Custo é de R$ 732,94; nove dos 13 produtos registraram aumento de preços
Pesquisa feita pelo Observatório PUC-Campinas revela que o preço da carne, que teve alta de 3,24%, foi um dos responsáveis pelo aumento da cesta básica na cidade (Rodrigo Zanotto)
A cesta básica registrou o segundo mês consecutivo de alta em Campinas, fechando maio com aumento de 1,29%, puxado pela elevação de preços de nove dos 13 itens que integram a cesta, apontou pesquisa feita pelo Observatório PUC-Campinas. A elevação dos alimentos na cidade foi 5,61 vezes maior do que a inflação oficial do mês, que foi de 0,23%, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que é composta pela média de aumento também de outras despesas domésticas e pessoais, incluindo transporte, vestuário, saúde e educação.
Com o reajuste, o custo da cesta básica passou a ser de R$ 732,94, o terceiro maior valor em nove levantamentos feitos desde que a pesquisa começou a ser feita, em setembro passado. O maior valor foi em janeiro, R$ 756, com dezembro de 2022 aparecendo na segunda colocação, com R$ 754. O acréscimo de R$ 9,36 no mês passado representou 52% dos R$ 18 de aumento do salário mínimo que entrou em vigor em 1º de maio, quando passou de R$ 1.302 para R$ 1.320.
A cesta básica acumula alta de 6,43% em nove meses, contra uma inflação no mesmo período de 4,33%, de acordo com o IPCA. “O aumento em maio foi puxado, principalmente, por alguns itens, como farinha de trigo, carne e pãozinho francês”, explicou o responsável pela pesquisa feita pelo Observatório PUCCampinas, o economista Pedro de Miranda Costa.
PRODUTOS
O item que teve o maior reajuste em maio foi a farinha de trigo, com alta de 5,7%; seguido pela carne, 3,24%; e pão francês, 2,67%. Desses produtos, dois deles, a carne e o pãozinho, correspondem juntos a 48,28% do valor da cesta, seja pela quantidade considerada pelo estudo ou pelo valor unitário. O levantamento da cesta aponta queda nos preços de quatro itens, batata (-8,85%), óleo (-8,40%), arroz (-1,89%) e leite (-0,45%).
A auxiliar de atendimento Gabriela Dias, que quarta-feira (14) comprava pãozinho a R$ 15,90 o quilo em uma panificadora no bairro do Bosque, considera os alimentos muito caros em Campinas, onde trabalha, e prefere fazer compras em Sumaré, onde reside. “Lá, os preços são um pouco mais em conta”, comparou ela.
Já o autônomo Cléber Faria não vê diferença de preços entre os estabelecimentos na área central e nos bairros de Campinas. “É mais ou menos R$ 1 cada pãozinho”, explicou. Ele disse não ter sentido aumento no preço desse produto nas últimas semanas. Apesar do aumento de preço da carne apontado pela pesquisa do Observatório PUCCampinas, o supervisor de um açougue no Centro de Campinas, Lourisvaldo Alves, disse que o produto “teve redução em torno de 12% entre maio e junho em comparação ao início do ano e agora se encontra estável.”
De acordo com ele, a redução causou aumento nas vendas em torno de 5%. “As carnes mais procuradas ainda são as de segunda, por terem preços mais acessíveis”, disse Alves. O acém é comercializado atualmente no estabelecimento a R$ 19,99 o quilo, o mesmo valor da costela bovina, que estão entre os produtos mais vendidos. A engenheira Valdeth dos Santos de Souza confirmou que nas últimas semanas notou queda no preço. “A carne está um pouco mais em conta”, afirmou.
TENDÊNCIA DE QUEDA
A situação atual no varejo diferente da pesquisa da cesta básica pode ser explicada pelo período que o levantamento de preço foi realizado. Os pesquisadores do Observatório PUC-Campinas visitaram 28 supermercados em diferentes regiões da cidade entre os dias 10 e 26 de maio. Porém, concentrou-se na primeira semana, quando foram visitados 19 estabelecimentos.
A pesquisa de alimentos no atacado feita pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Universidade de São Paulo (USP), considerada referência nacional, aponta que nesse período os preços dos produtos estavam no pico, mas começaram a cair a partir da segunda quinzena de maio e seguem em queda. De acordo com essa pesquisa, a arroba (15 quilos) da carne de boi foi comercializada em 10 de maio a R$ 274,70, contra R$ 243,65 na terça-feira (13), queda de 11,3%.
De acordo com os pesquisadores, a redução foi provocada pelo aumento da produção nacional de carne e suspensão das exportações para a China entre fevereiro e março deste ano, o que aumentou a oferta no mercado interno. Quanto ao trigo, os preços da tonelada no País estão “em baixa, sobretudo, devido ao ritmo fraco de negócios”. Em 18 de maio, o produto era comercializado no Rio Grande do Sul a R$ 1.313,26, contra R$ 1.238,37 na última terçafeira, redução de 5,7%.
Para o economista Pedro Costa, que também é professor da Faculdade de Economia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), apesar do aumento da cesta básica em maio, “a tendência é queda em junho” em virtude da redução de preços desses alimentos a partir da terceira semana de maio, como mostra a pesquisa do Cepea. Uma observação informal do levantamento no varejo iniciado esta semana pelo Observatório PUC-Campinas aponta que a redução de preços chegou ao consumidor final, principalmente no caso da carne. “Pode-se esperar uma queda em junho”, afirmou o responsável pela pesquisa.
COMPARAÇÕES
Para atender as necessidades com alimentos de uma família formada por dois adultos e duas crianças, o salário mínimo deveria ser de R$ 2.198,82, aponta a pesquisa da universidade. Em maio, o valor da cesta básica destinada para uma pessoa comprometeu 55,5% do valor do mínimo vigente.
Na comparação com as 17 capitais brasileiras pesquisadas pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), que tem a metodologia seguida pela PUC, o custo da cesta básica ficou em quinto lugar. O valor mais alto foi apurado em São Paulo, R$ 791,82, onde houve queda de 0,36%, com variação nos últimos 12 meses de 1,79%. Esse montante é 8,03% superior ao custo verificado em Campinas.
Ainda estão a frente da metrópole, Porto Alegre (RS), onde a cesta custou R$ 781,56, Florianópolis (R$ 765,13) e Rio de Janeiro (R$ 749,76). Entre as capitais pesquisadas pelo Dieese, sete apresentaram queda em maio e dez registraram alta. Brasília foi a cidade que apresentou a maior redução no custo no mês passado, -1,90%. Por outro lado, Salvador registrou o maior aumento, 1,42%.
De acordo com o Dieese, o salário mínimo deveria ser de R$ 6.652,09 em maio para cobrir as despesas de uma família com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência. Ou seja, o valor deveria ser 5,04 vezes superior ao vigente. Considerando os atuais R$ 1.320, o Departamento Intersindical apontou ainda que, no mês passado, o tempo médio para adquirir os produtos da cesta básica foi de 113 horas e 19 minutos, ligeiramente inferior as 114 horas e 59 minutos em abril.