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Catedral está vulnerável a acidentes

Maior patrimônio arquitetônico de Campinas, a Catedral Metropolitana corre o risco de ser atingida por um incêndio, como o ocorrido em Paris

Maria Teresa Costa
17/04/2019 às 11:13.
Atualizado em 04/04/2022 às 08:58

Maior patrimônio arquitetônico de Campinas, a Catedral Metropolitana corre o risco de ser atingida por um incêndio, como o ocorrido em Paris, na Catedral de Notre-Dame, e ter um importante acervo de arte barroca destruído. O templo não possui alvará de funcionamento, nem o auto de vistoria dos Bombeiros que atestaria a segurança da edificação, e o restauro, que incluía novo sistema elétrico e hidráulico, parou em 2016. Tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat) e pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc), a Catedral, construída em taipa de pilão, é uma referência histórica. Inaugurada em 1883, após 76 anos em obras, sua monumentalidade e excelência arquitetônica, presentes na talha do Mestre Vitorino dos Anjos e na elaboração dos vitrais, simbolizam a fase de grande desenvolvimento urbano vivido pela cidade ao longo do século 19, graças à economia cafeeira. A assessora jurídica da Catedral, Ana Carolina Pereira Lima, informou que estão sendo feitos estudos para a adequação das instalações às exigências do Corpo de Bombeiro, com base em resolução do Iphan do ano passado, editada após o incêndio que destruiu o Museu Nacional do Rio de Janeiro. “Estamos consultando empresas especializadas, na tentativa de implantar um projeto inédito no Brasil contra incêndio, com o uso de um produto chamado Novec 1230”, afirmou. Esse produto é um agente extintor líquido ideal em locais onde sprinklers podem danificar permanentemente os bens protegidos ou onde esta utilização não é satisfatória para a extinção completa das chamas. De acordo com Ana Carolina, os Bombeiros não têm estrutura para fazer uma proposta de adequação para a segurança da edificação, e por isso, a Catedral está trabalhando em um projeto autoral. “A maior parte das igrejas e museus só tem sistema de alarme e não de combate a incêndio. Nós estamos pesquisando melhores formas de combater”, afirmou. A falta de AVCB que garanta a existência de condição de segurança ao prédio e aos fiéis que frequentam o templo, disse, não é por falta de diligência perante as autoridades, porque elas não sabem o que propor para nós para a adequação, por isso estamos indo atrás desse projeto”, afirmou. Segundo ela, o poder público nunca disponibilizou recursos para projetos de segurança da Catedral. Como prédio tombado, seria possível obter recursos por meio do instrumento conhecido como transferência de potencial construtivo, mas segundo a advogada, isso não é possível porque a Catedral não tem o registro de matrícula do imóvel, documento necessário para comercializar o potencial construtivo. O documento que existe foi assinado pelo marechal Floriano Peixoto, primeiro presidente do Brasil republicano, em que a Catedral, um bem do Império, foi transferida para a Igreja, com a proclamação da República. Com o projeto de segurança contra incêndio, a Catedral sairá em busca de patrocinador. Houve tentativa de transferir uma verba de R$ 500 mil de emenda parlamentar destinada aos projetos de sonorização e luminotécnica no prédio para ser utilizada em projeto de reestruturação elétrica, mas, segundo a advogada, a Prefeitura não concordou e cancelou o convênio. Esse recurso viria do Ministério da Cultura, por uma emenda do então deputado Guilherme Campos ao orçamento da União. Como a Catedral não pode receber o recurso diretamente, foi necessário a participação da Prefeitura como proponente. O Correio não conseguiu contato com a Secretaria de Cultura para falar desse convênio. Obra de arte é rica em história e detalhes A Catedral de Campinas é uma obra de arte. Seus altares e ornamentos são ricos em detalhes, e representam importante exemplar brasileiro do estilo barroco/rococó, lapidado pelo baiano Vitoriano dos Anjos e Bernardino de Sena Reis e Almeida. O altar-mor, dedicado à Nossa Senhora da Conceição, demorou nove anos para ser esculpido. No projeto como um todo, incluindo as fachadas em estilo neoclássico, houve a participação de vários arquitetos, entre ele Francisco de Paula Ramos de Azevedo, que concluiu as obras. O projeto de restauro recuperou a fachada principal, mas as laterais e a fachada de trás aguardam recursos.

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