CAMPINAS

Causa natural e homicídios explicam mortes nas ruas

Nos documentos apresentados, três causas foram relacionadas aos casos de homicídio, mas um deles não é considerado pela Prefeitura como sendo morador de rua

Gustavo Abdel
09/07/2015 às 05:00.
Atualizado em 23/04/2022 às 08:29
O álcool combustível, até então considerado um dos principais fatores dos óbitos, não foi detectado nas análises toxicológicas feitas pelo Instituto Médico Legal (IML) ( Dominique Torquato/ AAN)

O álcool combustível, até então considerado um dos principais fatores dos óbitos, não foi detectado nas análises toxicológicas feitas pelo Instituto Médico Legal (IML) ( Dominique Torquato/ AAN)

A Polícia Civil de Campinas divulgou na quarta-feira (8) o resultado de sete laudos das dez mortes de moradores em situação de rua registradas desde abril deste ano.  Nos documentos apresentados, três foram relacionadas aos casos de homicídio, mas um deles não é considerado pela Prefeitura como sendo morador de rua. Os demais, o delegado-titular do 1° Distrito Policial (DP) José Carlos Fernandes, informou que o álcool combustível, até então considerado um dos principais fatores dos óbitos, não foi detectado nas análises toxicológicas feitas pelo Instituto Médico Legal (IML).De acordo com a polícia, a partir de agora será instaurado inquérito para apurar a causa da morte de Luis Carlos Pedro Dias, de 62 anos, encontrado na Rua Barão de Jaguara no dia 4 de junho. O laudo apontou como causa do óbito traumatismo craniano, mas a polícia investiga se pode ser por queda ou crime. Esse caso será encaminhado para o 10° Distrito Policial, responsável pela área onde o corpo foi encontrado.Os laudos revelam que houve óbitos por infarto, hemorragia intracraniana não traumática e “causa indeterminada”. A primeira morte, ocorrida no dia 3 de abril, o laudo apontou para “causa indeterminada”. “Os exames toxicológicos e a dosagem alcoólica deram negativos. Também não houve sinais de violência, e o morador usava uma bolsa de colostomia”, explicou Fernandes. A vítima era Flávio Santos de Souza, de 37 anos, que foi encontrado na Rua Bernardo José Sampaio, no bairro Botafogo.A polícia aguarda agora os laudos das mortes relacionadas a Marcelo Bueno de Lima, de 42 anos conhecido como “Barbinha”, encontrado morto no dia 11 de junho em frente ao Terminal Metropolitano Prefeito Magalhães Teixeira, da vítima Oliveira Rodrigues, de 54 anos, encontrado na Avenida Benjamin Constant dia 17 de maio, e de Afrísio Pereira, de 61, o “Cotonete”, encontrado dia 15 do mês passado na Avenida Governador Pedro de Toledo.SuspeitoNa semana passada, policiais do Setor de Homicídio e Proteção a Pessoa (SHPP) de Campinas prenderam o suspeito de ter matado a tiros dois moradores em situação de rua no bairro Vila Itapura e Botafogo, nos dias 18 e 20 de junho respectivamente. Danilo Almeida Costa, de 27 anos, conhecido na região central como “Boy”, é apontado como autor dos disparos que mataram Ednaldo Alves dos Santos, de 38 anos, e Marcos Eugênio Martins Correa, de 28, conhecido como “Salsicha” — assassinado em um barracão em frente ao Serviço de Atendimento ao Migrante, Itinerante e Mendicante (Samim), no Botafogo.Porém, a polícia atribui um dos casos de homicídio colocado no relatório à morte de Luciano Barbosa, assassinado por um morador de rua no dia 1° de junho ao lado do terreno da antiga rodoviária. Luciano não era morador de rua. Sendo assim, dos casos que precisam de esclarecimento sobre a causa da morte está o do morador de aproximadamente 55 anos. Ele passou por cirurgia no Hospital Municipal Dr. Mário Gatti, mas não sobreviveu. Ele foi encontrado inconsciente, com muito sangue nos ouvidos e nariz, em uma calçada do bairro Vila Itapura, na metade do mês de junho. Ele foi o 10° morador com a morte contabilizado pela Prefeitura.A polícia também colocou no quadro de laudos Paulo João Tertuliano, de 34 anos, que morreu no dia 29 de junho na Rua Hilário Magro Junior, ao lado do Bosque dos Jequitibás. O laudo acusou infarto agudo do miocárdio, mas Paulo não constava, até então, na lista de óbitos da Prefeitura de Campinas. Com isso, o número de óbitos pode passar de 11, conforme já haviam declarado alguns profissionais de fóruns e entidades que trabalham diretamente com essa população.A polícia, no entanto, não deu previsão para a divulgação dos próximos laudos. Enquanto isso, essa semana o Conselho dos Direitos Humanos e da Cidadania de Campinas definiu duas principais frentes de trabalho que pretendem intensificar a discussão sobre a morte das pessoas em situação de rua. Uma delas será analisar junto ao Serviço de Verificação de Óbitos (SVO) como foram atestadas as mortes dos moradores nos últimos meses, como uma alternativa de análise enquanto os demais laudos não são divulgados. A outra medida será instituir dentro da Secretaria Municipal de Saúde um comitê que acompanhe esses óbitos, com a presença de especialistas.Relação de laudos divulgados pela Polícia Civil Dia 3 de abril - Flávio Santos de Souza, de 37 anos - Causa indeterminada (exames toxicológicos e a dosagem alcoólica deram negativos)Dia 17 de maio - Oliveira Rodrigues, de 54 anos - Aguarda laudoDia 29 de maio - Roberto Rodrigues, de 40 anos - Hemorragia intracraniana não traumática (morte natural)Dia 11 de junho - Marcelo Bueno de Lima, de 42 anos - Aguarda laudoDia 29 de junho - Paulo João Tertuliano, de 34 anos - Infarto agudo do miocárdioDia 4 de junho - Luis Carlos Pedro Dias, de 62 anos - Traumatismo craniano (inquérito aberto para apurar se pode ter sido homicídio)Dia 15 de junho - Anfrísio Pereira da Silva, de 61 anos - Aguarda laudo

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