SEM TRÉGUA

Chuvas causam transtornos em cidades da região

Em Monte Mor, Rio Capivari transbordou e afetou mais de 250 famílias; previsão é de tempo instável pelo menos até amanhã

Luiz Felipe Leite/[email protected]
04/02/2025 às 11:33.
Atualizado em 04/02/2025 às 12:11
Foram registrados 120 milímetros de chuva em Monte Mor (imagem superior) em um período de 24h, resultando em pontos de alagamento em oito bairros da cidade; ontem, em Campinas, a Rua Barão de Jaguara (imagem inferior) permanecia interditada após o afundamento da via (Rodrigo Zanotto)

Foram registrados 120 milímetros de chuva em Monte Mor (imagem superior) em um período de 24h, resultando em pontos de alagamento em oito bairros da cidade; ontem, em Campinas, a Rua Barão de Jaguara (imagem inferior) permanecia interditada após o afundamento da via (Rodrigo Zanotto)

As chuvas continuam intensas na região de Campinas até amanhã, com previsão de volume acumulado de 70 milímetros. O Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE) da Defesa Civil do Estado de São Paulo emitiu um boletim informando que a persistência do sistema meteorológico estacionado na costa do Sudeste continuará criando condições para temporais, seguidos por raios e rajadas de vento, mantendo ativo o gabinete de crise. A intenção é monitorar toda a situação e coordenar ações emergenciais. A coordenação regional da Defesa Civil alertou para as consequências causadas pelo encharcamento do solo, como quedas de árvores, de muros e paredes de casas com falhas estruturais préexistentes. Nos últimos dias foram registrados vários impactos nas cidades da região.

Em Campinas, foram registradas mais quedas de árvores e pontos de alagamentos. Em Monte Mor, mais de 250 famílias foram afetadas após o Rio Capivari atingir cinco metros de altura e transbordar, causando transtornos. Foram registrados 120 milímetros de chuva na cidade em um período de 24h, resultando em pontos de alagamento em oito bairros da cidade. De acordo com a Prefeitura de Monte Mor, o Rio Capivari invadiu casas e terrenos e algumas delas precisaram deixar as próprias residências, se abrigando em casas de parentes com o apoio da Administração Municipal. Entre os bairros mais atingidos estão Jardim Capuavinha, Jardim Progresso, Vila Falid Calil, Santa Cândida, Chácara Pindorama, Chácara Bacatão, Jardim Moreira e o Centro.

Ainda segundo a Prefeitura de Monte Mor, dois abrigos provisórios foram montados na cidade para as pessoas que não tinham para onde ir. Um deles é na Escola Municipal Aurélio Trasferetti, no Jardim Progresso, e o outro é na Escola Municipal Fauze Calil Canfur, no Jardim Capuavinha. Se houver necessidade, o Ginásio Municipal também será disponibilizado para atender a população, que também recebeu alimentação no local. Além disso, foram oferecidas refeições aos moradores dos bairros afetados que continuam em suas casas.

O prefeito de Monte Mor, Murilo Rinaldo (PP), foi ontem de tarde ao Palácio dos Bandeirantes em São Paulo para se reunir com o governador do Estado, Tarcísio de Freitas (Republicanos). O objetivo foi tratar da situação na cidade, que se repete ao longo dos anos. O resultado do encontro não foi divulgado até o fechamento desta reportagem.

CAMPINAS

Em Campinas foram mais de 200 milímetros de chuva registrados desde a quartafeira da semana passada, dia 29. Segundo o boletim divulgado pelo Sidec (Sistema Integrado de Defesa Civil), somente entre a última sexta-feira, dia 31, e ontem foram registrados 162,1 milímetros. Os números mantiveram a cidade em Estado de Atenção.

Segundo a Prefeitura de Campinas, quatro árvores caíram na cidade entre o último sábado e ontem. Uma na Rua Mogi das Cruzes, na Chácara da Barra, outra na Rua Itaóca, no Jardim Aeroporto de Viracopos, e uma terceira na Rua Rogélio Garcia Sanches, no Jardim Morumbi. Também houve o registro da queda de um galho, na Rua Joaquim Novaes, no Cambuí.

No mesmo período de tempo ocorreram alagamentos em várias partes da cidade. De acordo com a Emdec (Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas), três ocorrências foram registradas no sábado, duas no antigo kartódromo, na região do Taquaral, e uma na Avenida das Amoreiras. A Rua Barão de Jaguara está interditada desde domingo. Já a Rua Delfino Cintra e o cruzamento das avenidas Francisco Glicério e Orosimbo Maia sofreram bloqueios para o trânsito, mas já foram liberadas.

