CONTAGEM POPULACIONAL

Censo prorroga os trabalhos para alcançar 100% de lares

Recenseadores encontram dificuldade para serem recebidos em condomínios

Israel Moreira/ [email protected]
29/03/2023 às 08:27.
Atualizado em 29/03/2023 às 08:27
Recenseadores do IBGE tentam entrar em condomínio em Campinas para a coleta de dados do Censo 2022, mas, na maioria das vezes, são repelidos pelos moradores desses locais (Divulgação IBGE)

Recenseadores do IBGE tentam entrar em condomínio em Campinas para a coleta de dados do Censo 2022, mas, na maioria das vezes, são repelidos pelos moradores desses locais (Divulgação IBGE)

Previsto inicialmente para encerrar na próxima sexta-feira, dia 31, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) decidiu prorrogar os trabalhos de coleta de dados do Censo de 2022 por mais um mês. O motivo é o baixo índice de cobertura de domicílios na maioria das cidades da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Em alguns municípios, como Valinhos e Vinhedo, o desempenho ficou abaixo de 70% de dados coletados. Em Campinas, o número de residências visitadas pelos agentes está próximo de atingir 88%. Holambra foi o único município da RMC que alcançou 100% de domicílios visitados.

De acordo com o IBGE, a resistência dos moradores de condomínios de alto padrão em permitir a presença dos recenseadores é apontada como um dos principais motivos para o fraco desempenho do Censo em cidades como Valinhos e Vinhedo, onde a presença desses conjuntos habitacionais de luxo é bastante numerosa. O ótimo desempenho de Holambra é resultado da ampla divulgação feita pela Prefeitura em suas redes sociais sobre a importância do trabalho dos recenseadores.

Conforme o agente censitário Guilherme Góes, do IBGE de São Paulo, os motivos da recusa ao atendimento dos recenseadores são diversos, dentre eles, insegurança, desconhecimento e principalmente a utilização dos dados pessoais por órgãos do governo. "Tem gente que acha que o Censo "cruza" informações com a Receita Federal, por exemplo, mas a pesquisa apenas possui cunho estatístico. Nossos maiores problemas hoje são nos condomínios fechados e de alto padrão. Temos problemas com regras do condomínio, insegurança sobre o trabalho do recenseador. São vários os fatores que nos impedem de realizarmos nosso trabalho." 

Em Campinas, os moradores de condomínios de alto padrão também se enquadram no mesmo problema de outras cidades da região. Para o coordenador do IBGE local, Jackson Medeiros, as dificuldades de acesso dos recenseadores são maiores nos grandes condomínios fechados do que nas comunidades. "Observamos que alguns moradores não autorizam a entrada por inúmeros motivos. Um fato que nos chamou muita atenção foi a negativa de receber os recenseadores por questões partidárias. As pessoas recusam a entrada dos recenseadores, acreditando que as informações obtidas serão utilizadas pelo governo federal. Confundem um órgão do Estado, como é o IBGE, com governo. E isso nos atrapalha muito", completou Jackson.

O coordenador reafirma a importância do trabalho do recenseador, pois é por meio da resposta ao questionário do Censo que se tem acesso a importantes números sobre os municípios. Além da contagem populacional, a pesquisa traz informações sobre condições de vida, emprego, renda, saúde, educação e distribuição de renda. E se tratando de renda, a distribuição das transferências da União para estados e municípios, com impacto significativo nos orçamentos públicos, é feita considerando os dados fornecidos pelo IBGE.

Para o professor Roberto Luiz do Carmo, pesquisador do Departamento de Demografia e do Núcleo de Estudos de População (Nepo) da Unicamp, a recusa de responder ao Censo pode trazer consequências econômicas radicais. "Os municípios podem perder arrecadação do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), verba do governo federal destinada diretamente às cidades e com isso, precarizar o investimento público. Responder ao Censo é fazer um retrato do município para a aplicação de políticas públicas, sendo fundamental pensar as conexões entre todos os setores da sociedade. Individualizar a questão pública, por não permitir a entrada dos recenseadores, é uma temeridade", analisou o professor.

Capitais

Nas capitais, a maior dificuldades encontradas pelos agentes do IBGE é no acesso às chamadas Comunidades, a exemplo do Complexo do Alemão no Rio de Janeiro. Nesses locais, o IBGE recorreu à liderança dos moradores para auxiliar os recenseadores em horários alternativos. Uma parceria entre o IBGE, Instituto Data Favela e Central Única das Favelas (Cufa) criou a ação "Favela no Mapa", visando reduzir o percentual de domicílios que não responderam à operação censitária em comunidades.

A primeira mobilização de coleta aconteceu na terça-feira (28) em São Paulo e Rio de Janeiro. O presidente interino do IBGE, Cimar Azeredo, o fundador da Data Favela, Renato Meirelles, e o presidente da Cufa Brasil, Preto Zezé, estiveram em Heliópolis (SP) para o lançamento da iniciativa no dia.

A parceria com a Cufa e o Data Favela ajudará a abrir portas para o Censo na importante missão de avançar com a coleta de dados nas favelas de todo o país. Nesses locais, além de ausência e recusa, há outros problemas como omissão de domicílios (de fundos ou na laje) e dificuldades de acesso e circulação.

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