HABITAÇÃO

Censo revela que campineiro prefere casa a apartamento

Pesquisa mostra que sete de cada dez moradores optam por moradia horizontal

Paulo Medina/ [email protected]
29/02/2024 às 08:56.
Atualizado em 29/02/2024 às 08:56
Vista de casas e prédios no Jardim Nova Europa em Campinas; segundo o IBGE, município abriga 501.951 domicílios, dos quais 65,62% são casas (281.885), 30,58% são apartamentos (132.204) e 3,29% estão em casas de vila ou condomínios (14.132) (Kamá Ribeiro)

Vista de casas e prédios no Jardim Nova Europa em Campinas; segundo o IBGE, município abriga 501.951 domicílios, dos quais 65,62% são casas (281.885), 30,58% são apartamentos (132.204) e 3,29% estão em casas de vila ou condomínios (14.132) (Kamá Ribeiro)

Dados divulgados recentemente pelo Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) evidenciam as características dos domicílios em Campinas. De acordo com o levantamento, sete em cada dez habitantes da cidade residem em casas. Em 2022, constatou-se que 70,5% dos campineiros escolheram moradias horizontais, enquanto 25,67% optaram por apartamentos e 3,52% residiam em casas de vila ou condomínios. Os entrevistados destacam preferências por espaços amplos, liberdade para eventos sociais e o desejo de ter mais animais domésticos como razões para elegerem casas. Por outro lado, a praticidade na organização de apartamentos é citada como fator determinante na escolha desse tipo de imóvel.

Ao longo dos últimos 12 anos, observou-se um expressivo crescimento de 43,7% no número de campineiros que residem em apartamentos, um aumento quase três vezes maior do que o percentual registrado na região Sudeste. Especialistas apontam essa ascensão como uma tendência que se consolida, influenciada por alterações no Plano Diretor da cidade.

Segundo o IBGE, Campinas abriga 501.951 domicílios, dos quais 65,62% são casas (281.885), 30,58% são apartamentos (132.204) e 3,29% estão em casas de vila ou condomínios (14.132). Os dados também indicam 0,1% de estruturas inacabadas (440) e 0,21% de cortiços (882).

Embora a maioria ainda resida em casas, o número de moradores dessas habitações reduziu 4,3% ao longo do período de 12 anos, passando de 836.327 em 2010 para 800.051 em 2022. Em contraste, o total de adeptos a apartamentos apresentou um notável aumento de 43,7%, crescendo de 202.676 em 2010 para 291.361 em 2022.

De acordo com o IBGE, 85,71% dos domicílios em Campinas estão ocupados, totalizando 429.543. Contudo, a cidade registra 10,87% de domicílios vagos (54.476), destinados à venda ou locação, por exemplo. Além disso, há 3,42% de domicílios não ocupados de uso ocasional (17.138), como imóveis utilizados para o período de férias.

O Censo 2022 revela que Campinas apresenta uma média de 2,64 moradores por domicílio, indicando uma redução em comparação com o Censo de 2010, quando a média era de 3,08 pessoas por residência.

Bruno Perez, analista de pesquisa do IBGE, destaca o expressivo aumento no número de moradores em apartamentos, fenômeno observado em todo o país. Ele atribui essa tendência à verticalização característica dos grandes centros urbanos e regiões metropolitanas, explicando que essa resposta está relacionada ao adensamento populacional, especialmente nas áreas metropolitanas e nos centros urbanos mais significativos.

O professor do curso de Arquitetura da PUC-Campinas, Fabio Muzetti, enfatiza que o crescimento de moradores em apartamentos e a diminuição da população em casas refletem uma tendência consolidada e a vocação da cidade como uma metrópole. Ele destaca a questão dos custos da infraestrutura, indicando que compartilhar essa infraestrutura entre mais pessoas reduz proporcionalmente os custos fixos, incluindo segurança, limpeza e energia. Muzetti explica que morar em prédios, ao concentrar a população, aumenta a densidade habitacional por hectare, facilitando a mobilidade e outros aspectos da vida urbana.

O professor também menciona que os números refletem a implementação de uma política urbana prevista no Plano Diretor de 2016, que está produzindo efeitos. Ele destaca a ideia de Desenvolvimento Orientado sobre Transporte Sustentável (DOTS), que promove a verticalização ao longo das principais linhas e corredores de ônibus. Muzetti reconhece que o transporte em Campinas ainda não é ideal, mas destaca a verticalização como uma solução para a população de menor renda e para aqueles que desejam morar mais próximo ao centro, com acesso a infraestrutura, hospitais e farmácias.

Do Jardim dos Oliveiras, a dona de casa Maria de Fátima Saraiva Scotini, de 68 anos, habita em uma residência por questões como maior liberdade para confraternizar com amigos e familiares, mas precisou instalar uma cerca sobre o portão para aumentar a segurança, já que foi vítima de assalto e furtos.

