CORPO ENCONTRADO

Cheia recorde do Rio Capivari registra a sua primeira morte

Homem tentou nadar em área atingida pela enchente, mas acabou se afogando

Verônica Guimarãe/ [email protected]
03/01/2023 às 09:43.
Atualizado em 03/01/2023 às 09:43
A Escola Municipal Aldo Silveira é um dos locais usados pela Prefeitura de Capivari para abrigar as pessoas que perderam suas casas na enchente (Gustavo Tilio)

A Escola Municipal Aldo Silveira é um dos locais usados pela Prefeitura de Capivari para abrigar as pessoas que perderam suas casas na enchente (Gustavo Tilio)

O corpo de José Antonio Calixto foi encontrado na manhã de segunda-feira (2) preso a galhos de uma árvore no bairro Moreto, transformando-se na primeira morte provocada pelos recentes temporais que desabaram sobre Capivari. Em consequência disso, o município enfrenta a pior enchente de sua história. Segundo informações preliminares, o homem afogou-se ao decidir nadar numa área atingida pelo transbordamento do rio que atravessa a cidade. O nível do Rio Capivari baixou pouco mais de um metro em dois dias, mas ainda assim continua com três metros acima do seu nível normal, que é de 0,80 centímetros. O município ainda tem pontos bloqueados por causa do alagamento, apesar da trégua no mau tempo. Diante do caos, uma campanha começou a arrecadar donativos às 60 famílias desabrigadas vítimas das cheias.

São atualmente 61 famílias desabrigadas e alojadas em espaços públicos, mas os números de atingidos e que precisaram deixar as suas casas são ainda maiores. A prefeitura local destinou dois abrigos à população em situação de emergência devido à cheia: a Escola Municipal Aldo Silveira, com 20 famílias e 73 pessoas, e o Ginásio de Esportes Ronaldão, com 41 famílias e 99 pessoas. São pessoas que não puderam festejar a chegada do novo ano devido à situação em que se encontram.

Moacir Silva Fernandes, morador do bairro Padovani, está abrigado na casa do irmão, na mesma cidade, com sua esposa e três filhos e é um desses casos. Para ele, que está desempregado, o momento é de muita incerteza e tristeza. "Em fevereiro eu perdi quase tudo com a enchente que teve. Passei o ano para conseguir montar a casa de novo, muita coisa veio como doação e outras foram difíceis para comprar. E agora perdi muita coisa de novo", conta.

Ele nos concedeu um depoimento enquanto limpava a lama que invadiu a sua casa. "Eu vou te respondendo, mas não posso parar aqui porque, se não, o barro seca e fica mais difícil ainda". O desempregado conta que perdeu muita coisa: "Máquina de lavar, geladeira e fogão a gente tá lavando tudo e vamos colocar no sol pra ver se funciona depois. Conseguimos não perder duas camas e o sofá a gente vai lavar pra ver se consegue ficar com ele ainda. Não dá pra comprar tudo novo de novo, não tem nem um ano que tivemos o mesmo problema".

Moacir relata o drama que enfrentou na passagem do ano, um "réveillon" que ele, certamente, jamais esquecerá de tanta tristeza, dor, angústia e sofrimento. "A gente ficou aqui subindo as coisas e tirando o que dava pra não perder tudo. A gente comeu no carro e dormiu no carro. Nem deu pra falar que era uma noite de festa. Esse ano não tivemos ano novo, não!".

A Secretaria de Desenvolvimento Social deu início na segunda-feira (2) a uma campanha de arrecadação de produtos não perecíveis, leite longa vida, itens de higiene e limpeza às famílias que foram afetadas com a enchente. Os interessados podem enviar suas contribuições à sede da secretaria, que fica na rua Barão do Rio Branco, 361, ao lado do Paço Municipal no Centro. A secretaria frisa que não está aceitando roupas.

As ruas Bento Dias e a Padre Haroldo permanecem alagadas. As rotas alternativas são: Avenida Demétrio Girardi, ponte do bairro Castelani (veículos leves), rodovia Antônio Kanela Forti, rodovia SP-308 (IFSP e Ismael Sanches), Estrada Municipal Arlindo Batagin (Mombuca), Avenida José Annicchino (Moreto), Rodovia Jornalista Francisco Aguirre Proença (SP-101-Brasilit), ponte do Santoro, Rua XV de Novembro (Centro), Rua Franklina de Almeida Barros (Rossi e CFC).

Além do transbordo do rio, a cidade vem sofrendo com o desabastecimento de água. As duas Estações de Tratamento de Água (ETA) da cidade ficaram submersas, sendo necessária a desativação dos equipamentos elétricos. Os reservatórios estão sendo abastecidos desde o início da última semana por caminhões-pipa até que a situação seja normalizada. 

Campinas 

A tempestade que caiu repentinamente e em grande volume na tarde de segunda-feira (2) causou alagamentos nas avenidas Princesa d'Oeste, Orosimbo Maia e Prefeito Faria Lima com a Rua Pastor Cícero Canuto de Lima. Também houve ocorrências de alagamentos em dois imóveis, um no Jardim Proença e outro no Botafogo. 

Até às 18h40, cinco quedas de árvores foram constatadas pela Defesa Civil nos bairros Chácara da Barra (Rua Pereira Barreto), Jardim Alto da Barra (Rua Presidente Wenceslau), Cambuí (Rua dos Bandeirantes), Nova Campinas (Rua Dona Maria Conceição Franco de Andrade) e Vila Proost de Souza (Rua Comendador Bernardo Alves Teixeira). 

Novas tempestades 

E a previsão do tempo não é das melhores para quem já está sofrendo as consequências das últimas chuvas. A Defesa Civil do Estado de São Paulo emitiu alerta meteorológico para os próximos dias e aponta chuvas fortes, com rajadas de ventos e possibilidade de granizo. 

A previsão de 155 milímetros de chuvas que eram previstos para a semana passada aconteceu e causou as enchentes vistas em toda nossa região, castigando ainda mais as cidades de Monte Mor e Capivari. A previsão para esta semana é de 120 milímetros. O alerta ainda pede atenção a possibilidades de deslizamentos de terra, desabamentos e alagamentos. 

Como resultado das fortes tempestades que atingiram a região nos últimos dez dias, a Defesa Civil do Estado colocou toda a Região Metropolitana de Campinas em estado de alerta. Nas últimas 72 horas cinco municípios ainda permanecem em estado de atenção, já que a intensidade se dissipou no fim de semana.Na última sexta-feira, 30, o prefeito da cidade divulgou um vídeo em que pedia à população para que economizasse água até que a situação estivesse normalizada, já que as dificuldades eram muitas em grande parte da cidade.

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