Meta da companhia é aplicar recursos na construção de uma usina fotovoltaica
Com a compra direta de energia elétrica no mercado, a Ceasa-Campinas e os permissionários esperam uma redução no valor da conta de luz consumida com o funcionamento de máquinas como esta de beneficiar batatas (Alessandro Torres)
Com o objetivo de alcançar autonomia energética e promover um ambiente mais sustentável, a Centrais de Abastecimento de Campinas (Ceasa) deu um importante passo no último mês. A empresa optou por não utilizar mais a energia fornecida pela concessionária CPFL e adotou o modelo de mercado livre através de uma empresa privada. Essa mudança resultará em uma economia de aproximadamente R$ 10 milhões nos próximos cinco anos, valor que será utilizado para a construção de uma usina própria de energia fotovoltaica durante esse período.
O principal objetivo da empresa é concluir a construção da usina em até três anos. Além de fornecer energia para toda a área da Ceasa, a usina possibilitará o encerramento de uma usina movida a diesel, que atualmente é utilizada para abastecimento emergencial quando não há energia na rede. O encerramento dessa usina significará a eliminação completa da emissão de carbono na geração de energia.
A Ceasa é a quarta maior central de abastecimento da Região Sudeste e movimenta mais de 580 mil toneladas de alimentos por ano. Com a geração própria de energia elétrica, a administração espera tornar o mercado ainda mais competitivo e sustentável. O complexo ocupa uma área de 300 mil metros quadrados e abriga 580 permissionários em cerca de 940 lojas. Diariamente, dezenas de milhares de pessoas frequentam o local, incluindo pequenos comerciantes, consumidores e trabalhadores envolvidos no abastecimento.
Estima-se que aproximadamente 20 mil clientes circulam diariamente pela Ceasa em busca dos 150 produtos comercializados, provenientes de 700 municípios. Essa intensa movimentação faz com que o gasto com energia, que alimenta desde a iluminação geral até os freezers dos permissionários, atinja um custo mensal de cerca de R$ 578 mil, valor que é compartilhado entre a administração e os trabalhadores associados e pago à CPFL.
Todo o volume de pessoas e produtos presentes na Ceasa coloca a instituição em 7º lugar no ranking nacional de abastecimento, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A Ceasa possui uma receita anual que supera os R$ 2,5 bilhões e gera aproximadamente 30 mil empregos diretos e indiretos. Devido à intensa movimentação, os gastos com energia, que abrangem desde a iluminação até os freezers dos permissionários, chegam a R$ 578 mil mensais, sendo divididos entre a administração e os trabalhadores associados, e pagos à CPFL.
Visando reduzir essas despesas, o conselho administrativo da Ceasa decidiu, de forma inédita, abrir mão da energia fornecida pela concessionária. Essa mudança já resultou em uma economia de R$ 190 mil apenas no primeiro mês. O diretor técnico operacional da Ceasa, Claudinei Barbosa, ressalta que as mudanças na matriz energética foram cuidadosamente planejadas em etapas.
"O projeto é viável e altamente recomendado do ponto de vista da sustentabilidade. Estamos estudando modelos de negócios, como buscar financiamento ou uma parceria público-privada. A implantação de uma usina fotovoltaica envolve investimentos de aproximadamente R$ 40 milhões. Portanto, estamos avançando por etapas, mas esperamos concretizar tudo em até três anos", explica o diretor técnico operacional.
O plano adotado pela Ceasa é dinâmico. A primeira etapa, que já foi executada, permitirá maior rentabilidade, possibilitando o próximo passo.
MERCADO LIVRE
A Ceasa adotou o mercado livre de energia, que é o oposto do mercado regulado, permitindo contratos bilaterais com geradores ou comercializadores. Por ser uma empresa pública, a Ceasa realizou uma licitação para selecionar a empresa fornecedora de energia pelos próximos cinco anos, tendo a Kroma Comercializadora de Energia LTDA como vencedora.
O presidente da Ceasa, Valter Greve, destaca que a estimativa é economizar até R$ 10 milhões nos próximos cinco anos. Isso resultará em uma redução nos custos de energia, que representa 22% das despesas totais. Além disso, essa ação terá impacto na sustentabilidade econômica, energética e alimentícia, melhorando a qualidade e a disponibilidade dos produtos, bem como o abastecimento da Central como um todo.
O sistema de mercado livre também evitará a aplicação de bandeiras tarifárias e cobranças sazonais, comuns durante períodos de estiagem. O valor contratual se manterá inalterado nos próximos cinco anos.
MATRIZ
Até maio, 100% da energia consumida pela Ceasa era proveniente da rede concessionária da CPFL. Para lidar com situações adversas, a Central possui uma usina de geração por combustão, acionada quando há falta de energia na rede. O objetivo da administração é desativar ou transformar essa matriz também. A usina atualmente em operação tem a capacidade de manter a Central funcionando por 50 horas, porém, para isso, consome 15 mil litros de diesel, gerando emissões de carbono na atmosfera. Com a transição completa para o modelo fotovoltaico, a matriz energética funcionará de forma contínua, sem depender de uma fonte secundária emergencial.
Em caso de manutenção da usina, a intenção é fazê-la operar através da queima de resíduos orgânicos gerados. "Os produtos não vendidos, que em sua maioria estão em boas condições, são doados para o Instituto de Solidariedade para Programas de Alimentação (ISA), que os repassa para pessoas em situação de necessidade. Dessa forma, sobra uma quantidade mínima de resíduos, que será aproveitada para a geração de energia, promovendo assim mais duas frentes de sustentabilidade: geração de energia limpa e redução de resíduos", explica Greve.
Alexandre Bardin, presidente da Associação dos Permissionários da Ceasa (Assoceasa), destaca que essa mudança traz mais segurança aos negócios no mercado. A redução nos custos com energia elétrica beneficia especialmente os maiores consumidores, como aqueles que possuem câmaras frias e equipamentos para beneficiamento de frutas. Essa medida proporciona uma considerável redução de custos e traz alívio aos permissionários, uma vez que haverá uma maior estabilidade nos preços da energia consumida. A iniciativa foi bem recebida pelos permissionários e é motivo de comemoração, afirma Bardin.