A Administração Municipal informou ainda que houve afundamentos de vias em galerias pluviais. Eles resultaram em oito buracos. Os locais afetados foram a Rua Barão de Jaguara com a Rua Ferreira Penteado, no Centro; Rua Delfino Cintra, no Centro; Rua Olavo Bilac, no Cambuí; Rua Philemon de Cuvillon, no Jardim dos Oliveiras; Rua Guatemala, no Jardim Nova Europa; Rua Viradouro com Rua Vera Cruz, no Jardim Nova Europa; Avenida Ângelo Simões, no Jardim Proença; e Rua José Soriano de Souza Filho, na Vila Joaquim Inácio. As equipes da Secretaria de Serviços Públicos estão trabalhando nestes pontos.

A reportagem visitou um desses locais afetados no Centro, na Rua Barão de Jaguara, entre a Avenida Moraes Salles e a Rua Ferreira Penteado. O excesso de água fez ceder a parede da galeria que passa por debaixo da via. Com isso, ela foi interditada para a reforma do local. O problema, que voltou a se repetir, gerou reclamações da população e de comerciantes que ficam nos arredores. É o caso de Larissa Jenifer Alencar de Souza, sócia de uma loja que vende acessórios para celulares na Rua Ferreira Penteado. Há seis anos no local, Larissa comentou que a via se transforma em um rio quando as chuvas são mais fortes. “Uma vez um motociclista ficou agarrado a um poste aqui na rua durante uma chuva mais forte. A moto dele foi arrastada pela enxurrada. Eu mesma já tive um caso de prejuízo na loja, com a água da chuva entrando aqui”, contou.

Os transtornos causados pelos alagamentos também impactaram quem frequenta o Jardim do Trevo, bairro em Campinas próximo da Rodovia Anhanguera e da Avenida Prestes Maia. Uma situação do tipo aconteceu na Avenida Papa Paulo VI, que ficou parcialmente alagada após uma das chuvas da última semana.

Danton da Cunha trabalha em uma loja que vende ferragens na Avenida Papa Paulo VI. Ele desabafou sobre as enchentes constantes no local, resultado da água que sai da Rodovia Anhanguera e atinge a via. “Estou aqui há 18 anos, mas sei que esse problema (alagamentos constantes) é recorrente há mais tempo. E não adianta reclamar, pois acredito que ninguém vai se mexer para resolver.” 

ATENÇÃO

O Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura da Unicamp (Cepagri) indicou que as condições do tempo para a Região Metropolitana de Campinas continuam parecidas com os últimos dias, com predomínio de céu nublado a encoberto e tempo instável e chuvoso.

Na avaliação da Defesa Civil de Campinas, devido aos acumulados elevados das últimas chuvas e à possibilidade de chuvas intensas para os próximos dias, permanece hoje o cenário de possíveis transtornos, como pontos de alagamento, enxurradas, transbordamento de rios e deslizamento de terra.

Para o coordenador regional e diretor da Defesa Civil de Campinas, Sidnei Furtado, é necessário se atentar aos pontos mais próximos do Rio Atibaia, como o Distrito de Sousas, em relação aos riscos de alagamentos. “Como tivemos mais de 200 milímetros de chuva desde a última quarta-feira, o solo de toda a cidade está bem encharcado. Isso favorece a queda de árvores e a queda de muros e paredes de residências com problemas estruturais pré-existentes”, afirmou.

CLIMA

Para hoje, embora a Zona de Convergência do Atlântico Sul já comece a se desconfigurar, ainda manterá sua influência na região, condicionando as instabilidades e a ocorrência de chuva e temporais. Além da possibilidade de chuvas fortes e temporais durante a madrugada, chuvas mais leves podem ocorrer no período da manhã, sobretudo nas primeiras horas do dia.

As aparições do sol, embora ainda entre nuvens, deverão ser mais expressivas do que nos dias anteriores, proporcionando temperaturas máximas um pouco mais elevadas (mínima prevista em 20˚C e máxima em torno de 28˚C). Isso deverá reforçar a sensação de tempo abafado e aumentar as instabilidades associadas ao desenvolvimento de temporais a partir da tarde. Nos períodos da tarde e da noite, pancadas de chuva e temporais são esperados, devendo resultar em raios, chuvas localmente intensas e possibilidade de granizo. 

Devido a esse panorama, a Prefeitura de Campinas mantém equipes de várias secretarias mobilizadas para atender ocorrências provocadas pelas chuvas. A força-tarefa, coordenada pela Defesa Civil, reúne as secretarias que atuam diretamente no caso de ocorrência de eventos climáticos extremos: Serviços Públicos, Desenvolvimento e Assistência Social, Habitação/Cohab (Companhia de Habitação Popular de Campinas) e Emdec. Outras secretarias estão de sobreaviso para atuar, caso necessário. São cerca de 450 pessoas envolvidas no esquema de prontidão.

Caso sua casa seja afetada pela chuva ou inundação, é possível solicitar uma vistoria da Defesa Civil pelo telefone 199. O telefone também poderá ser contatado se você e sua família ficarem desabrigados ou não conseguirem acesso à água sanitária. Se tiver uma emergência, ligue para o 193, do Corpo de Bombeiros. Caso ocorra problemas com o trânsito, acione a Emdec pelo número 118.

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