PM foi chamada após o diretor do CDP de Jundiaí desconfiar da presença de quatro indivíduos enquanto se preparava para deixar a residência, que fica próxima aos presídios
Protesto realizado por agentes devido à morte de colega impediu visita a presos durante o final de semana ( Cedoc/RAC)
O clima de tensão que ronda o Complexo Penitenciário Campinas/Hortolândia tem gerado medo nos funcionários e provocou um incidente na tarde de ontem. A Polícia Militar (PM) foi chamada após o diretor do Centro de Detenção Provisória (CDP) de Jundiaí desconfiar da presença de quatro indivíduos enquanto se preparava para deixar a residência, que fica dentro de uma área de segurança, próxima aos presídios. Em nota, a Secretaria de Assuntos Penitenciários (SAP), confirmou a ocorrência e informou que os suspeitos fugiram antes de serem abordados. A reportagem do Correio esteve no local e foi informada, por seguranças dessa área, que o tumulto foi gerado pela presença dos indivíduos, que estavam próximos ao portão da residência, por volta das 16h. O diretor, então, teria dado marcha ré e acionado a PM. Segundo os funcionários, não houve disparos e ninguém ficou ferido. Essa informação foi confirmada por moradores da região, mas rebatida pelo diretor-presidente do Sindicato dos Agentes de Escolta e Segurança Penitenciária (Sindesp), Antônio Pereira Ramos. De acordo com ele, o diretor do CDP teria se assustado e chegou efetuar disparos. "O clima que está atualemnte é muito ruim. O lugar é ermo e passa insegurança, realmente é compreensível", disse. Nem a SAP e nem a Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP) confirmaram que houve tiros durante a ocorrência. Visitas continuam suspensas Familiares de presos do Complexo Campinas/Hortolândia mais uma vez não conseguiram visitar os internos na manhã de domingo, assim como no sábado. Nos dois dias, a movimentação na frente do local foi tranquila. Nem as barraquinhas estavam abertas, dando indício que a maioria já tinha sido avisada sobre o protesto em repúdio aos crimes contra os agentes penitenciários. O cancelamento no final de semana já havia sido anunciado na sexta-feira após a morte de um agente na noite anterior, mas algumas pessoas disseram não terem sido avisadas. Esse é o caso da revisora de tecido, Ana Maria Martisn da Silva, de 53 anos, que veio de Sumaré na manhã do domigo para visitar o filho mais velho, de 34 anos, preso por tráfico de drogas. "Acho errado este tipo de ação porque meu filho não foi o responsável disso. Levantei cedo, gastei dinheiro que já não tenho para chegar aqui, comprei comida, e não vou poder ver meu filho. Falei com ele semana passada e não sabia que iam cancelar as visitas", disse. Dez agentes se concentraram na porta de uma das unidades prisional para reforçar o protesto e informavam os familiares sobre o cancelamento das visistas. Apenas os serviços considerados essenciais estavam ativos. Caminhões com entrega das refeições e ambulâncias de atendimento entravam e saíam normalmente do complexo. Os alvarás de soltura também eram liberados. A expectativa é a partir de hoje o Sindicato dos Agentes de Segurança Penitenciária de São Paulo (Sindasp) dê início a uma greve dos agentes de segurança penitenciário em todo o Estado de São Paulo contra o descumprimento do acordo de punição de agentes participantes de greves, feito no ano passado pelo Estado. Além de Campinas/Hortolândia, o complexo de Pinheiros, São Vicente e da região de Presidente Prudente devem parar. Segundo o diretor regional do Sindasp, Carlos Rufino, só vão funcionar dentro dos presídios os serviços essenciais. Ele confirmou que haverá a suspensão da transferência de presos e a saída de detentos do regime semiaberto que trabalham, além do deslocamento para audiências. "Nós queremos chamar a atenção para que o governo arquive os 32 processos administrativos contras os agentes penitenciários" , diz Rufino. Amanhã, o Sindesp realizará uma assembleia para decidir se o protesto será mantido nas sedes de Campinas e em São Paulo. "Nós queremos pressionar o governo para dar continuidade a regulamentação para a entrega dos coletes balísticos e armamentos para os agentes da escolta", afirmou Ramos. A estimativa é de que aproximadamente mil agentes das seis unidades prisionais sustentem o movimento, garantindo aos presos apenas os serviços essenciais. Outras unidades do Estado, como a de Presidente Prudente, Pinheiros, Irapuru, Americana, Casa Branca, Junqueirópolis se solidarizaram com o movimento dos agentes de Campinas e Hortolândia e também pararam. Mortes dos agentes Um agente foi morto a tiros na última quinta-feira no entroncamento das Rodovias D. Pedro I e Anhanguera. No dia 9 de julho, outro profissional foi baleado quando chegava em casa. Ele se recupera no hospital. Os atentados, segundo os trabalhadores, foram ordenados por dois presos, por meio de uma carta que saiu do presídio. As ameaças partidas de integrantes de uma facção criminosa começaram no início do mês passado. Pressão Um agente de escolta penitenciária da cidade de Getulina (SP) deu um tiro no ouvido na manhã de ontem, por volta das 7h, na torre 2 da unidade prisional. Segundo o diretor do Sindesp, ele estava de licença psiquiátrica há três meses e não se sabe se foi por esta pressão que ele se suicidou. "Amanhã vamos encaminhar um ofício pedindo para a coordenadoria da região Noroeste do Estado que abra uma sindicância para apurar os fatos", disse.