Valor cobrado na metrópole ocupa a sexta posição como o mais alto frente a 17 capitais
Tomate lidera a elevação da cesta básica com alta de 22,7%; no Mercado Municipal de Campinas, preço do produto vai de R$ 7,90 a R$ 10,80 o quilo, uma variação de 36,7% (Rodrigo Zanotto)
Após duas quedas consecutivas, o preço da cesta básica em Campinas reverteu o processo e fechou abril em R$ 729,74, com alta de 1,36% em comparação a março. O aumento dos alimentos que compõe a pesquisa superou a inflação oficial do mês passado, que foi de 0,61%, tendo como vilões tomate, batata e leite, de acordo com o levantamento feito pelo Observatório PUC-Campinas.
Dos 13 itens que compõem a cesta, seis apresentaram reajuste, com o tomate liderando a elevação, com 22,7%, seguido pelo leite (11,4%) e a batata (10,9%). As altas pesaram no bolso dos consumidores. “Eu compro sempre no mesmo local e vejo a diferença”, disse a enfermeira Michele Machado, que costuma comprar hortifrutigranjeiros no Mercado Municipal.
O tomate era comercializado na terça-feira (16) no local com preços entre R$ 7,90 e R$ 10,80 o quilo, variação de 36,7%. O metalúrgico José Carlos Facin percorria as bancas em busca de qualidade e menor preço para economizar. “A carne, verduras e legumes poderiam baixar. Estão muito caros”, reclamou. Ele encontrou a batata vendida com uma diferença no preço de 40,82%, custando entre R$ 4,90 e R$ 6,90 o quilo.
Para o economista Pedro de Miranda Costa, responsável pela pesquisa, “os aumentos foram localizados. A tendência para os próximos meses não é dos alimentos puxarem a alta da inflação.” Apesar da elevação no mês passado, o valor da cesta ficou abaixo do pico registrado em Campinas, que foi de R$ 756 em janeiro passado.
De acordo com Costa, que também é professor da Faculdade de Economia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), a alta dos alimentos está sendo influenciada no país pela elevação dos custos de produção, não por aumento de demanda. Para ele, “é preciso acompanhar a variação de preços, que ainda serão afetados por questões sazonais, aumento dos insumos e pelo dólar”.
ACUMULADO
Desde setembro do ano passado, quando a pesquisa começou a ser feita, a cesta básica acumula alta de 5,96%. No primeiro levantamento realizado pelo Observatório PUC-Campinas, o valor apurado foi de R$ 688,67. O reajuste supera a inflação acumulada nos últimos oito meses, que foi de 4,09%, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A compra dos 13 itens que compõem a cesta comprometeu 56,05% do valor do salário mínimo em abril, que foi de R$ 1.302. De acordo com o estudo do Observatório, para cobrir as despesas apenas com alimentos de uma família de quatro pessoas, formada por dois adultos e duas crianças, o salário mínimo deveria ser de R$ 2.189,22, ou seja, 68,14% superior ao valor praticado no mês passado.
Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), em Piracicaba, que faz acompanhamento dos preços de vários produtos agrícolas, o preço do leite cru captado por laticínios em março chegou a R$ 2,8120/litro na “Média Brasil” líquida, registrando altas de 2,4% em relação ao mês anterior e de 10,8% em relação a março de 2022, em termos reais. O produto acumula aumento real de 9,3% no primeiro trimestre deste ano.
O Cepea apontou que o reajuste foi puxado pelo aumento da importação de leite, em função da produção local ter caído por motivos climáticos e da saída de produtores da atividade em 2022. Segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), órgão do governo federal, no primeiro trimestre, o volume importado foi três vezes maior que o do mesmo período de 2022. Apenas em março, foram importados 209,5 milhões de litros de leite, o equivalente a cerca de 10% do total industrializado pelos laticínios brasileiros.
De acordo com os técnicos do Cepea, os preços do produto se mantiveram em abril, mas voltarão a subir nos próximos meses em função da chegada do período de entressafra do leite. Quanto ao tomate, o Cepea aponta que em abril houve uma alta de 38,13% na caixa do tomate em Campinas, que chegou a ser vendida a R$ 122, em função da “proximidade do fim da safra de verão e do início ainda lento da safra de inverno”.
