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Cenário industrial melhora, mas alta do diesel trará efeito nefasto para região de Campinas

Valmir Caldana, do Ciesp, faz alerta ao apresentar dados positivos de junho

Edimarcio A. Monteiro/ [email protected]
22/06/2022 às 09:02.
Atualizado em 22/06/2022 às 09:02
As recentes altas do óleo diesel são criticadas por industriais da região porque afetarão o custo do frete e, consequentemente, os preços de todos os produtos fabricados (Ricardo Lima)

As recentes altas do óleo diesel são criticadas por industriais da região porque afetarão o custo do frete e, consequentemente, os preços de todos os produtos fabricados (Ricardo Lima)

O cenário do setor industrial na região de Campinas neste mês é mais otimista do que em maio, mas “poderá se tornar nefasto” a curto prazo devido à alta do óleo diesel e da taxa de juros, que encarecerá ainda mais os produtos nos supermercados. A avaliação foi feita ontem pelo 1° vice-diretor do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) Campinas, Valmir Caldana, ao apresentar a Sondagem Industrial de junho. 

A pesquisa mostra que, este mês, o volume de produção aumentou para 44% das empresas, permaneceu estável para outras 36% e apenas 20% tiveram queda. Em maio, 45% haviam reduzido, 32% mantiveram o mesmo nível e 23% aumentaram. O Ciesp reúne 494 empresas associadas em 19 municípios da região. 

Outro indicador que mostra a mudança no quadro é que 52% das indústrias aumentaram o faturamento este mês, enquanto 32% permaneceram estáveis e 16% tiveram queda. Em maio, 55% haviam registrado queda nas vendas, 27% ficaram estáveis e 18%, alta. Para o 1º vice-diretor do Ciesp, Valmir Caldana, a melhoria do desempenho da indústria é decorrente dos repasses dos reajustes de preços do setor para seus clientes. “O resultado mostra que, enfim, as empresas estão conseguindo repassar os aumentos dos custos”, afirma. 

Para ele, a atualização dos preços estimula as indústrias a aumentar a produção. De acordo com a sondagem, em junho, 90% das empresas sofreram aumento nos custos das matérias-primas, componentes e peças e apenas 10% não enfrentaram reajustes. 

Custos

O 1° vice-diretor do Ciesp Campinas, Valmir Caldana, criticou, porém, as recentes altas do preço do óleo diesel e dos juros, alertando que devem prejudicar o desempenho industrial nos próximos meses. “Isso vai chegar às gôndolas e, com certeza, trará um efeito nefasto lá na frente se os preços vierem muito salgado”, afirmou Caldana. 

Segundo ele, no momento, as empresas estão negociando o aumento dos fretes com as transportadoras para tentar reduzir o impacto na elevação dos custos. O vice-diretor do Ciesp afirmou que o novo reajuste de 14,26% do óleo diesel refletirá negativamente no desempenho das indústrias da região ao afetar os consumidores, principalmente os de menor renda, que já estão reduzindo as compras para equilibrar o orçamento doméstico.

Este ano, o preço do diesel nas refinarias da Petrobras acumula alta de 68%, enquanto o Índice de Preços ao Consumidor Ampliado (IPCA), que é a inflação oficial, está em 4,7%. Já a gasolina acumula reajuste de 31%.

O caminhoneiro Bruno de Carvalho Silva, que saiu de Curitiba (PR) no dia 11 de junho, disse ter gasto R$ 20 mil apenas com o diesel na viagem de 6.600 quilômetros de ida e volta a Belém (PA). Ele deixou a capital paranaense com o combustível custando R$ 6,99, pagou R$ 7,39 na capital paraense e ontem pagou R$ 7,50 em Campinas, já com o novo reajuste. “O caminhoneiro autônomo não consegue sobreviver com o transporte de carga, não compensa mais”, criticou.Para Bruno Silva, a categoria deveria fazer nova greve nacional em protesto contra a alta do diesel. Na paralisação de 2017, ele lembra ter ficado 17 dias com os braços cruzados. 

Já o caminhoneiro Márcio Sbrona disse que os últimos dois reajustes do combustível não foram repassados integralmente para o frete, mas não tem como segurar o mais recente aumento. “Está ficando apertado para trabalhar”, justifica.

Ciranda inflacionária

Já a Selic, taxa básica de juros, subiu na semana passada para 12,75%. Em março de 2021, era 2% . De acordo com a sondagem do Ciesp, 68% das empresas consideram fundamental a disponibilização de crédito a juros mais baixos. A taxa alta afeta a manutenção do capital de giro e a intenção das empresas de investirem. 

A pesquisa mostra que 44% das empresas não pretendem investir nos próximos 12 meses, 36% atualizarão o máquinário já existente e 20% pretendem ampliar os equipamentos. “Isso mostra que as empresas não enxergam ainda um crescimento econômico longo e duradouro e a queda da inflação”, disse Caldana.

“Hoje, temos uma inflação mais resistente do que se imaginava, e isso é uma bola de neve”, afirmou o economista Cláudio Considera, coordenador do Monitor do Produto Interno Bruto do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas). Ele explicou que os constantes reajustes e repasse para os preços alimentam a inflação, que sobe cada vez mais e compromete a estabilização criada pelo Plano Real.

O economista ressaltou que a maioria dos trabalhadores não teve aumentos reais (acima da inflação), o que compromete cada vez mais o poder de compra. Para ele, não há sinais claros de uma estratégia do governo para tentar conter a escalada dos preços, o que cria a expectativa da inflação continuar em alta.

Empresas buscam energia solar para diminuir despesas

As indústrias da região de Campinas estão buscando a energia solar para reduzir os custos com eletricidade e reduzir as emissões de gás carbônico (CO2). A Sondagem Industrial Mensal do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) Campinas divulgada ontem mostra que 12% das empresas da região já utilizam a energia fotovoltaica para abastecer suas unidades ou em conjunto com a eletricidade e 72% avaliam a utilização da tecnologia.

Para o 1º vice-diretor da entidade, Valmir Caldana, esses percentuais “foram uma surpresa, não estavam no nosso radar”. Segundo ele, isso demonstra a preocupação das empresas em reduzir a emissão de poluentes.

Uma indústria de Campinas investiu recentemente R$ 7 milhões em uma usina fotovoltaica, que tem capacidade de produzir 500 kW de energia, eletricidade suficiente para abastecer um bairro de até 450 casas durante 12 meses. 

Parte dessa energia será usada pela própria fábrica e outra será usada por uma empresa parceira que cedeu o terreno para instalação da usina e que também será responsável pela segurança e manutenção. Segundo empresas do setor, a instalação de um sistema fotovoltaico na indústria pode levar a uma economia de até 95% na conta de energia elétrica. Além disso, é possível gerar créditos de energia por meio do Sistema de Compensação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), ou seja, reduzir o valor da conta quanto for necessário usar eletricidade convencional. 

A CPFL tem em Americana uma usina fotovoltaica gera energia suficiente para abastecer cerca de 740 residências. O empreendimento evita a emissão de 131 toneladas de CO2 na atmosfera. 

A sondagem da Ciesp aponta ainda que 72% das indústrias da região pretendem avançar com o processo de automação. Para Caldana, o percentual mostra a preocupação das empresas com a modernização, buscando digitalizar suas operações, usar a inteligência artificial e robotizar a produção, o que resulta em maior eficiência e produtividade.

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