequitibá, Pau-Brasil, entre outras. Ainda de acordo com a gestão municipal, as regiões dos distritos do Campo Grande, Ouro Verde, Nova Aparecida, Barão Geraldo, Sousas, Joaquim Egídio, além dos bairros Vila Costa e Silva, Vila Miguel Vicente Cury, Jardim Santa Mônica e Vila Padre Anchieta, vão receber a iniciativa. Alguns locais específicos que receberão as mudas foram citados durante a apresentação do projeto. O primeiro vai ser a Praça Brigham Young, no entorno da Avenida Presidente Juscelino, no Novo Campos Elíseos. Mais conhecido como Balão do Laranja, o espaço terá 3,2 mil mudas a serem plantadas em uma área de 3,240 m². Outros locais confirmados pela Prefeitura que receberão a iniciativa ficam em um canteiro entre o bairro Vila Costa e Silva e a Rodovia Professor Zeferino Vaz (SP-332), no trecho do "Tapetão", e a Praça Professora Vicenta Nieta de Almeida Prado, ao lado do Parque Ecológico de Barão Geraldo.

Um projeto de lei institucionalizando o programa foi enviado para a análise da Câmara Municipal. Apesar de a tramitação estar em um estágio inicial, os plantios poderão ser realizados normalmente. O que está contido na proposta encaminhada pelo prefeito aos parlamentares, e que precisará ser autorizada por eles, é a possibilidade de empresas adotarem alguns espaços públicos para a criação e a manutenção de outras microflorestas além das 200 que serão feitas pela Prefeitura de Campinas. Outra novidade a ser avaliada pelos legisladores da cidade é que essas empresas cuidem dos aglomerados de árvores eventualmente já existentes no município. É uma proposta similar ao programa Adote uma Praça, ainda em vigor na cidade.

MOTIVAÇÃO

O secretário municipal de Serviços Públicos de Campinas, Ernesto Paulella, conduziu a apresentação do Projeto de Microflorestas Urbanas. Ele disse que os primeiros estudos sobre o assunto começaram no início deste ano, com inspirações de ações similares feitas em países como França, Holanda e a Austrália. Perguntado se o anúncio do novo programa é uma resposta às críticas sofridas pela Prefeitura, com os cortes recentes de exemplares arbóreos em Campinas, como a remoção de árvores localizadas no entorno do Centro de Convivência. ele defendeu as ações da gestão municipal em relação às arvores do município.

"Esse projeto é algo complementar. Ou seja, que se interliga com outras ações de plantios de árvores na cidade. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Censo de 2020, Campinas é a segunda cidade mais arborizada do Brasil. A primeira é Goiânia, uma cidade mais nova, projetada, diferente de Campinas, que é uma cidade secular. Esse projeto complementar tem um sentido claro e objetivo de diminuir as ilhas de calor, de capturar o gás carbônico, melhorar o abrigo para a pequena fauna e, principalmente, ocupar os espaços públicos ociosos", afirmou.

Saadi destacou que o Projeto de Microflorestas Urbanas está alinhado com as diretrizes da cidade no combate aos efeitos das mudanças climáticas. É um tema defendido fortemente pelo político, citado em inúmeras oportunidades. Como na posse dele para o segundo mandato, em 1˚ de janeiro de 2025, e em uma entrevista exclusiva ao Correio Popular no começo deste ano. "Campinas tem avançado muito na questão da arborização urbana. Temos 500 mil novas árvores plantadas na cidade desde o meu primeiro mandato. E o projeto das microflorestas urbanas vem para potencializar o plantio de árvores. Primeiro, que é uma experiência que já começou em alguns países e tem sido de sucesso. Esse projeto é muito importante do ponto de vista da sustentabilidade. E os espaços urbanos também serão otimizados com essa ação", concluiu.

O vereador Luiz Rossini (Republicanos), presidente da Câmara, acompanhou a apresentação da proposta e elogiou a iniciativa da gestão municipal. Ele afirmou que a tramitação do projeto de lei que institucionaliza a proposta não deverá ser demorada, podendo ser votada em plenário em aproximadamente dois meses. "Essa matéria nem exige a realização de uma audiência pública. Mas acho que é importante pensarmos em chamar uma audiência pública para apresentar essa proposta para a sociedade e falar do objetivo do projeto. E assim aprofundar a discussão e detalhar a importância dele. E talvez com isso ajudar no esforço de atrair empresas que queiram contribuir com esse novo conceito de arborização da cidade de Campinas".

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