Porém, a partir deste mês, começou a chegar ao mercado atacadista o tomate de inverno. Com isso, o valor da caixa em Campinas caiu para R$ 72,50 esta semana, redução de 40,37%. Em relação à batata, o preço subiu a partir do mês passado por causa do fim da safra das águas. A tendência de alta, acrescentou, continua este mês. O aumento na semana de 8 a 12 de maio foi de 4,64% no Estado de São Paulo, quando a saca foi comercializada a R$ 79,43.
CAPITAIS
Em abril, o valor da cesta básica em Campinas ficou em sexto lugar como a mais alta na comparação com 17 capitais pesquisadas pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese ), que segue a mesma metodologia do Observatório PUC-Campinas, o que permite a comparação. Segundo o órgão, 14 cidades registraram aumento no mês passado, com os maiores reajustes ocorrendo em Porto Alegre (5,02%), Florianópolis (3,65%), Goiânia (3,53%), Brasília (3,43%) e Fortaleza (3,38%) .
Por outro lado, três capitais tiveram queda nos preços que foram Natal (-1,48%), Salvador (-0,91%) e Belém (-0,57%). O Dieese apontou que o maior custo da cesta básica foi verificado em São Paulo, R$ 794,68. O valor é 8,94% maior do que os R$ 729,74 registrados em Campinas.
Também valores maiores do que a cidade de Porto Alegre (R$ 783,55), Florianópolis (R$ 769,35), Rio de Janeiro (R$750,77) e Campo Grande (R$ 737,74). Porém, o custo da cesta em Campinas é 31,7% maior do que os R$ 553,85 de Aracaju (SE), menor valor apurado pelo Dieese. É preciso, no entanto, levar em consideração que os itens que compõem a cesta básica são diferentes em cada região do País em função da diferença dos hábitos alimentares.
Em relação a abril de 2022, a pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos mostra que os preços caíram em nove das capitais pesquisadas, com variações que oscilaram entre -6,12%, em Curitiba, e -0,08%, em Recife. Outras oito cidades registraram aumentos, com destaque para Belém (8,27%), Fortaleza (3,42%) e Goiânia (3,23%).
Com base na cesta mais cara em abril, verificada em São Paulo, o salário mínimo necessário para a manutenção de uma família de quatro pessoas deveria ter sido de R$ 6.676,11, ou 5,13 vezes o mínimo de R$ 1.302,00. Em março, o valor necessário era de R$ 6.571,52 e correspondeu a 5,05 vezes o piso mínimo.
A pesquisa do Dieese calcula também o número de horas que um trabalhador precisa cumprir para adquirir a cesta básica. Em abril, o tempo médio necessário para adquirir os produtos foi de 114 horas e 59 minutos, maior do que o de março, de 112 horas e 53 minutos. Já em abril de 2022, a jornada média foi de 124 horas e 08 minutos.
Entre março e abril deste ano, seis dos 13 produtos que compõem a cesta básica nas capitais tiveram aumento nos preços médios que foram tomate (19,28%), leite integral (4,87%), feijão carioquinha (4,66%), arroz agulhinha (2,09%), café em pó (1,01%) e farinha de trigo (0,29%). Outros sete bens apresentaram recuos nos valores como o óleo de soja (-4,02%), banana (-2,34%), açúcar refinado (-1,47%), pão francês (-1,16%), carne bovina de primeira (-1,11%), manteiga (-0,88%) e batata (-0,59%).
VARIAÇÃO DA CESTA BÁSICA EM CAMPINAS
Tomate: 22,7%
Leite: 11,4%
Batata: 10,9%
Pão francês: 3,8%
Feijão: 2,8%
Manteiga: 2,6%
Arroz: 1,1%
Café: 2,7%
Óleo: 3,9%
Farinha: 3,9%
Açúcar: 4,3%
Carne: 5%
Banana: 8,8%
Fonte: Observatório PUC-Campinas