OBSTÁCULOS URBANOS

Chuvas dobram o número de buracos nas ruas de Campinas

De acordo com estimativa apresentada pela Secretaria de Serviços Públicos, volume de reparos deverá subir de 15 mil para 30 mil por mês

Edimarcio A. Monteiro/ [email protected]
07/01/2023 às 08:58.
Atualizado em 07/01/2023 às 08:58
Carro passa por bueiro danificado pela força da enxurrada no distrito Ouro Verde: multiplicação de buracos por causa do extenso período chuvoso gera risco de acidentes aos motoristas e gastos extras ao erário público (Rodrigo Zanotto)

Carro passa por bueiro danificado pela força da enxurrada no distrito Ouro Verde: multiplicação de buracos por causa do extenso período chuvoso gera risco de acidentes aos motoristas e gastos extras ao erário público (Rodrigo Zanotto)

As chuvas constantes que castigam Campinas desde dezembro fizeram dobrar o número de buracos nas ruas e avenidas em todas as regiões da cidade. A avaliação foi feita na sexta-feira (6) pelo secretário municipal de Serviços Públicos, Ernesto Dimas Paulella, ao estimar que os 15 mil trabalhos executados mensalmente pela operação tapa-buraco deverão saltar para 30 mil. O custo do serviço, de cerca de R$ 1,2 milhão por mês, também sofrerá aumento substancial, alcançando a cifra aproximada de R$ 2,5 milhões.

Alguns buracos abertos pelas enxurradas criam situações de risco de acidentes de trânsito. É o que ocorre na Avenida Ruy Rodrigues, no Distrito do Ouro Verde, uma das principais vias da região de Sudoeste. Na sexta-feira (6)de manhã, um agente de mobilidade urbana da Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec) retirou três cavaletes quebrados do local, que sinalizavam a existência de uma cratera, um indicador de que foram atingidos por veículos. 

"Eu quase bati o carro porque os veículos seguem na pista dupla e, de repente, o trânsito é afunilado para apenas uma pista", contou o corretor de imóveis Maurício Correia. Segundo ele, a intervenção faz com que os motoristas freiem ou desviem bruscamente da barreira, podendo atingir o veículo ao lado. Outro ponto de perigo está na Rua São Luiz do Paraitinga, no Jardim do Trevo, onde a chuva de novembro provocou o desmoronamento do barranco do córrego que divide a via, que levou parte do asfalto. Com as precipitações seguintes, a situação piorou.

"Já caiu carro aqui. Estão surgindo novas trincas e mais um trecho pode ruir. Daqui a pouco ninguém conseguirá passar neste ponto", advertiu o mecânico Antonio Oliveira. Na Avenida Washington Luiz, na Vila Marieta, um buraco reapareceu poucos dias depois de ser consertado. "Tem risco de acidente porque o movimento é muito grande", apontou o motorista João Vitor Pereira Moraes. No Jardim Telesp, um bueiro afundou deixando uma fenda na esquina das ruas João Batista Monteiro e Antônio Vicente Levantezi. "Isso foi há uns 15 dias e somente ontem [quinta-feira, 5] é que colocaram um cavalete de sinalização. Não sei como não aconteceu um acidente ainda", reclamou o autônomo Edson Luiz Matos. 

Outros locais

Os buracos também prejudicam a circulação de veículos em outros pontos, como na Rua Roberto Simonsen, no Jardim Bela Vista. "Está parecendo uma colcha de retalhos, com centenas de remendos e diversos buracos", queixa-se o projetista civil Gilmar Campopiano. Diversos buracos também surgiram nos últimos dias na Avenida Guilherme Campos, no Jardim Santa Genebra. "Você desvia de um e cai no outro, dá até tranco no carro", criticou o mestre de obra Décio Bianchini. 

No Cambuí, foi colocado até um cone de sinalização grande para evitar que os motoristas passem pelo buraco na Rua Barreto Leme, próximo à Rua Maria Monteiro. Cair em um deles pode causar danos nos veículos. "O nosso movimento aumenta em torno de 25% na época das chuvas por causa dos buracos", revelou Gilberto Campestre, gerente de uma oficina de suspensão e alinhamento de veículos. Ele explicou que as fortes pancadas podem afetar amortecedores, bandejas, braços de suspensão, rodas e pneus.

