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Cesta básica em Campinas registra primeira queda de preço em seis meses

Redução foi de 3,22%, a segunda maior do país, de acordo com levantamento realizado pelo Observatório PUC-Campinas

Edimarcio A. Monteiro/ [email protected]
21/03/2023 às 08:56.
Atualizado em 21/03/2023 às 08:56
Consumidores escolhem legumes e verduras em banca do Mercado Municipal de Campinas: redução do preço da cesta básica na cidade é uma “boa notícia”, considera o economista Pedro de Miranda Costa, do Observatório PUC-Campins (Alessandro Torres)

Consumidores escolhem legumes e verduras em banca do Mercado Municipal de Campinas: redução do preço da cesta básica na cidade é uma “boa notícia”, considera o economista Pedro de Miranda Costa, do Observatório PUC-Campins (Alessandro Torres)

O preço da cesta básica em Campinas apresentou queda de 3,22% em fevereiro, a primeira desde que o seu custo passou a ser acompanhando, há seis meses. Foi a segunda maior redução no país em comparação às 17 capitais brasileiras pesquisadas pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), cuja metodologia também é utilizada pelo Observatório PUC-Campinas, responsável pelo levantamento local, o que permite a comparação. A queda foi inferior apenas aos 3,97% registrados em Belo Horizonte.

O valor da cesta ficou no mês passado em R$ 731,67 em Campinas, puxada pela redução nos preços de sete dos 13 itens que a compõem, de acordo com a pesquisa do Observatório, que desde setembro passado faz o acompanhamento. Os itens que apresentaram as maiores reduções de preço, aponta o levantamento, foram batata (-26,5%), tomate (-17,6%) e carne (-3,2%).

Estes alimentos têm uma participação significativa na formação do valor da cesta, sendo, respectivamente, de 4,8%, 9,8% e 36,1%. Por outro lado, as maiores altas foram da banana (15,3%), pão francês (4,8%) e leite (3,8%). Apesar da queda em fevereiro, a cesta básica em Campinas acumula alta de 6,25% em seis meses. Em setembro de 2022, ela custava R$ 688,67. No mesmo período, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado, que é a inflação oficial, era de 2,73%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A variação da cesta é maior até mesmo que a taxa inflacionária acumulada em um ano. O IPCA acumulado no prazo de 12 meses até fevereiro é de 5,6%, aponta o IBGE. O economista Pedro de Miranda Costa, coordenador da pesquisa e professor da PUC-Campinas, avalia que o resultado do mês passado aponta uma sequência favorável ao consumidor.
'Boa notícia'

"É uma boa notícia para o consumidor, dentro de um contexto no qual a cesta básica apresenta, desde novembro, estabilidade ou pequena alta", afirma. Em janeiro, o valor foi de R$ 756, praticamente o mesmo de dezembro, R$ 754. Em novembro passado, o custo foi de R$ 727,66, o que representa uma alta de 0,55% em relação a fevereiro. Para o pesquisador do Observatório PUC-Campinas, essa sequência permite projetar que os preços da cesta básica estão voltando para um quadro de normalidade, mas ressalta que é preciso acompanhar a variação nos próximos meses para confirmar se esse cenário se consolida como uma tendência e se fatores sazonais, como clima e volume de produção, não afetarão os preços.

Costa considera que os reflexos da guerra entre a Rússia e Ucrânia, que teve forte impacto nos alimentos em 2022, já foram absorvidos pelo mercado. A Rússia é o maior produtor mundial de trigo, enquanto a Ucrânia é o quarto. Juntos, respondem por cerca de 30% do mercado mundial de exportação do grão, o que corresponde a 210 milhões de toneladas.

No caso do Brasil, pesou ainda o fato de a Rússia ser um dos principais fornecedores mundiais de insumos para fertilizantes e ter enfrentado dificuldades logísticas de escoamento causadas pelos conflitos e sanções aplicadas pelos Estados Unidos e outros países. Para reduzir o reflexo no mercado nacional, o governo brasileiro ampliou a compra de outros países fornecedores.

De acordo com o comerciante Roberto Mekaro, proprietário de uma banca no Mercado Municipal, a redução do volume de chuvas em fevereiro contribuiu para a redução dos preços do tomate e da batata. "A chuva em excesso estava prejudicando a colheita e o plantio", explica. Para ele, se as condições climáticas se mantiverem normais, a previsão é que a oferta desses produtos se estabilize e contribua para a manutenção dos preços.

Reflexos

Os consumidores perceberam a queda nos preços desses produtos. "Caiu um pouco. Eu comprei o tomate por R$ 5 o quilo", afirma Marilda da Silva Olimo, que produz salgadinhos para vender. Ela lembra que há duas ou três semanas a mercadoria era vendida entre R$ 8 e R$ 10. No seu caso, a redução contribui para a queda dos custos de produção dos salgadinhos, o que resulta em uma margem de lucro melhor.

Para o autônomo Rudy Ramires, é preciso pesquisar para encontrar os produtos mais baratos e conseguir economizar. "Em muitos lugares, os preços não caíram", explica. Na segunda-feira, ele comprava batata, cebola e tomate em pacotes fechados por estarem com preços mais em conta. Porém, ele perde a opção de escolher os itens e corre o risco de levar algum que não esteja com a qualidade tão boa.

Ramires aponta ainda que outros produtos subiram muito de preço e estão caros, como a cenoura, vendida entre R$ 8 e R$ 10 quilo, e o pimentão, comercializado de R$ 12 a R$ 15. Esses dois produtos não compõem a cesta básica do Observatório PUC-Campinas. Considerando o salário mínimo de R$ 1.302 em vigor desde 1º de janeiro, a compra da cesta básica comprometeria 56,2% do seu valor. De acordo com a pesquisa, para suprir as necessidades de uma família composta por dois adultos e uma criança, o mínimo deveria ser de R$ 2.195,01 apenas para cobrir o gasto com a cesta, sem levar em conta outras despesas, como moradia, vestuários, saúde e outras.

A pesquisa em Campinas foi feita com preços coletados em 28 estabelecimentos entre os dias 10 e 27 de fevereiro. Segundo Costa, o maior período é importante para diluir o reflexo que uma alta ou redução de preço pontual teria sobre o cálculo da variação da cesta. O coordenador do levantamento ressalta que a redução do valor também foi sentida nas capitais brasileiras pesquisadas pelo Dieese, o que reforça a avaliação de queda ou manutenção dos preços.

Das 17 capitais onde o levantamento mensal é feito, 13 tiveram redução no valor da cesta básica. A maior queda no preço em fevereiro ocorreu em Belo Horizonte (MG), -3,97%, e a menor em Aracaju (SE), -0,19%. Entre as quatro capitais que tiveram alta no valor, a maior variação foi em Belém (PA), onde a elevação foi de 1,25% no mês passado. O menor aumento foi em João Pessoa (PB), 0,01%, o que, na realidade, representa uma estabilidade nos preços.

Dos itens que compõem a cesta básica, oito apresentam alta acumulada em seis meses. Apesar da queda de preço em fevereiro, o tomate é o produto que acumula o maior reajuste nesse período, 51,5%. A pesquisa considera a compra de 9 quilos por mês, o que no mês passado saiu por R$ 71,84, contra R$ 47,42 em setembro de 2022.

Apesar de ter sido a vilã da cesta básica em janeiro, com alta de 21,7% e ser o item que mais subiu, a batata apresentou forte queda em fevereiro e é o produto com a maior queda de preço no acumulado de seis meses. A compra de 6 quilos saiu no mês passado por R$ 34,79, contra R$ 57,19 em setembro, redução de 39,17%

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