"Sempre morei em casa desde criança. Mas meu sonho é morar em uma casa em condomínio fechado. Já fui roubada por três homens armados, que levaram carro e fizeram um 'limpa' nas coisas de casa. Ladrões já levaram também escada, torneira, por isso precisamos instalar uma cerca faz um ano e depois disso não tivemos mais problema", contou. Ainda que tenha de agir de forma mais cautelosa nos momentos de entrar e sair da residência, esse é o tipo de domicílio que Maria prefere. "O lado bom é ter mais liberdade para fazer um churrasco, reunir a família, é bem melhor do que um apartamento. Em apartamento você pode ter problemas com vizinhos de cima devido ao barulho e casa têm menos problemas", disse.
Também do Jardim dos Oliveiras, o faxineiro Silas André, de 59 anos, valoriza espaço e o fato de não haver regras de condomínio para morar em uma residência. "Casa tem mais espaços, não tem ordem de síndico, regra de condomínio", falou.

Da Vila Marieta, o aposentado Nelson Ruiz Junior, de 65 anos, gosta de animais e um local amplo para viver em família. Por isso, mora em uma casa de cerca de 400 metros quadrados e com três andares. Ele chegou a aproveitar o imóvel para, no fundo, fazer um "apartamento" dentro para a filha recém-casada não ter de pagar aluguel.

"Primeiro ponto: gosto de espaço e gosto de ter animais, tenho seis, sendo quatro cães e dois gatos. Um apartamento seria um pesadelo para mim, uma prisão, uma cela. Minha casa é grande e eu me comunico com a família pelo celular para avisar que a comida chegou. Morar em apartamento as pessoas ficam sabendo da sua vida. Não trocaria casa por nada, nem por um apartamento dado", disse. Com relação à segurança, Junior disse não enfrentar problemas. Isso porque o genro é segurança e tem armas em casa, além do portão e do muro do imóvel serem altos e mais resistentes. O morador ainda mencionou que tem netos que aproveitam o sobrado. "Tinha até um salão de festas dentro da casa e fiz uma espécie de um apartamento para minha filha que acabou de casar poder morar".

Por outro lado, a estudante de farmácia, Ayumi Minori Rocha, de 24 anos, vive em um apartamento no bairro Bonfim e comenta facilidades de organização proporcionadas pelo imóvel, mas admitiu sentir saudades de ter um quintal. "Eu vim de Manaus para fazer minha residência em Campinas, é bom apartamento porque é mais fácil de cuidar, manter as coisas organizadas, mas sinto falta de ter um quintal e de plantar, como eu fazia em casa, em Manaus".

Em nível nacional, o IBGE mostrou que cerca de 80% dos brasileiros moravam em casas em 2022, e também aumentou a proporção de moradores em apartamentos. Em 2022, havia no país 59,6 milhões de casas ocupadas, nas quais residiam 171,3 milhões de pessoas. Ou seja, a maioria da população (84,8%) morava nesse tipo de residência. O segundo tipo mais encontrado foi apartamento, categoria de domicílio na qual residiam 12,5% da população.

O instituto observou que o "amplo predomínio das casas entre os tipos de domicílios já havia sido registrado nos Censo Demográficos anteriores, assim como a tendência de aumento da proporção de apartamentos".

Na comparação entre o Censo de 2010 e o de 2022, a proporção da população residindo em apartamento teve expansão em todas as regiões. O maior percentual é do Sudeste (16,7%), seguido pelo Sul (14,4%). Na outra ponta, aparece o Norte (5,2%).

SANEAMENTO BÁSICO

De acordo com o IBGE, que também divulgou a situação do saneamento básico no país, os índices de Campinas superam os dados nacionais em quesitos como conexão à rede de esgoto, abastecimento de água, acesso a banheiros exclusivos e coleta de lixo. Na conexão à rede de esgoto, por exemplo, Campinas ficou quase 31 pontos percentuais à frente da média nacional. O levantamento mostra que a cidade possui 93,39% dos moradores conectados à rede de esgoto. Tal índice supera a média nacional, que atualmente está em 62,51%. O índice nacional de domicílios ligados à rede é de 64,69%. Campinas tem 94,2% das moradias conectadas à rede.

O município ainda está entre as primeiras cidades do Brasil nos índices de abastecimento de água e de coleta de esgoto. Campinas é a terceira cidade, na comparação com capitais que têm população acima de 1 milhão de habitantes, em índice de moradores com abastecimento adequado de água. São 99,64% da população nesta condição. Curitiba e Goiânia lideram o quesito, com 99,83%. No índice de moradores com coleta de esgoto, Campinas, com 95,59%, é a sexta melhor do Brasil, também na comparação com as capitais com mais de 1 milhão de habitantes. A líder neste recorte é Curitiba, com 98,65%, seguida por Belo Horizonte (97,18%), Salvador (95,95%), Rio de Janeiro (95,72%) e São Paulo (95,62%).

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