Inimigo

"O maior inimigo do asfalto é a água", considerou o secretário de Serviços Públicos. Ele explica que a Prefeitura tem 12 equipes de tapa-buracos que trabalham constantemente, mas as chuvas torrenciais desde 15 de dezembro impedem que elas atuem. "Precisamos de tempo seco, de uma estiagem para trabalhar. A água desagrega o asfalto", detalhou Ernesto Paulella. Em dezembro, Campinas registrou 330 milímetros de chuva, 50% a mais do que a média de 220 mm, o maior volume dos últimos 30 anos.

O Sistema Integrado de Defesa Civil (Sidec), do governo do Estado, aponta que nas últimas 72 horas, até sexta-feira (6) de manhã, o acumulado na cidade foi de 112,7 mm. Ou seja, em três dias choveu o equivalente a 41,56% da média para todo o mês, de 271,2 mm, de acordo com estudo do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Paulella esclareceu que o asfalto em Campinas é antigo, o que causa a abertura de fissuras e infiltração de água, o que desagrega o pavimento e dá origem aos buracos. O tempo de vida da capa asfáltica, informou, é de dez anos. Ele observou que a situação na Rua São Luiz do Paraitinga é diferente e exigirá uma de infraestrutura maior, que incluirá drenagem e construção de um muro de gabião (pedras). A Secretaria Municipal de Infraestrutura, acrescentou, já iniciou uma licitação pública para a realização do serviço.

Processo

"Os motoristas têm um papel importante em nos ajudar. Eles podem informar o surgimento dos buracos pelo telefone 156, o que nos ajuda a monitorar o surgimento, sinalizar para evitar acidentes e fazer a programação da operação tapa-buraco", disse Paulella. De acordo com ele, o trabalho é feito por região para evitar os deslocamentos das equipes para áreas diferentes e aumentar a produtividade.

Para o advogado Gustavo Fonseca, especialista em Direito de Trânsito, cabe pedido de indenização por parte do dono de veículo danificado por causa de buracos em vias públicas. "O Código de Trânsito Brasileiro legisla sobre esse tema já no 1º artigo. Conforme exposto no parágrafo terceiro, os órgãos e entidades componentes do Sistema Nacional de Trânsito devem responder pelos danos causados aos cidadãos em virtude de ação, omissão e manutenção de programas, projetos e serviços que garantam o exercício do direito do trânsito seguro", afirmou.

"Nesse caso, se você tiver danos causados devido a buracos na rua, o CTB prevê que a responsabilidade é do órgão e entidade que responde por aquela via", completou. Fonseca ponderou que o sucesso de uma ação indenizatória dependerá de vários fatores, como se a Prefeitura foi comunicada da existência do buraco, se o local estava sinalizado e até do comportamento do condutor do veículo.

Ele orientou que a pessoa deve procurar um advogado de confiança para avaliar a sua situação e juntar provas, como fotos do local e dos danos causados ao veículo, registrar boletim de ocorrência, juntar testemunhas, fazer no mínimo três orçamentos do conserto e guardar os recibos dos gastos.

Situação das cidades

O relatório de sexta-feira (6) da Operação Chuvas de Verão, do Sidec, aponta que Socorro, no Circuito das Águas, continua em estado de alerta e outras seis cidades da região estão em estado de atenção. São elas: Campinas, Jaguariúna, Morungaba, Paulínia, Pedreira e Valinhos. Outros 12 municípios estão em o estado de observação - Americana, Artur Nogueira, Capivari, Holambra, Hortolândia, Indaiatuba, Itatiba, Monte Mor, Nova Odessa, Santa Bárbara d´Oeste, Santo Antônio de Posse e Vinhedo.

A Secretaria de Cidadania de Socorro agradeceu sexta-feira (6) as doações destinadas ao município e informou que não é mais necessário o envio de roupas e calçados. De acordo com o órgão, os itens mais necessários são produtos de higiene pessoal, materiais de limpeza, itens de cozinha, alimentos e mobiliários. Para doar, os contatos com a Secretaria de Cidadania podem ser feitos pelo telefone (19) 99782-3080.

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